O Levante do Gueto de Varsóvia e o Levante de Varsóvia – Polônia

Nada de muito novo ocorreu depois que voltei, pela terceira vez, para Varsóvia. Reencontro com os velhos amigos, mais algumas idas ao café do Toni e algumas andanças pela cidade.
Acabei indo também ao fantástico museu do Levante de Varsóvia, um dos mais bem equipados e interessantes museus que pude comparecer em toda a minha viagem. Tema que escreverei neste post porque acho que é uma história que nunca deve ser esquecida.

O que foi o Levante de Varsóvia? Bem, durante a Segunda Guerra Mundial, a Polônia acabou sendo atacada pelos dois lados e foi esmagada pelas duas maiores potências militares da época: A União Soviética e a Alemanha Nazista. É daí que vem a expressão “corredor polonês” que consiste em uma pessoa indefesa ter que sair correndo entre duas filas, recebendo ataque dos dois lados e levando porrada pra todo lado. Os poloneses na Segunda Guerra Mundial meio que se sentiram assim durante a invasão dos dois maiores exércitos assassinos da história, os nazistas e os stalinistas. O final já era esperado, em menos de três semanas o mundo estupefato assistia ao desaparecimento de um dos maiores países da Europa. Eu falo assim a galera parece que não se liga direito do que é você tomar um país do tamanho de São Paulo em apenas três semanas, mas só a título de comparação, os EUA levaram quase seis meses pra expulsar as tropas de Saddam Hussein do Kuwait durante a guerra do Golfo. Isso porque eles tinham uma coalização de 29 países (entre eles Inglaterra, França…) por detrás. SEIS MESES pra tomar de volta um país que se duvidar é menor do que o Estado de Alagoas.

Após esse verdadeiro massacre sofrido pelas tropas polonesas, os nazistas amontoaram judeus poloneses em guetos. Amontoar é mesmo o nome certo, já que quase 400.000 judeus poloneses foram transferidos pra um bairro da cidade de Varsóvia para morrerem lentamente de fome, frio e doenças. Mais uma vez, só para ilustrar, 30% da população foi transferida pra menos de 2,4% do território da cidade de Varsóvia. A ração a que cada judeu tinha direito dentro do gueto supria menos de 200 kcal diárias o que é menos do que 10% do necessário para o corpo humano se manter vivo. Para evitar fugas, os alemães ergueram verdadeiras muralhas ao redor do gueto, colocaram arame farpado e ostensiva vigilância o que tornava quase impossível escapar do gueto.

Judeus tentando escapar do gueto
Desesperados, os judeus iam morrendo lentamente, mas sem nunca a população do gueto diminuir de forma drástica, já que judeus de todas as partes da Europa eram trazidos para o gueto o que sempre o tornava super-lotado.

Depois de algum tempo morrendo como moscas eles perceberam que não teriam chances e que mais cedo ou mais tarde a morte seria o fim de todas as pessoas que estavam dentro daquele inferno. Então, já que iriam morrer mesmo eles pensaram: – Bem, até que não seria uma má ideia se ao invés de morrermos de fome, nós levássemos uns alemães com a gente. E dessa maneira, armados de tudo que eles poderiam carregar os judeus decidiram sair no pau no melhor estilo “o que é um peido pra quem já tá cagado? Bem, o resultado vocês podem imaginar o que foi, né? Imagine você armado com escorredor de macarrão, panela de barro e umas colheres de madeira lutando contra soldados com coletes a prova de bala e armas automáticas? O fim não deveria ser outro. Do lado dos alemães eles perderam menos de 50 soldados contra mais de 50.000 judeus que foram mortos ou transferidos pra campos de concentração. Bem, se você olhar pelo lado dos números, parece que não adiantou de nada, mas deixando a frieza da matemática de lado, imagine o simbolismo que o levante teve para os poloneses e para os judeus que pelo menos morreram lutando. Além disso, houve a tremenda dor de cabeça para os alemães de ter que retirar tropas do front para poder conter a revolta e, o mais importante, o aumento da moral dos poloneses e dos judeus em geral após isso.

