Marcamos de nos encontrar na academia do instrutor e deu até um certo trabalho para chegar lá. Quando enfim cheguei, levei um bolo. Cheguei no meio de uma aula e fui recebido pelos alunos que me disseram que o instrutor não estava lá, que teve um pequeno problema e não pôde participar. Detalhe que eu tinha confirmado algumas horas antes com o instrutor e ele disse que tava tudo bem de eu ir lá. Se houve problema mesmo, não sei, porque até hoje ele não me disse nada, não me falou o que ocorreu.
Bem, uma pena, era uma oportunidade dele divulgar o trabalho dele. De qualquer forma bati uma foto da frente da academia ao menos para servir de registro que no Chipre também tem Capoeira apesar dele ter furado comigo de forma tão deselegante e não profissional.
A principal atração do Chipre são suas praias de azul mediterrâneo cristalino. Porém, como eu tinha pouco tempo, acabei ficando só por Nicósia, que é no meio da ilha e não tem praias. A principal atração de Nicósia é passear por suas ruas medievais e o muro partindo a capital ao meio.
O muro é bem interessante. Você vai andando pela cidade e sabendo das diversas histórias, como a da Igreja grega que acabou sendo cortada ao meio e os seus fundos dão para a parte turca, sendo nunca mais abertos desde então.
A Igreja faz celebrações normalmente, só não abre o portão dos fundos!Como as partes próximas aos muros acabaram por ser mais abandonadas, hoje conservam as construções mais próximas do que era o Chipre anos atrás. Continuar lendo “Perambulando pelo Chipre”→
Hoje o Chipre faz parte da União Europeia e, portanto, não é necessário visto para nós brasileiros.
Para entrar no Chipre, só tive problema mesmo quando os caras viram que eu estava vindo do Irã e resolveram fazer uma geral na minha mochila. Rapaz, mas desenrolaram até as minhas cuecas. Literalmente. Devem ter imaginado que eu estava carregando plutônio do Irã, só pode!
Existem diversos voos conectando a ilha à Europa e Ásia. Eu peguei um voo de Teerã para o Chipre com apenas uma escala em Atenas.
QUESTÃO TURCA NA UNIÃO EUROPEIA
Com a entrada do Chipre na União Europeia, a entrada da Turquia ficou mais complicada, pois o bloco tem umas regras bobas do tipo “não pode estar ocupando a casa de nenhum coleguinha do bloco” e é exatamente o que a Turquia está fazendo no norte do Chipre, por mais que alegue estar apenas protegendo os turcos cipriotas.
Algumas negociações de paz foram levadas em frente e o Kofi Annan, ex-Secretário-Geral da ONU, chegou a elaborar propostas de unificação novamente da ilha. Foi realizado um referendo e a parte turca do Norte aprovou massivamente a unificação. O porém foi a parte grega do Sul que rejeitou massivamente.
A visão que os gregos cipriotas parecem ter dos turcos cipriotas é o de invasores mesmo, já que eles alegam que o Chipre sempre foi dos gregos desde os primórdios e os turcos invadiram nos últimos 400 anos. Parece ser um consenso que os gregos cipriotas também querem paz, desde que os turcos possam ir embora. Assim, pela letra fria é fácil chamar alguém de invasor e só querer que você saia, mas quem invadiu a ilha não foram os turcos que hoje moram lá e que hoje vivem sem nem terem a ideia do que é a Turquia. É algo como mais ou menos você alegar que todos os descendentes de turcos e libaneses não são brasileiros, são invasores, e querer mandar metade da cidade de São Paulo de volta para o Oriente Médio (até o Temer, que é filho de libaneses. Olha aí galera do “Fora Temer”, é uma em?). É lógico que isso não faz sentido.
Porém, os gregos cipriotas realmente veem a questão do Norte como uma ocupação e isso fica claro nos museus. Você vai lendo e lá vai dizendo “Metade das peças estão nesse museu e a outra metade voltará para a Igreja original assim que a ocupação terminar e o Chipre se tornar livre novamente” ou então “esta igreja era assim, assim, assim, até o momento em que os turcos começaram a saquear tudo para venderem na Europa” como se saques e excessos não tivessem ocorrido de ambos os lados. Eles chamam a parte grega de território livre e o Norte de território ocupado.
Essa empresa é massa!
Muro que antes protegia Nicósia de invasões estrangeiras. Foi erguido pelos Venezianos 500 anos atrás
Bem, uma coisa é certa. O Irã é longe que é danado! O caminho de ida foi longo e o de volta seria tão tortuoso quanto. Pensei, bem, de tentar fazer essa volta um pouco menos complicada. Comecei a traçar uns trajetos e vi que daria para ir do Irã para o Chipre com apenas uma escala em Atenas. Depois, dava para pegar um voo direto de lá para Romênia, depois um voo direto da Romênia para Barcelona, dormia uma noite por lá e depois seguiria de volta para Brasília.
E assim eu cheguei ao Chipre.
Tudo o que eu conhecia do Chipre era que era uma ilha próxima à Turquia, tinha um nome bacana (era quase como “chifre”) e só.Mas não, lá tem coisa interessante sim! Tem a questão do muro!
A gente sempre escutou falar do Muro de Berlim, um muro que foi construído do dia para a noite e dividiu a capital e principal cidade da Alemanha ao meio por décadas. Acaba que ninguém lembra que no Chipre tem um muro exatamente da mesma forma. Na capital, Nicósia, um muro separa a parte grega cipriota da parte turca cipriota.
Explico.
Os gregos foram os primeiros a colonizar a ilha do Chipre. Apesar do comando da ilha ter trocado de mãos entre os diversos povos europeus, os gregos sempre foram maioria na ilha. Até que, em 1570, os turcos otomanos conquistaram a ilha e, obviamente, começaram a colonizá-la também. Depois de quase 300 anos, os ingleses tomaram o Chipre dos otomanos e os cipriotas começaram a lutar pela anexação da ilha à Grécia (queriam ser mais ou menos como a ilha de Creta, que também é uma ilha bem grande do Mediterrâneo e hoje pertence a Grécia).
A Inglaterra não queria abrir mão tão facilmente de um território tão estratégico e o pau começou a comer. Depois de um tempo. Os ingleses foram embora.
Ficou de boa? Então, não! Os Cipriotas descendentes de gregos acreditavam ser os únicos donos da ilha inteira e pensaram que não seria uma má ideia se eles se livrassem dos turcos cipriotas. Daí começaram as escaramuças. Os gregos, em maior número, começaram a massacrar os turcos, que começaram a fugir de suas casas e pedir ajuda a quem podiam. Daí pediram ajuda do irmão mais velho. No caso, os turcos da Turquia.
A Turquia invadiu o norte da ilha, de maioria turca cipriota, e a anexou a seu território. Aí foi a vez dos gregos cipriotas que moravam na parte Norte fugirem para a parte sul temendo represálias dos turcos. Bala daqui, bala de lá, ninguém conseguiu tomar Nicósia, a capital da ilha, que acabou sendo dividida ao meio. Literalmente. Hoje, o muro separa a parte Norte de Nicósia, turca, da parte Sul, grega. Depois de alguns anos, o Chipre do Norte decretou independência, que só é reconhecida pela Turquia. O aeroporto de Nicósia acabou que não ficou com ninguém ficou dentro do muro, no meio da terra de ninguém.
Hoje é possível passar de um lado para outro de Nicosia tranquilamente. Eles só checam o seu passaporte e é tranquilo.
E assim temos de pé o único muro existente separando uma capital do mundo.