Os grandes líderes da Coreia do Norte

Eu e meu amigo Kim Jong Il todo pimpão na foto

Vou pecar por ser previsível, mas sim, é impressionante a que ponto se chegou o culto a personalidade na Coréia do Norte. Lá não é como outros países que viajei como Síria, onde todo canto havia uma foto do seu ditador. Ao contrário da Síria, os “grandes líderes” parecem realmente fazer parte do cotidiano e vida de todos os norte-coreanos. Kim Il Sung, o primeiro Kim, foi o “fundador” da pátria coreana. Ele é o grande pai da Coréia e de longe o mais venerado dos três. Ele é considerado o presidente eterno e líder supremo.

Kim Il Sung, em uma de suas milhares de fotos em prédios do Governo

A Constituição da Coréia do Norte inclusive inicia-se citando que a Coréia do Norte é um país com um presidente eterno e que se baseia nos ensinamentos do líder supremo da Coréia, Kim Il Sung.

Os dois bonitões

Tecla PAUSE

Outra curiosidade da Constituição é que ela prevê, entre outras bizarrices, liberdade de expressão (no país com o pior índice de imprensa livre, segundo a organização Repórteres sem Fronteira), liberdade de culto (no pior país para um cristão viver, segundo organizações cristãs) e até, pasmem, direitos humanos (precisa-se de citação?). Tem até um excerto da Constituição, que, de tão bizarro, para mim é o preferido:
“Nosso Querido Líder Kim Jong-Il fez de nosso país um estado invencível em termos de ideologia política, um estado dotado de arma nuclear e uma potência militar indomável, abrindo assim um caminho para a construção de um país forte e próspero”
Sempre bom lembrar, a “invencível” Coréia do Norte é o país que mais recebe ajuda internacional no planeta.
Tecla PLAY
O seu filho, Kim Jong Il, segundo na escala sucessória do reino mágico de Kim Il Sung, também é venerado hoje, porém em menor escala. 

FILOSOFIA JUCHE – A IDEOLOGIA COMUNISTA DOS KIM

Como grande líder e venerado por todos, é lógico que Kim Il Sung teria que criar uma teoria própria. Marx não é nada comparado com ele. Ele chamou a sua nova filosofia de Juche, hoje a base de todo ensinamento da Coréia. Segundo a Wikipédia:
Mural com placas de diversos lugares do mundo onde existem grupos de estudo da ideia Juche. Sim, temos apoiadores estrangeiros da Coréia do Norte. Claro que eles não moram lá.
Sim, havia grupos de lusófonos.Só que ao que me parece é em Portugal
“A ideia Juche defende que o objetivo da revolução deve ser as massas e não qualquer poder externo, o que implica que a nação tenha confiança em si mesma como autarquia, num sentido lato. O ideólogo do Juche foi, essencialmente, Kim Il-Sung. Segundo os dirigentes norte-coreanos, a Ideia Juche não é apenas o marxismo-leninismo adaptado à realidade coreana, mas sim uma nova ideologia, superior ao próprio marxismo. Em suas memórias Kim II-Sung diz que durante a luta revolucionária “sua doutrina”, “seu credo” foi o chamado “iminwichon”, que significa considerar o povo como o centro de tudo.”
Um dos monumentos mais famosos de Pyongyang. A tocha, representando a ideia Juche “iluminando” a humanidade. Foi de cima dessa torre que tirei as fotos aéreas de Pyongyang do post passado
Remodelação do símbolo clássico do comunismo. Foice, Martelo e no meio a Tocha, representando os intelectuais. Vamos lá. Todo mundo tira foto imitando monumentos, não sou só eu.
Como o próprio texto acima explica, o ego de Kim Il Sung era tão elevado que ele adaptou o símbolo do comunismo e adicionou um novo componente no já martelo (representando os operários) e foice (agricultores). Adicionou uma pequena tocha para representar os intelectuais que também contribuem para a construção de uma nova sociedade. E sim, essa tocha brilha tanto que até existe um “Partido Juche” na França, quem quiser se filiar, é só visitar o site http://www.parti-juche.org/.
Eu não disse que tinha mais gente imitando?
Esse lugar é chamado de algo como a Escola do Povo. Repare que ele é meio curvado para dentro, como se estivesse abraçando as pessoas, no caso as crianças.

Outro ponto a ser destacado é que a ideia Juche propõe a autossuficiência e a colocar o povo como o objetivo em si. As palavras que Kim Il Sung mais gostava de falar eram “O povo é minha vida!”. Vários lugares em Pyongyang tem nome do povo no meio “Biblioteca do Povo” e coisas assim.

Por todo lado é possível ver o “povo” marchando aparentemente sem motivo algum. Quando estávamos por lá, milhares e milhares de crianças ensaiavam exaustivamente sob sol e chuva, literalmente, para mais uma demonstração de algo aleatório. Isso demonstra o quanto eles gostam do povo por lá.