Castelo Real Polonês. Foi totalmente destruído após a Segunda Guerra Mundial e levou mais de vinte anos para ser reconstruído
Após a revolta do Gueto de Varsóvia, foi a vez dos poloneses realizarem um ainda mais brutal. Sabendo que o fim da guerra estava próximo e que as tropas russas estavam a alguns quilômetros das possessões da cidade, a resistência polonesa se empolgou e viu que aquela era a hora para poder dar o troco nos alemães. Mal-armados, mas com a moral elevada e esperando contar com o apoio do Exército Vermelho, os poloneses saíram metendo bala nos alemães que, apesar de bem armados, já se encontravam com a moral abalada.
Interior do museu
Os alemães viram o inferno nascer do dia para a noite. Sem entender o que estava acontecendo e acostumados com a calmaria de apenas patrulhar uma cidade dominada e longe do front de guerra, os alemães se viram no meio de uma cilada. Homens, mulheres, velhos surgiam de todos os lados e de todos os buracos armados com submetralhadoras, granadas e o que mais haviam conseguido contrabandear. Os poloneses metiam bala do jeito que dava nos alemães como quem diziam: – Tá ruim agora? Espera só os nossos amigos soviéticos chegarem pra vocês verem o que é o pau comendo. E assim foi durante alguns dias enquanto cada vez mais as tropas soviéticas se aproximavam da cidade.
Placas com nomes de pessoas mortas durante o Levante
Até que a meros 10 quilômetros de Varsóvia, o Exército Vermelho simplesmente parou! Parou de marchar e ficou assistindo a desesperada revolta polonesa. Ninguém entendeu nada. Eles simplesmente pararam e não avançaram mais nenhum passo. Os poloneses se desesperaram. Percebendo que os soviéticos pareciam que não interviriam no levante, os alemães saíram da defensiva e desceram o cacete nos poloneses que não puderam fazer nada a não ser continuar sua desesperada guerrilha urbana contra os alemães. Como Direitos Humanos não eram lá a maior preocupação de Hitler, de Berlim veio a ordem de demolir cada centímetro de Varsóvia. Casa por casa, engenheiros alemães iam demolindo e tacando fogo com lança-chamas. Nos planos de Hitler, Varsóvia deveria simplesmente desaparecer, ornando-se apenas um entreposto militar ou, quem sabe, um lago.
Esta imagem aqui não tem nada a ver com a história não. Só coloquei uma foto dos Lençóis
Maranhenses pra galera relaxar um pouco e sair desse tema de “Guerra, guerra, guerra” 🙂
Estima-se que 85% da cidade viraram escombros, com especial atenção à destruição de monumentos históricos e de grande simbolismo para os poloneses, como tumbas de grandes heróis nacionais, o Parlamento Polonês, sua Biblioteca Nacional, seu Museu Nacional entre outros. Em 1945 não havia sequer uma ponte ainda de pé. Água corrente e eletricidade? Claro que não. Viver na cidade em 1945 era como viver em uma vila medieval na Alta Idade Média.
Depois que os alemães esmagaram a revolta e transformaram a cidade inteira em pó, o Exército Vermelho enfim marchou sobre Varsóvia e massacrou os alemães “libertando” assim a cidade. Só após alguns anos que se obteve conhecimento que a ordem para as tropas pararem de marchar e esperarem o fim do levante para só assim lutarem contra os alemães partiu diretamente de Stálin. Por quê? Bem, se o Exército Vermelho cooperasse com a revolta, eles teriam apenas um papel de coadjuvantes, algo como o papel que os americanos reservam aos franceses na sua luta da independência quando se não fossem pelos franceses, os EUA nunca teriam vencido a guerra contra os ingleses. Além de terem o papel de coadjuvantes, os poloneses sairiam mais fortes e dificilmente aceitariam ser um reles estado-satélite dos russos como foram de 1945 a 1991. Mesmo que os soviéticos quisessem impor um governo fantoche na Polônia eles teriam que enfrentar uma tropa polonesa bem armada e de moral elevada, esmagá-los e só assim colocar o fantoche que quisessem para governar a Polônia. Foi muito mais fácil deixar os alemães fazerem esse “serviço”. Fechou certinho: Os alemães mataram tudo o que havia de um remanescente exército polaco, os poloneses mataram uma pancada de alemães e pros russos sobrou só o serviço mais fácil que foi o de lutar contra os alemães que restaram e ainda saíram pagando de “libertadores” da Polônia.
Relógio que Stálin deu “de presente” para os poloneses após “libertar” os poloneses. Ele seria algo como uma “Estátua da Liberdade russa”. Logicamente é um dos monumentos mais odiados pelos poloneses em geral.
Bem, o final todo mundo já conhece. A Polônia ao invés de conquistar a sua tão sonhada liberdade, amargou durante mais de cinquenta anos um dos mais sanguinários regimes da história da humanidade, que foi o comunismo russo. Tanto é que se você perguntar pra qualquer polonês há quantos anos faz que a Polônia é independente, ele vai responder:
– Há 18 anos. Estamos independentes desde 1991.
Figura pintada numa das paredes do museu
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Wroclaw



