Mergulhando com fiscais ambientais – o outro lado

Eu e Dudu, amigo de Brasília e companheiro dessa viagem, fomos mergulhar um dia e acabamos no mesmo barco com alguns dos temidos servidores de um órgão de fiscalização ambiental.
Eles estavam lá para fazer a parte boa do trabalho, mergulhar para medir corais e contar peixes a fim de montar bancos estatísticos. Engana-se quem acha que aquilo era o que eles mais faziam. Falavam-me meio tristes que deviam fazer bem mais, mas como tem poucos servidores no órgão, acaba que a parte mais difícil e chata do trabalho é que acaba ocupando a maior parte do tempo. E que trabalho é esse? Bem tomar conta do meio ambiente na ilha. Ah, mas eles ficam colhendo flores e abraçando árvores? Não, fiscalizando mesmo! De olho se ninguém está fazendo nada de errado na ilha, como pescando em lugar proibido ou caçando. Algum deles chegam até a trabalhar armados e possuem poder de polícia. Lembrou-me as vezes quando a gente andava na praia e via láááá em cima do morro os fiscais ou policiais militares monitorando o pessoal nas praias.
Trabalhar regulando a liberdade das pessoas é algo que ninguém gosta, ainda mais em uma ilha com população tão pequena, onde todos se conhecem. Hoje você pode estar tomando uma no bar com um Noronhense gente boa para caramba e no outro dia pode estar levando ele preso por ter pescado lagosta ou outro animal protegido. Disse que apesar de alguns Noronhenses entenderem que aquele era um trabalho que tinha de ser feito, era bem desconfortável trabalhar lá, pois eles eram servidores apenas 40 horas por semana, nas outras horas eles queriam viver como qualquer outro cidadão normal. Porém não era tão fácil, haja vista que, bem, nenhum Noronhense (ou ser humano) fica super de boa quando leva uma multa de um mês de salário por fazer algo que não julga errado, como pescar um peixe que pescou por décadas de sua vida.
Ele nos dizia que tinha uma ação até legal onde eles limitavam áreas da ilha onde se podia pescar enquanto outros lugares eram proibidos. Dessa forma, mantinha-se a reprodução dos peixes e assim os Noronhenses terão sempre de onde tirar seu sustento (nem todo mundo vive de turismo, vários nativos vivem da pesca, que dizem dar um bom dinheiro).
O outro servidor me dizia que o trabalho de fiscalização era importante porque a ilha tinha muito mais gente do que ela suportava. Com 6.000 habitantes hoje, a ilha já estava quase entrando em colapso. Ele parecia fazer aquele perfil mais ambientalista maluco Greenpeace. Daqueles que vê alguém derrubando uma árvore em Noronha e sai falando na imprensa que estão desmatando a ilha inteira, por isso nem levei muito a sério o que ele falou. Ficava lembrando das palavras do taxista: – A gente sempre caçou e pescou e Noronha nunca se acabou…
Depois fui checar as informações e, segundo o IBGE, Noronha tem uma população de 2930 habitantes. Continua sendo um número grande para uma ilha oceânica com tão pouca disponibilidade de água potável, porém é metade do que ele falou, né?
Sede do governo pernambucano em Noronha. Ou “a máfia”, segundo os nativos
Vestígios da prisão que existia em Fernando de Noronha
Eu e Dudu, meu parceiro de viagem

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