Palácio Al Jadi e o Sebastianismo – Onde as histórias do Maranhão e do Marrocos se cruzam

Havia vários palácios para serem visitados em Marrakesh, mas nenhum entre eles me foi tão especial quanto o Al Badi.
Ali, as histórias do Maranhão e do Marrocos se misturaram.
O palácio de Al Badi (o incomparável em árabe) foi construído para comemorar a vitória dos árabes na batalha de Alcácer-Quibir ou batalha dos três reis. Um rei marroquino, deposto por outro apoiado pelos turcos, pediu apoio a Portugal. Devido a fatores como interesse comercial, proximidade geográfica, apoio do reino a ataques de piratas a embarcações portuguesas e, principalmente, devido ao fervor religioso, Dom Sebastião, rei de Portugal, resolveu entrar nessa empreitada. Empolgado com as sucessivas vitórias dos portugueses contra os árabes na Península Ibérica, resolveu partir para uma aventura e combater os árabes no Norte da África.
Portugal levou uma pêia que acabou por dizimar o exército português e grande parte de sua nobreza. Dom Sebastião “desapareceu” durante esta batalha e nunca mais foi encontrado. O problema foi que ele não havia deixado herdeiros e, em uma movimentação orquestrada com a nobreza de Portugal, o rei da Espanha reivindicou o trono português e Portugal foi unificado com a Espanha. Isso foi bom para o Brasil, pois, com essa fusão, não havia mais sentido em respeitar o Tratado de Tordesilhas o que acabou por contribuir para a expansão do Brasil rumo a oeste.
Os portugueses inicialmente não acreditaram que Dom Sebastião havia sido morto no combate. Acreditaram que ele só tinha fugido. Isso deu origem a uma crença conhecida como Sebastianismo, onde os portugueses acreditavam que Dom Sebastião a qualquer momento iria voltar para salvar Portugal da dominação espanhola e também para ajudar todos os pobres sofredores daquele reino. A questão é que ele nunca voltou e essa crença perdura até hoje. Para vocês terem uma ideia, Antônio Conselheiro acreditava que Dom Sebastião iria retornar dos mortos para restaurar a Monarquia no Brasil.
E onde entra o Maranhão nessa história? Bem, entre as diversas vilas que existem hoje nos Lençóis Maranhenses está uma com alta concentração de albinos. Sim, albinos! Aquela galera que não tem melanina na pele e é branca demais. É um mistério como eles chegaram e se estabeleceram lá, haja vista que os Lençóis Maranhenses são o pior tipo de ambiente possível para eles viverem. Lá é extremamente ensolarado e eles não tem defesa na pele contra o sol pois são… albinos. Mas o mais curioso dos albinos dos Lençóis Maranhenses, na verdade de grande parte das pessoas que moram nessa região, é que eles são Sebastianistas. Jovens e adultos celebram a presença abstrata do Rei Sebastião, o protetor das terras, mares e areias de Lençóis. Lá é tido como um pai para os nativos e até aparece para eles, montado em um cavalo, na praia ou nas dunas, e um dia voltará de vez para socorrê-los, emergindo, debaixo das dunas e areias dos Lençóis Maranhenses, o seu castelo. É um mistério também porque eles são Sebastianistas, mas acredita-se que isso se deve ao Padre Antônio Vieira que em suas pregações, propunha que o Maranhão seria o lugar mais provável para a volta de Dom Sebastião.
E foi lá onde a história do Marrocos se cruzou com a história do Maranhão.
O palácio foi uma das maiores construções do seu tempo e foi construído em grande parte com os vultosos resgastes pagos para trazer de volta o que restou da nobreza portuguesa. Com o fim da dinastia saadiana, vencedora desta batalha, o rei da nova dinastia, alauita, decretou Méknes como capital e utilizou azulejos e outros materiais deste palácio para construir outro na nova capital. Assim, deixou o Al Badi à míngua para não dar crédito a glórias alheias
A história do palácio de Al Badi serve para demonstrar que a mania dos políticos brasileiros de não continuar obras de seus antecessores (para não dar créditos a eles) é algo bem mais antigo do que muita gente imagina.
Quartos para os embaixadores

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