Wroclaw é a terceira maior cidade da Polônia e possui uma arquitetura e um clima singulares.

Como expliquei, fomos visitá-la porque estávamos a caminho da República Tcheca onde ocorreria o encontro do Couchsurfing.org e que estávamos doidos pra ir. Fomos hospedados por Tomasz, um polonês que estudava marketing na universidade local (Wroclaw é uma cidade com grande número de universidades).

Tomasz, nosso host em Wroclaw. Ele lembra um amigo nosso do Havaí, não?

O interessante acerca de Wroclaw é que ela detém uma história peculiar, bem ao estilo “cidade da Europa Central” com todo aquele “samba do criolo doido” que são aquelas cidades que ora pertencem a um país, ora a outro. A cidade já pertenceu aos arcaicos estados tchecos, austríacos, alemães (inclusive há grande número de pessoas provenientes da etnia germânica na cidade) e hoje, finalmente, ela faz parte da Polônia.

A cidade foi incorporada depois do impressionante “deslocamento de território” que a Polônia experimentou após a Segunda Guerra Mundial. Sim, cara, não tou brincando não! A Polônia foi MOVIDA após o fim da Segunda Guerra. Eu nunca tinha visto isso na história! Já vi países se formarem, serem extintos, se fundirem ou deixarem de existir, agora, um país se MOVER, foi a primeira vez que eu vi na vida. Pessoas mudam de casa, mas países é um pouquinho mais difícil…

Isso ocorreu porque após a guerra a Rússia anexou grande parte da região oriental da Polônia pra si e a Polônia, como não é besta, anexou parte da região oriental da Alemanha se “deslocando” alguns quilômetros pra direita assim como pode ser visto nas figuras abaixo.

Polônia antes da guerra.

Polônia após a guerra.

Territórios perdidos e conquistados pela Polônia após a guerra só pra vocês compararem. As áreas cinzas a Polônia perdeu da Rússia e as rosas os poloneses pegaram da Alemanha.

Wroclaw entrou nessa “movimentação”. Ela fazia parte da Alemanha e inclusive foi o berço de um dos maiores heróis alemães, Manfred von Richthofen, o lendário “Barão Vermelho” (favor não confundir com a lendária brasileira “Suzane von Richthofen”, que matava também, mas que, mais pragmática, matava com barras de ferros bem mais baratas e que exigiam bem menos perícia) e também de outro famoso alemão ganhador do prêmio Nobel de Física, Max Born.

Push me… and then just touch me… so i can get my… satisfaction

Não há muito do que eu falar acerca da minha estada em Wroclaw. Chegamos eu e Gosia pela tarde, nos encontramos com Tomasz, demos uma volta pela cidade e voltamos pra casa.

Tomasz e Gosia assim que chegamos à cidade

Em casa eu apenas preparei um macarrão, tomamos umas cervejas e fomos dormir. No outro dia acordamos cedo e fomos pedir carona em direção à Praga.

O único fato que merece destaque é que em todas as viagens que fiz com Gosia, Wroclaw foi o único lugar em que conseguimos dormir em uma cama de casal. Por todos os outros lugares dormimos apenas em sofás, colchões no chão, em cima de toalhas, no carpete etc. Pra falar a verdade, foi a primeira vez em que eu dormi em uma cama propriamente dita desde a minha hospedagem na casa de Avinash na Índia.

