Belfast, Irlanda do Norte – a capital europeia com guetos até os dias de hoje e a guerra entre católicos e protestantes

Para ir de Dublin para Belfast não é tão difícil. As duas cidades ficam a menos de 200km um das outras. Achei um serviço de bate e volta de Dublin e segui viagem.
Mais uma vez, não existe nenhum tipo de controle entre um país e outro, você vai em uma rodovia e de repente está na Irlanda do Norte.
Chegando em Belfast contratamos um serviço que já é famoso por lá. São uns taxistas que te levam aos bairros católicos e protestantes da cidade. Para quem não entende direito, resumindo, apesar da ilha da Irlanda (sim, a Irlanda é uma ilha com dois “países” nela, a Irlanda que a gente conhece e a Irlanda do Norte, parte do Reino Unido) ser em sua maioria composta por habitantes descendentes de irlandeses (católicos), a Irlanda do Norte é ocupada em sua maioria por descendentes de ingleses ou simpatizantes da Inglaterra (que são protestante anglicanos). Após um quebra pau danado, a maior parte da ilha (o sul e o centro) ficou independente do Reino Unido (criando o país da Irlanda), mas grande parte da região norte da ilha preferiu ficar com o Reino Unido e aí começaram os problemas.
A minoritária parte irlandesa de Belfast (católicos) queria se juntar ao recém-criado país da Irlanda, mas a maioria da população descendente de colonos ingleses queria continuar como estava, até mesmo por temer o que poderia acontecer com eles caso eles se juntassem à Irlanda (assim eles deixaram de ser maioria na Irlanda do Norte para serem minoria na Irlanda) e então o circo estava armado.
Houve tratativas de um lado e do outro, mas a coisa logo desbancou para a pancadaria. Os ingleses (protestantes), em maioria na parte norte da ilha, gentilmente sugeriam aos irlandeses (católicos) que fossem embora. Obviamente desciam uma camaçada de pau nos irlandeses que, mais uma vez, eram minorias. A situação foi tão saindo do controle que quem era protestante/inglês achou por bem mudar para um bairro de maioria inglesa e quem era irlandês/católico fazia o mesmo e logo começaram a surgir bairros protestantes e bairros católicos. Os católicos temendo os protestantes começaram a murar os seus bairros criando verdadeiros guetos que existem até hoje. Sim, existe hoje um muro “da paz” de quase seis metros de altura (“big walls make better neighbours”, ou “paredes altas fazem bons vizinhos” dizia meu taxista) circundando os bairros católicos no melhor estilo idade média. E a situação é tensa. Dá sete horas da noite o portão fecha e ninguém entra, ninguém sai. Para ter acesso ao bairro católico você tem que entrar pelo centro da cidade (zona considerada “neutra”) onde há um buraco no muro para isso.

Fotos do muro e das grades


Quando você vai nos bairros católicos e também aos protestantes tem as famosas pinturas nas paredes que exaltam feitos e acontecimentos ingleses (bairro protestante) e irlandeses (bairro católico). Hoje em dia eles são mais de boa, mas até um tempo atrás eles eram bem agressivos, exaltando massacres de ambos os lados. Outra coisa interessante é que não importa o bairro, católico ou protestante, as casas são todas iguais.

Só sei que depois de 1998 houve um acordo de paz e hoje a cidade de Belfast pode ser cruzada de cabo a rabo sem problemas. Pelos relatos que a gente ouvia teoricamente isso não era possível antes do acordo de paz. Um ônibus como o que eu havia viajado de Dublin, todo verde e com bandeiras da Irlanda, nunca poderia trafegar livremente por Belfast. Segundo o meu guia, se isso ocorresse em algum momento ele seria parado e todo mundo seria executado. Eu achei que ele deu uma exagerada, mas quem sou eu para duvidar.
Risada mesmo eu só dei quando os taxistas falavam para a gente não pisar na grama das casas porque, devido a guerra, eles misturavam pólvora na comida dos cachorros, então quando alguém pisava BUM, voava pelos ares. Foi bobinho, mas eu ri.

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