Há muito tempo atrás, vi uma dessas análises de internet onde se analisava a América do Sul comparando cada país com um personagem do Chaves. Lembro que comparava-se o Godines ao Suriname, pois, segundo essa comparação, ele aparecia tão pouco na América do Sul que quase ninguém lembrava que ele existia. Confesso que comecei a nutrir uma certa curiosidade por lá então.
Resolvi viajar para lá esse começo de Janeiro e já emendar com Trinidad e Tobago, Granada, Barbados e Guiana, já que é tudo um do lado do outro. Comprei minha passagem para Belém, de Belém para Paramaribo, de Paramaribo para Trindad e Tobago…
Meu plano era chegar em Belém por volta das duas e ficar na sala VIP do aeroporto que tem algumas poltronas reclináveis e lugar para tomar banho. As cinco da manhã meu voo saía para o Suriname. Só alegria, tudo certo para o plano.
Até aparecer o porém…
Estadia forçada em Belém
Confesso que fiquei impressionado quando fiz as contas e vi que fazia quase 20 anos que eu não vinha a Belém, apesar de ser uma capital tão próxima de São Luís.
Cheguei em Belém e quando estava indo para a sala VIP do aeroporto pensei: “pombas, essa mochila está muito pesada, talvez fosse uma boa eu ver se conseguiria despachar a minha mochila logo”. Fui ao guichê da Surinam Airways perguntar com quanto tempo de antecedência eu poderia despachar a minha mochila e tenho a minha grata surpresa. Quando chego no guichê, me é avisado que houve um problema no aeroporto de Caiena (onde eu iria fazer uma escala) e devido a isso nosso voo ia atrasar pelo menos cinco horas. Como eu soube? Eles me ligaram? Apesar de terem todos os meus dados, telefone, e-mail etc, não ligaram. Se tivesse seguido direto para Sala VIP só quando fosse despachar minha mala as duas da manhã que eu ia saber que meu voo partiria por volta das dez do outro dia.
Tentei ver se recebia alguma compensação por esse breve atraso de cinco horas, um hotel, um táxi para o hotel, um abraço de boa sorte, alguma coisa, porém foi tudo em vão. Tive que dar o meu jeito e arrumar um lugar para dormir em Belém.
Couchsurfers locais de Belém me passaram um bizú do Hotel Amazônico onde eu poderia me hospedar em um quarto privativo, com ar-condicionado, a 50 reais. Sei lá, parecia barato demais, mas como o Ibis próximo era quatro vezes o preço, resolvi arriscar acordar em uma banheira de gelo sem os rins.
Dos limões, saindo a limonada
Peguei o ônibus e fui em direção a este albergue/hotel que me passaram o bizú e o cobrador foi até gente boa me mostrando onde eu iria descer. Desci e fiquei esperando encontrar um lugar mais ou menos como o
quarto assombrado de Fiji. Quando cheguei, pô, o quartinho até que era legal, valia demais o preço que eu havia pagado por ele. Ainda por cima era no centro de Belém.
Cheguei, joguei minhas coisas no quarto e resolvi procurar algum lugar para poder alguma coisa, pois já eram rodados quatro da tarde e tudo que eu tinha no bucho era o café da manhã.
Saí andando e a menina do albergue me indicou um restaurante aqui perto. Cheguei, a comida tava um pouco mofada e resolvi continuar andando.
Lááááááá ao longe vi que tinha uma feira, então resolvi descer para lá porque feira é lugar sempre onde tem comida. Ao chegar e ver os gringos me toquei que estava chegando meio que sem querer no famoso
Mercado Ver-o-Peso de Belém. Imaginei que seria aquela coisa turística, mas se é turístico, sempre tem comida, ainda que cara.
Rapaz, quando eu cheguei…
Bicho, o Mercado Ver-o-Peso é um mercado mesmo, do jeito que deve ser. Tudo sujo e com aquela mistura de galera. Rapaz, tinham gringos, brasileiros, brancos, negros, machões, viados, mendigos, velhos, crianças, caras de muleta, pedintes, gordos, fidumaéguas, cornos, gordos fidumaéguas e cornos, paidéguas… o que você imaginar. Uma placa pedindo que as pessoas não mijassem no rio e um somzação com aquela bagaceira comendo. Não teve outra, era lá que eu queria ficar. Mas bicho, parecia mais um sonho.
Puxei um banco de plástico, pedi uma cerveja e fiquei tomando na beira do rio com aquela bagaceira comendo solta. Gente, que lugar lindo.
Quando já estava na minha segunda cerveja, lembrei que havia ido ao Mercado procurando algo para comer e perguntei para a tia o que tinha:
– Olha, aqui de acompanhamento é só farofa e vinagrete, não tem arroz!
– É bom que faço só o
Chibé e não gasto espaço do bucho com arroz.
– Pois então tem em um peixe aqui que é 20 reais a posta e 25 reais ele em isca.
– Uai, tia, qual é a diferença dos dois?
– É que um eu te sirvo cortado e outro você tem que cortar! – respondeu com aquela cara de “mais você é idiota?”
– Pois me traga o de 20 que eu mesmo corto aqui!
Fiquei esperando e pensando que, pombas, 20 reais é um prato de comida em Brasília em um lugar levemente arrumado e não em um lugar daquele onde do meu lado tinha uns bêbados mijando na placa que pedia para ninguém mijar no rio. Mas enfim, tava com fome e ainda por cima ia ser peixe com Chibé!
Fiquei lá tomando aquela cerveja naquele calor de lascar e escutando o brega que tava tocando.
Quando a mulher falou que ia me trazer o peixe, rapaz, sem brincadeira, só faltou trazer no carrinho de mão! Bicho, era uma porção de peixe gigantesca! Depois que a tia foi me falar que aquela era uma porção para duas pessoas (!!!). Não tem jeito, comigo comida não estraga e lá fui eu comer o meu peixe! Que peixe bom danado! E por vinte reais!
Quando terminei de comer o peixe, passou uma daquelas bicicletinhas vendendo cd, com o som no talo e tocando Pablo e foi todo mundo tocado pela sofrência!
Rapaz, a quem estiver lendo isso aqui. Quando eu morrer cavem um buraco no meio do Mercado Ver-o-Peso e me enterrem lá dentro! Quero para sempre viver no meio daquela Patuscada!
Quer receber as atualizações direto no seu e-mail? Cadastre-se na nossa mala direta clicando na caixa “Quero Receber” na direita do blog