“Where is the Polish girl”? Onde está a Polonesa?

Já tinha até me esquecido como é que era dormir que nem gente. Vou te dizer que até achei estranho. Após um mês dormindo no chão, quando você dorme em cima de uma cama a mais ou menos 30 cm de altura parece até que você tá é flutuando…


Ah, zoa não, todo mundo tem uma foto dessas, fala aí!

Após a Letônia, era chegada a hora de voltar para Polônia…

Obs: Galera, desculpem pelo texto sem acentos, mas tou postando da biblioteca aqui da UnB e o pc ta sem, nao sei por que!! Mermao, voces nao imaginam a batalha que ta sendo pra poder postar. A internet ainda e’ lenta que so tartaruga. Desculpem pelas poucas fotos, mas a situacao aqui ta brava!

Juntei meus trapos, peguei o meu busao e mais uma vez estava de volta a terras polonesas. Nao digo que voltava para casa que estava porque foi um baile danado pra poder conseguir entrar no apartamento novamente. Cheguei na Polônia por volta de nove da manha, horario que minha host ja havia saído para o trabalho. Resultado? Claudiomar o dia inteiro do lado de fora de casa com uma chuva miserável ainda pra poder ajudar.

Enfim, pelo menos estava de volta a Polonia e sem saber o que me esperava em menos de um semana…

Pe na estrada novamente…

Situacao recorrente comigo na Polonia

Uma noite depois de eu ter voltado a Varsovia, ocorreu um encontro do couchsurfing. Uma galera compareceu e foi bem da hora. Gosia estava la e quando me viu ja foi me contando as novidades. Iria ocorrer, em uma semana, o encontro continental do Couchsurfing.org em Praga, capital da Republica Tcheca. Mais de trezentas pessoas de todos os lugares do planeta ja estavam confirmadas para esse encontro e, logicamente, nao iriamos ficar de fora.

A melhor parte nao era o encontro em si, mas sim como iriamos. Ganha um doce quem pensou que a gente ia chegar la de carona. Segue o dialogo:

  • Mas Gosia, como e’ que a gente vai, algum plano?

  • Uai, ja tenho tudo planejado. Vamos eu, voce, o Toni e a namorada dele. O Toni ta querendo ir no carro dele, mas eu estou o pressionando para que possamos ir de carona! Viajar de carro e’ muito chato!

Mermao, quando eu dizia que essa mina era doida de pedra, voces nao tinham nocao, ne? Brother, nao e’ que iriamos apenas de carona, mas a mina tava PRESSIONANDO um cara que queria ir de carro a deixar o carro em casa e ir de carona com a gente!! Mas enfim, a ideia de ter um indiano com um turbante na cabeca, pedindo carona no meio de uma auto-estrada era algo que me atraia. Imagina a presepada?

O plano era dividir em duas duplas: Eu e Gosia X Toni e sua namorada…

  • Cara, voce nao e’ muito certa mesmo, ne? Po, o cara quer ir de carro e voce nao deixa? Enfim, quantos km da daqui ate Praga?

  • Uns 600 km…

  • Ah, entao e’ perto, ne?

  • Perto, ce ta louco?? Voce sabe o que sao 600 km?? 600 km ja e’ outro pais!!! Outro pais!!! Isso porque a Polonia e’ um dos maiores paises da Europa!

  • Uai, de onde eu venho e’ so outro estado. E mesmo assim quando voce cruza a fronteira dos dois, ganha como um brinde um passeio por Teresina. E’ por essas e outras que longe pra mim comeca com 1200 km, que era a distancia que dava entre a minha casa e a casa do meu avo na Paraiba… Isso porque o meu estado e’ apenas o sexto maior do Brasil…

No final acabou que o Toni desistiu de ir, ficando so eu e Gosia para enfrentarmos 600 km de estrada e, ainda por cima, pedindo carona! Combinamos certinho e menos de uma semana depois marcamos de, mais uma vez, nos encontrarmos na saida da cidade para poder seguirmos caminho, mais uma vez mais uma louca semana estava apenas por comecar. “Vida louca, vida, vida breve, ja que eu nao posso te levar, quero que voce me leve…”

