Assim que descemos no posto, começamos, loucamente, a tentar conseguir de qualquer maneira uma carona em direção à Praga. Estava começando a escurecer, o que nos preocupava cada mais pois, afinal, estávamos no começo do inverno europeu e a temperatura a noite facilmente chega nos dez, oito graus. Já era umas cinco da tarde e o friozão começou a surgir. Boto fé que devia estar por volta de uns quinze graus o que pode não ser tão frio assim, mas em um ambiente de vento contínuo, duas pessoas sem agasalhos e em exposição ao ambiente (uma vez que não ficávamos dentro da loja de conveniência pra poder pedir carona, mas sim do lado de fora esperando os carros pararem) podia fazer lá seus estragos. Começamos a ficar já sem esperanças, pois anoitecia e nada de conseguirmos um carro pra poder nos levar. Como parecia que nada ia sair dali, fomos a um hotel que pertencia ao posto e que era próximo de onde estávamos pra podermos checar se havia possibilidade de ficarmos hospedados lá por uma noite e pela manhã tentaríamos ter mais sorte. Diária? 100 Euros! É, parece que ou a gente conseguia uma carona ou íamos dormir na rua mesmo.
Voltamos para as bombas de gasolina e continuamos implorando (sim, o verbo certo era implorar mesmo! Nessa hora a ideia de viajar de carona não parecia mais tão divertida assim) para que alguém nos levasse. Até que um carro com uma mãe e sua filha adolescente parou para abastecer e Gosia perguntou se tinha como elas nos darem uma carona, nem que fosse pra cidade mais próxima para ficarmos em um albergue. A mulher não falava inglês, mas conseguimos nos comunicar com a sua filha. Explicamos nossa situação e sua mãe falou que tinha uma ideia melhor. Ela iria nos levar a outro posto de gasolina já que aquele que estávamos, segundo ela, era muito ruim pra pegar carona, pois o fluxo de caminhões era muito baixo e o posto era meio que um desvio da rodovia. Ela nos disse que iria nos levar a um outro posto, esse sim na rodovia, que lá era melhor para tentar conseguir algo. Entramos no carro e seguimos adiante. Uns quinze minutos depois elas nos deixaram lá e, não obstante, a mãe nos deu o celular dela dizendo que era pra ligarmos pra ela caso não conseguíssemos carona alguma. Pra que iríamos ligar? Bem, ela disse que se não conseguíssemos sair dali, ela iria nos buscar no posto, nos levar pra casa dela para lá passarmos uma noite e no outro dia de manhã poderíamos tentar a sorte. Resumindo, a mulher era UM ANJO!! Ela não só nos deu uma força, como se dispôs a recolher dois transeuntes no meio da rua e levar pra dentro da casa dela. Quase um amigo do Eion de saias (leia a história aqui). Perguntamos porque ela estava sendo tão gentil com a gente (cara, confesso seriamente que fiquei com medo dela levar meus rins) e ela explicou que cresceu na Alemanha Oriental e viajar de carona era a única maneira que ela tinha como viajar nos tempos da Cortina de Ferro. Devido a isso, sempre costumava ajudar mochileiros perdidos pela Alemanha.
Casa do Snoop
Elas nos deixaram no outro posto e seguiram viagem. Umas palavras de conforto e um encontro agradável como aquele que acabávamos de ter era tudo o que precisávamos para poder aumentar a moral da tropa. Ninguém dá carona pra quem chega com um semblante triste na face. Após descer do carro dela, eu e Gosia fomos na febre em cima dos motoristas pra ver se conseguíamos sair logo dali. Mas cara, foi rápido dessa vez. A tiazona realmente tinha razão. Gosia abordou um caminhoneiro, falando em inglês, e ele fez uma cara de que não entendia patavinas do que ela falava. Ele meio que falou gesticulou que não falava inglês. Nós meio que perguntamos de que país ele era e ele meio que respondeu que era da Polônia. Felicidade geral! O cara era polaco!!
Gosia se empolgou e começou a falar com ele em polaco e perguntou se o cara poderia dar uma carona pra gente pra Praga. Ele ficou meio que chateado e falou que não era possível, já que, olha só, ele estava indo direto pra Varsóvia!! AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHH!!! Não brinca, amigo!! Falamos pra ele que na verdade queríamos mesmo era ir pra Varsóvia, que Praga apenas estava no caminho. Ele falou que tudo bem e nos enfiou dentro do caminhão dele! Felicidade nível 5!!
O cara parecia ser gente boa, mas não falava inglês. Gosia meio que conversava um pouco com ele e depois conversava comigo. Ele vendo que eu tava meio entediado, perguntou se eu não queria beber algo e VLAPT! puxou uma gaveta de baixo do meu assento. O que surgiu?? Dezenas, MUITAS latas de cerveja geladas!! O cara tinha uma gaveta refrigerada dentro da boleia do caminhão dele!!! Algo como uma mini geladeira! Gosia falou que não queria beber. O cara falou que não tinha problema e VLAPT! puxou outra gaveta e de lá tirou um queijo francês. Eu comecei a ficar impressionado com o tanto de coisa que tinha naquela boleia, cara! Parecia até a casa de cachorro do Snoop (pra quem não lembra do desenho animado. A casa do Snoop por fora parecia minúscula, mas quando ele entrava a casa o interior da casa era gigantesco! Parecia uma mansão! Coisa de desenho animado)! Eu perguntei pra ele se ele tinha mais alguma uma surpresa escondida por lá e o bicho VLAPT! puxou uma cortina que estava atrás dos nossos bancos. O que surgiu? Uma grade de cerveja? Não!! Uma BELICHE!! O cara tinha uma BELICHE dentro da boleia do caminhão dele!! Pô depois de uma beliche o que eu comecei a procurar? Lógico! Perguntei pra ele se ele teria dentro do caminhão um chuveiro quente pra eu tomar um banho. E só servia se fosse quente! Gosia traduziu e ele falou que infelizmente não tinha, mas se eu quisesse outra cerveja, não havia problema!
Gosia segurando uma das latinhas de cerveja que ele nos deu (repare que a latinha é de uns 500 ml) e o caminhoneiro segurando a sua gavetinha refrigerada mágica! |
Fomos conversando e viajando até que eu e Gosia resolvemos pedir pra ele nos deixar em Wroclaw, cidade polonesa no caminho que já havíamos sido hospedados. Po, dormir numa boleia de caminhão não parecia ser uma coisa muito agradável. Ele falou que tudo bem e nos largou por la. Ligamos pro couchsurfer que havia nos hospedado antes e ele falou que poderia nos hospedar mais uma noite sem problema. Dormimos por lá e no outro dia pegamos carona pra Varsóvia com um tiozão num carro bem rápido.
Chegávamos a Varsóvia, acabando por vez minhas viagens e estripulias com Gosia. Era hora de se preparar pra poder continuar caminho e viajar para Istambul na Turquia.