Biblos – Onde nasceu a moderna escrita

Há apenas alguns quilômetros de Beirute, fica a impressionante cidade de Biblos. Eu tenho certeza que alguns de vocês já ligaram o nome da cidade à palavra Bíblia e isso não é uma mera coincidência. Biblos é uma das cidades mais antigas do mundo, disputando o título com Damasco. Escavações arqueológicas comprovaram que a cidade foi fundada por volta do ano 5000 A.C. Em árabe a cidade se chama Gebal, que é seu antigo nome fenício, sendo chamada por nós ocidentais de Biblos devido a esse ter sido o nome que os gregos deram à cidade por ela ser um importante centro produtor de papiros egípcios (Bublos, em grego) e também pelo alfabeto grego ter sido inspirado no alfabeto fenício que, acredita-se, foi desenvolvido nessa cidade. O alfabeto fenício foi inspirado nos hieróglifos egípcios, aquela linguagem simbólica que vemos em filmes sobre faraós e coisas do tipo. A grande sacada que os fenícios tiveram, motivo do sucesso do seu alfabeto, foi a sua abstração dos símbolos do hieróglifo egípcio. Como assim? Bem, antes dos fenícios, todos os alfabetos existentes eram baseados em ideogramas (assim como ainda é hoje na China e no Japão). Se você quisesse dizer que um gavião pousou na sua casa, você “desenhava” um gavião e uma casa do lado e isso criava um significado. Isso podia deixar tudo mais fácil de entender, mas por outro lado, você tinha que decorar MILHARES de símbolos diferentes para poder ser alfabetizado. O que os fenícios fizeram? Bem, pegaram 26 símbolos diferentes, tiraram alguns traços, abstraíram e, bingo, criaram um alfabeto! Só pra vocês terem um ideia da genialidade disso, os alfabetos hebraico, grego, árabe e latino (os alfabetos mais utilizados no mundo) tem como base o alfabeto fenício. Além disso, o que faz ser tão difícil aprender chinês ou japonês não é nem a língua em si, mas ter que decorar milhares de ideogramas diferentes. A cidade também é um grande centro arqueológico pelo fato de várias civilizações terem conquistado a cidade e se apoderado dela devido ao seu ponto estratégico. Escrevendo assim não parece muito, mas cara, eu fui num centro lá que mais parecia um parque de diversões arqueológico. Em um local que eu seria capaz de chutar com não mais do que dois quilômetros quadrados era possível ver pilastras romanas, um castelo do tempo das cruzadas, ruínas de um castelo persa, um anfiteatro grego e construções de outras civilizações que eu não tinha tanto conhecimento. Isso tudo num espaço de alguns quilômetros quadrados, sempre bom repetir. Quer conhecer o mundo inteiro numa caminhada? Vá a Biblos!!Depois de um bom tempo caminhando e curtindo tudo o que Biblos tinha para oferecer, resolvi voltar para Beirute pra poder ver como iria fazer pra poder conseguir um busão pra Síria, pra depois seguir para Turquia novamente, pois meu voo para Eslovênia estava marcado pra uma semana depois. No caminho de volta resolvi parar pra poder comprar uma coca e ocorreu um dos momentos mais legais de toda a minha viagem de volta ao mundo. Um fato ocorrido que eu lembro com carinho até hoje quando lembro dessa história.Ao entrar no estabelecimento pra poder comprar o refrigerante, eu estava com um agasalho do Brasil nas costas. Assim que eu entrei, o balconista me perguntou se eu era brasileiro. Quando falei que sim, ele foi atrás do balcão e pegou a imagem de uma santa de cor negra e perguntou se eu sabia quem era. Respondi na lata que era Nossa Senhora Aparecida, a Santa Padroeira do Brasil e fiquei surpreso com o fato de ele ter uma imagem dela perdida no meio do Líbano. Ele me falou que era devoto da santa e que por isso tinha aquela imagem sempre no balcão. Além disso, ele me falou que a sua irmã estava bastante doente e que iria passar por uma cirurgia complicada em dois dias e ele estava com medo dela não conseguir sobreviver. Por isso, rezava todos os dias para Nossa Senhora Aparecida pedindo graças e que sua irmã fosse agraciada com a cura. Fiquei triste com a história que ele estava me contando, disse a ele que esperava que sua irmã melhorasse e que tivesse bastante fé naquilo que acreditava. Depois de um tempo conversando com ele, lembrei que eu tinha amarrado ao tornozelo algumas fitinhas coloridas de Nossa Senhora Aparecida e que eu ando com elas há mais de cinco anos. Achei que tinha alguma guardada na mochila e comecei a procurar pra poder dar de presente pra ele. Infelizmente eu não tinha mais e disse que não seria possível eu entregar pra ele uma nova como lembrança. Ele falou que não tinha problema e perguntou se seria possível eu tirar uma das que eu já havia amarrado na perna e dar para ele:
– Mas essas estão sujas e desgastadas, cara!
– Não há problema! Tudo bem!
– Ok – peguei uma faca, cortei a pulserinha e dei a ele
– MUITO OBRIGADO, AMIGO!! MUITO OBRIGADO MESMO!! Amanhã vou amarrá-la no braço da minha irmã doente e eu tenho certeza que ela vai se curar.
– Quanto é a coca mesmo?- Nada, filho! Nada, é de graça!! Pegue pra você!! Leve o que você quiser da minha loja. Nada pode pagar o favor que você está me fazendo. Cara, acho que lendo vocês não conseguem perceber o quão emocionante foi pra mim tudo o que ocorreu nesse curto espaço de tempo em uma lojinha que eu havia entrado apenas pra poder comprar uma coca-cola. Saí de lá me sentindo tão bem, sabe? Um gesto tão pequeno como esse, arrancar uma fitinha de algodão de alguns centavos do tornozelo e entregar pra um cidadão foi o suficiente pra eu ter certeza que ele nunca mais vai me esquecer. Foi muito legal mesmo…No final ainda cheguei a ver uma loja pegando fogo e uma pancada de jipe do exército pra ver o que havia ocorrido. Sabe como é, num país como aquele, qualquer fumacinha a galera já sai desesperada achando que foi ataque terrorista. E, ah sim, antes que vocês perguntem, eu só levei a coca-cola do bar dele, viu? Não aproveitei o estado emocional do figura pra encher a minha mochila de comida pra semana inteira não…
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6 comentários em “Biblos – Onde nasceu a moderna escrita

  1. Peraí, cade as preserpadas?
    Cade as estórias eletrizantes de uma galerinha do barulho, perdidos em terras estrangeiras, aprontando altas confusões?

    Você ao menos soube como ficou lá a irmã do comerciante?

    Abração fio.

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  2. Parabéns pelo seu blog, Claudiomar! Comecei a lê-lo em 2008 e parei. Mas este ano retomei e to VICIADA!!!!! kkk
    A leitura dele é a ansiada pausa nos estudos pra concurso que to fazendo. rs.
    Sucesso e sorte!!!

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  3. Acompanho seu blog desde inicio, leio tudo, sou viciado também. E lhe dou uma sugestão, vc escreve mt bem e deveria transformar isso em um livro. Tu ja leu o livro do Fred Mourão “Sai pra dar uma volta”? ele fez uma viagem parecida com a sua. Fique certo q eu comprarei o seu livro. srrs
    Abçs

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