O plano

Wroclaw, Polonia

Acabamos nao chegando a um consenso, eu e Gosia, se 600 km era perto ou longe, mas uma coisa foi consensual, 600 km e’ uma distancia um tanto quanto grande para poder fazer em apenas um dia de carona. Como nao estavamos desesperados pra chegar e queriamos apenas curtir a viagem, Gosia resolveu repartir a viagem em duas. Iriamos parar numa cidade no meio do caminho: Wroclaw (pronuncia-se Vrotisuavi. Bem parecido com a escrita, ne? Pois e! Demorou uma semana pra eu poder conseguir falar o nome certo, juro!), terceira maior cidade da Polonia e centro de uma das maiores universidades. Dormiriamos la na casa de um couchsurfer que ela ja havia arrumado pra poder hospedar a gente e, no dia seguinte, seguiriamos caminho para Praga. Plano perfeito, pois seguiriamos de carona, nao precisariamos sair numa jornada exaustiva, conheceriamos uns couchsurfers novos e, de quebra, eu ainda conheceria uma outra cidade polonesa, a quarta ja no repertorio!

Wroclaw, Polonia

Quatro dias depois, como combinado, mochilas nas costas, encontro na estacao de trem e pe na estrada em direcao a uma viagem que eu nao sabia quantas surpresas me aguardavam…

Pelas quebradas da Polônia

Antes de começar a escrever acerca da minha viagem posterior à Lituânia, decidi que seria importante escrever sobre alguns figuras que conheci pela Polônia e que marcaram a minha passada por Varsóvia. Além dos já citados Mário e Gosia, acho que tem duas pessoas que preciso escrever sobre.

Reinaldo

Reinaldo foi um brasileiro do Couchsurfing.org que conheci pouco depois de ter chegado a Varsóvia. Ele é oficial de chancelaria, trabalhava na embaixada brasileira na Polônia e foi lotado em Varsóvia assim que eu cheguei por lá.

Antes de eu viajar, nos cruzamos algumas vezes aqui por Brasília em encontros do Couchsurfing.org, mas não chegamos a ser amigos como fomos pela Polônia. O bicho era o meu companheiro inseparável de presepadas, saídas e pau pra toda obra! O que eu achava mais engraçado no figura era que com que ele não tinha meia-hora, era dar um toque no celular dele, chamar pra ir pra um lugar que na mesma hora o cara tava lá, nem perguntava quem ia ou algo do tipo.

Me salvou de várias, como as diversas vezes em que a Karol me trancou do lado de fora da casa e eu ia acabar dormindo no apartamento dele. Ou então quando deixei algumas coisas na Polônia pra buscar depois e não tive como voltar. Acabou que o Reinaldo trouxe algumas das minhas mochilas, mas essa história eu vou contar detalhadamente quando estiver escrevendo sobre a Espanha!

Reinaldo também foi responsável por eu não desaprender a falar português, haja vista que foi o primeiro brother que fiz depois que saí dos Estados Unidos…

Toni Walia

Outro grande, mas GRANDE figura que conheci pela Polônia chamava-se Toni Walia! Toni Walia tinha cara de indiano, nasceu Cingapura, mas parecia mais um sheik do Oriente Médio. Era um Sikh, religião que vou explicar um pouco mais posteriormente quando voltar a escrever sobre o Norte da Índia. Como o próprio estereótipo dos Sikhs já pregava, o cara era gente boa DEMAIS!!

O conheci quando ainda viajava pela Índia em um encontro do Couchsurfing.org em Deli quando nos reunimos para almoçar. Ficamos amigos e combinamos de nos encontrar em Varsóvia quando eu disse que ia viajar para lá posteriormente.

Ao chegar a Varsóvia, descobri que o cara era um dos mais importantes militantes do Couchsurfing.org em caráter mundial e também o segundo maior colaborador do Hospitality Club (o primeiro programa de intercâmbio de hospedagens do mundo que depois foi copiado pelo Couchsurfing.org). Ele tinha um restaurante indiano onde por várias vezes nos encontrávamos antes de sair para as baladas na Polônia.