Todos os dias em que passeamos por Pyongyang havia pessoas ensaiando alguma apresentação diferente
Faça chuva

Ou faça sol

O guia me perguntou se eu havia lido algo sobre essa filosofia mequetrefe antes de ir para a Coréia. Como vi que ele realmente parecia feliz em me perguntar isso e ficaria bem feliz em saber que eu tivesse lido, eu disse que sim, havia lido, mas não lembrava muito bem. Ele só respondeu “É impressionante, né?”. Fiquei meio sem jeito e falei que sim.
Depois ele veio me explicar mais algum dos pilares da filosofia Juche que dizia que para mudar o país, você precisa mudar a si mesmo “você deve ser o mestre do seu destino”. Que com a filosofia revolucionária passada eles não iriam “libertar a Coréia” (jargão que eles repetem de dez em dez minutos), era necessária uma nova filosofia, sendo a Juche um dos principais motivos da vitória deles sobre o Japão (sim, eles realmente acreditam que venceram a guerra contra o Japão).
Na boa, na hora deu vontade de rir, mas como queria voltar para casa com meu pescoço no lugar me limitei a dizer “nossa, que impressionante!”. Era realmente impressionante ouvir isso de um cidadão de um país onde seus habitantes em média medem 10 cm a menos de altura do que seus vizinhos (Coréia do Sul) que dividem códigos genéticos semelhantes. Isso, lógico, devido a má-alimentação (quando há). Pelo menos na Coréia do Norte dificilmente alguém era mais alto que eu (Sweeettt…).
Diferença de tamanho entre o guia e nossos amigos europeus =)

Ele disse que aprendeu sobre a filosofia Juche na universidade, pois quando está na escola, aprende apenas superficialmente o que é essa filosofia.

“…detalhes tão pequenos em vocêêê…”
        Retratos de Kim Jong Il e, lógico, de Kim Il Sung estão em todos, TODOS, os lugares da Coréia do Norte. Em todos os lugares que íamos havia estátuas e representações deles. Vamos numa fazenda? Tem uma estátua de bronze deles carregando foices ou arados e o povo ao redor.
Vamos em uma fábrica? Ele carregando um martelo e operários ao redor.
Vamos ao boliche? Fotos de quando ele visitou o boliche e por aí vai.

E dentro do boliche, claro, letreiro apoiando a Revolução Juche
E antes de entrar no lugar, lógico, todo mundo fica em linha e curva-se para poder reverencia-lo.
Inclusive a gente

Há também desde o clichê, como outdoors e fotos em prédios públicos, até o mais extremo, dentro de TODAS as casas da Coréia do Norte e no peito de quase todos coreanos.

Sim, pelo menos os lugares que podemos visitar e pelo que pudemos perguntar aos guias, todos os norte-coreanos possuem dentro dos seus apartamentos dois retratos, um de Kim Jong Il e outro de Kim Il Sung. E o retrato tem uma particularidade. A base da moldura é mais estreita que o topo, o que deixa o quadro levemente para baixo e dá a sensação que o quadro lhe olha de cima para baixo.
Faz tudo certinho que titio Kim tá te olhando

Sim, o bagulho é doido! Bem, nada mais justo, afinal, o apartamento que você mora (e parece que TODOS moram em apartamentos em Pyongyang, não vi casas na capital a não ser embaixadas) é “doado” para você pelo Estado (leia Kim Il Sung). Doado é forma de falar, já que você não pode vende-lo ou aluga-lo. Você também não pode simplesmente mudar de apartamento. Você mora com seus pais e teoricamente quanto maior a sua família, maior o apartamento que você recebe. Se você mora com os pais, não pode simplesmente se mudar para morar sozinho, tem que aplicar para um apartamento do governo. Caso não haja disponíveis, continua morando no mesmo apartamento. E se você se casar? Bem, se tiver disponível, você muda para o novo, senão ou muda-se para a casa dos pais do noivo ou dos pais da noiva. Lógico, com os dois retratos na parede lhe observando. E se eu quiser mudar de cidade? É impossível quem é de fora vir para cá, a não ser que seja convidado pelo governo e ganhe um apartamento novo, pois ninguém vive nas ruas. Cidadãos de Pyongyang inclusive tem carteiras de identidade próprios, mostrando que são residentes de lá.

Vai uma placenta de ovelha aí? Pra que serve? Brother, não tenho a mínima ideia, mas se vendia em farmácias! E você reclamando do chá de boldo que sua mãe lhe preparava

Outro fator é que quase todos os coreanos carregam no peito um broche com a bandeira vermelha e as fotos de Kim Il Sung ou Kim Jong Il juntos ou separados. Perguntei ao guia e ele me falou que eles ganham esses broches aos 14 anos, quando iniciam algo como a quinta série, como prova de que são cidadãos conscientes e por isso podem caminhar com o retrato dos grandes líderes. Perguntei onde eu poderia comprar um igual para mim e ele falou que você não pode compra-lo e, como você deve merecê-lo, pouquíssimos estrangeiros tem essa “honra” de obter um para si. Por coincidência quando estávamos lá, pude ver um europeu com um no peito e o guia me explicou que ele era algo como presidente do centro de estudos europeus da Ideia Juche.

Todo mundo de broche
Só achei interessante essa marca de chapéu. “Ronaldinho”Eu não sabia que Ronaldinho Gaúcho tinha fábrica de chapéu na Coréia do Norte
Reparem no broche
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3 comentários em “Os grandes líderes da Coreia do Norte

  1. No filme “O ditador” tem uma homenagem ao nosso querido Kim Jong Il.

    Tem muitas lendas em cima do nascimento dele, coisa de arco-irís, inventou o hambuguer e é um grande esportista.

    Dizem que ele era viciado em conhaque sendo maior consumidor de um conaque e adora files americanos. O cara é louco.

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