Galera no restaurante de Toni Walia antes de ir para balada…



Era engraçado demais sair com aquele cara. Imagina aquela cena, você tá numa balada, cercado de polacas fogosas por todos os cantos e, de repente, surge um cara barbudo, com cara de indiano e com um turbante IMENSO na cabeça! Parece até que saído de um filme iraniano ou coisa parecida. Era muito engraçado como ele contrastava com as outras pessoas! Além de tudo ele não bebia nada! Ia pra balada e só tomava suco de laranja.

Toni Walia e Gosia



Das várias histórias que ele contava, uma das que eu mais ri foi quando ele contou a história de uma referência negativa que uma menina deixara para um cara que ela hospedara alguns dias atrás.

Tecla PAUSE

Pra quem não tá muito ligado o que são referências do Couchsurfing.org, elas são um dos pilares do programa e também um dos mais importantes aliados na segurança do site. Como funciona? Eu fico hospedado na sua casa, quando vou embora, deixo uma referência pra você: Fulano foi gente boa, me hospedou na casa dele, é um cara gente boa e blá blá blá. Fulano que me hospedou também deixa uma pra mim: Claudiomar é um cara legal, ficou aqui na minha casa, não fez nada de errado e blá blá blá… Mais ou menos no esquema daquele site da internet “Mercado Livre”. Quanto mais referências você tem, mais você é confiável e mais fácil é para conseguir ser hospedado.

Tecla PLAY

Ele falou que tava dando uma passeada pelos perfis da galera de Varsóvia quando se deparou com uma referência negativa no perfil de uma menina. Como referências negativas são difíceis de ocorrer, ele resolveu dar uma parada pra ler. Quando ele viu a referência que a menina deixou pro cara, ele quase não acreditou. Diz ele que a referência dizia assim:

He is a good guy. I got him in the airport and we came to my home. We made sex. I’m leaving him a negative reference because he woke me up to early!

Traduzindo: – Ele é um cara legal. Eu o busquei no aeroporto e viemos para minha casa. Nós transamos. Eu estou deixando uma referência negativa apenas porque ele me acordou muito cedo!!!

Toni Walia, Kirin Bhala (outro Sikh gente boa demais), Reinaldo e mais alguns amigos na balada em Varsóvia…



Mermão!! Diga aí!! Eu ri demais quando ouvi essa história!! É ter noção demais das coisas, né? A mina não só deixa no perfil dela que ela transou com o cara como ainda por cima deixou uma referência negativa por que o cara:

1 – Envenenou o cachorro dela?

2 – Pegou o namorado dela?

3 – Urinou o sanitário inteiro quando ia ao banheiro?

4 – Esquartejou seus familiares?

5 – Não baixou a tampa do vaso quando usou o banheiro (nossa, essa é a mais grave de todas, diga aí, meninas?)

Não, que nada, tudo isso são banalidades. O que pega mesmo é criar um ódio MORTAL de um cara porque ele comete a audácia de ACORDÁ-LA MUITO CEDO. Engraçado demais… Isso claro, com TODAS as pessoas do Couchsurfing.org tendo acesso e podendo ler. Noção é para os fracos.

Se na minha primeira semana eu não sabia como a minha noite ia começar, só sabia como ela ia terminar, nas outras foi o contrário: Não sabíamos como a nossa noite ia terminar, mas sabíamos que ela iria começar com toda a galera do Couchsurfing.org se encontrando no restaurante do Toni Walia e depois caindo pra esbórnia.



Geral em outro dia no restaurante do Toni antes de ir pra balada…



Bons tempos…

E tudo continuará pior


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Eu, Mário e algumas das polonesas que estavam com a gente…
Só sei que depois dessa nossa primeira balada, já eram rodados quatro horas da manhã na fria Varsóvia e nós sem a mínima vontade de ir para casa. Começamos a andar pra cima e pra baixo procurando algum outro local onde pudéssemos ir. Procuramos, procuramos e nada de conseguirmos achar algum lugar que estivesse aberto. Depois de muito refletirmos sobre o único lugar que a uma hora daquelas nos “acolheria” alguém veio com uma ideia fenomenal:
– Rapaz, eu sei de um lugar que uma hora dessas tá aberto. Eu só não sei se as meninas vão se sentir muito a vontade…
Hum… lugar… final de balada… aberto numa quarta-feira de madrugada… Que lugar seria? Um shopping? Um barzinho mais underground? Uma balada que ficava até mais tarde? Não, não eram nenhum daqueles. Aquilo parecia que não iria acabar tão bem… Enfim, depois de alguns minutos tentando descobrir o local onde queriam nos levar, resolvi perguntar pro figura pra ter certeza que, por mais que eu temesse, fosse o que eu estava pensando.
Uma bandeira brasileira jazia no topo de uma das baladas que fomos…

Sim, era mesmo o que eu e você estávamos pensando! Um local, como dizia um amigo meu, “repleto de mulher e cerveja”. Ou, pra ficar melhor, uma música dos Velhas Virgens:
“A noite é boa é sexta-feira
Mas hoje eu não vou dançar
Não vou atrás das dondoquinhas, tão bonitinhas, mas frescas de mais
Muito contato e pouco papo, eu to afim de muita ação.
Eu quero beijos,beijos de corpo
Eu tenho grana bebida e tesão
Nós tamos indo pra zona
Nós tamos no maior porre
Antes do dia clarear esta cidade vai pegar fogo!”


Sim, era isso mesmo! Pro mais íntimos, um inferninho. De início eu não empolguei muito com a ideia não. Não por que eu não goste de polacas fogosas ou algo assim, mas sim porque não sou muito fã deste tipo de ambiente e a experiência, digamos, desagradável, da Tailândia ainda estava na minha cabeça…(link da história aqui)
Mas enfim, depois de um tempo vendo que não tínhamos uma ideia melhor, essa seria a menos pior. Faltava só a gente convencer as meninas. Logicamente eu não faria esse servicinho sujo. Eu fiquei até imaginando a situação, eu chegando pra mina assim do nada e falando pra ela:
– Então, achamos um lugar massa pra irmos. O único problema é que lá a maioria das garçonetes costumam, digamos, ficar sem as roupas…
Er… Não, definitivamente não era pra mim. Acabamos, por consenso, delegando tal tarefa para o Mário, que, dentre outros motivos, parecia ser o mais sem-vergonha de todos nós. O figura aceitou de prontidão e até se empolgou! Partiu para o ataque como quem sente cheiro de gol!!
As meninas tavam sentadas no carro enquanto a gente conversava isso tudo. Depois de delegarmos a função para o Mário, o figura só foi lá, mandou um papo de dez minutos e voltou. E blá blá blá daqui, blá blá blá de lá e a gente só observando ele tentando convencer as polacas. Cara, eu te juro que eu não sei o que aconteceu, só sei que, não é que deu certo, deu MUITO certo!! Cara, as minas ficaram empolgadas DEMAIS. Ixi, mas elas ficaram logo foi loucas pra ir pra parada!! Eu juro que eu não sei o que esse cara falou pra elas, mas as minas ficaram mais na pilha de ir à parada do que a gente!! Eu fiquei até espantado com o poder de persuasão do menino!! Crise nuclear na Coréia do Norte que nada!! Manda o Mário pra lá que ele resolve!! Eu hein…
Entramos num carro e perguntamos onde poderíamos achar um lugar daqueles. ELAS falaram que conheciam um local e que iam nos levar lá (quando eu disse que as minas piraram, eu falava sério). Chegamos ao local e realmente era o que procurávamos. Uma entrada discreta, coberta por um toldo e com algumas luzes vermelhas iluminando… Começamos a conversar com o segurança, em inglês, quanto era pra gente poder entrar. O cara falou que o preço do ambiente era 40 dólares por cabeça. Éguas! Caro demais! Segue o diálogo:
– Quarenta conto, cara?? Isso tá muito caro!!
– Desculpe, mas é o preço…
– Tá, é quarenta pra homem e quanto é o preço pra mulher?
– Ãhn? Como assim o preço pra mulher??
– Sim, mulher é metade do preço, né?
– O que o quer dizer com isso, senhor?
– Peraí…
Chamamos as minas e elas vieram do carro e começaram a falar em polonês com o segurança! Hahaha, tinha que ver a cara do segurança se perguntando algo do tipo: Diaboéisso? Enfim, elas ficaram lá barganhando e a gente só esperando ver o que saía. Cara, vocês tão pensando o mesmo que eu? Hehehehe. Sério, eu não sei o que o mexicano falou pras polonesas, mas o cara deve ter lubridiado e atiçando a curiosidade delas muito bem, porque, caraca, ele não só convenceu as minas, como ainda por cima elas foram BARGANHAR pra gente!!! Hahahaa…
Só sei que depois de uns vinte minutos, o local já tava fechando e nada do figura querer deixar a gente entrar. Ele ainda baixou o preço pra dez dólares pras minas e vinte pra gente, mas, cá entre nós, eu não ia pagar cinqüenta reais pra entrar num lugar desses, né brother? Na Tailândia eu paguei 15 dólares e ainda vi Ping-Pong (link da história aqui)!
Cheguei em casa seis horas da manhã, isso numa quarta feira. Quando foi no outro dia, mesma loucura, mesmo fim de noite, mesma barganha… Fomos indo nessa até o domingo quando o cara foi embora. Loucura demais…
Esses foram os meus primeiros dias (ou noites) em Vasórvia. Eu não sabia como eles começavam, mas sabia como eles iam terminar: – Polonesas barganhando pra entrarmos em diversos “conventos” por Vasórvia…

Pra galera que curtiu Kazimierz Dolny

Mais algumas fotos que não deram pra ser colocadas no post passado…


Ah Polônia…

P.s: Galera, no post passado falei que a história do castelo me lembrou a de um rei havaiano muito famoso. Pra quem ficou curioso acerca da história, pode clicar nesse link aqui
P.s2: Pra galera que ficou aí especulando o que ocorreu entre mim e Gosia, vocês vão ficar curiosos, porque eu não vou falar nada além do que escrevi. Mas como sou um cara legal, vou postar uma RARIDADE que achei dentro dos meus arquivos aqui do computador. É uma história de uma viagem que fiz na Austrália com uma outra polonesa, muito parecida com essa. Até acampamos. Melhor de tudo, o post é inédito! Eu ri MUITO lembrando daquela história. Amanhã eu posto como um bônus pra galera devido ao grande número de comentários no post passado (exatamente 19!). Servirá como embasamento para as especulações do post passado.

Abraços maranhenses

Keep your eyes on the road, your hands upon the wheel

Pra que lado a gente vai mesmo, Gosia?

Só Gosia conversou com os caras dentro do carro, já que eles não falavam inglês. Fomos indo, indo, indo até que chegamos à cidade que os caras iriam parar. Ela se chamava Lublin e parecia ser um importante entroncamento dentro da Polônia. Quando descemos, começamos a pensar o que fazer e para onde deveríamos ir. Depois que prestei mais atenção ao mapa que ela tinha em mãos, percebi que estávamos a caminho ou da Ucrânia ou da Bielo-Rússia, dois países em que eu não conseguiria entrar devido à necessidade de visto.



Acho que fica praquele lado



Ficamos pensando por um momento para onde seguir quando Gosia teve uma ideia. Olhando no mapa, ela percebeu que estávamos próximo a uma cidade que ela sempre quis conhecer na Polônia, Kazimierz Dolny. Como eu tava no esquema “vamo pra qualquer lugar”, concordei e começamos a pedir carona em um outro entroncamento para a tal cidade. Depois de mais ou menos uma hora de braço estendido e samba no pé, um carro parou e nos ofereceu uma carona para uma cidade bem próxima ao destino pretendido. Entramos e seguimos viagem.



Sim, eu realmente comi todo este sanduíche enquanto pedíamos carona…



Destaque para o cara que nos deu a carona.

Assim que entramos no carro, falamos para ele para onde queríamos ir e ele falou exatamente assim:

– Ah, brother. Sossegado, Kazimierz é logo ali. São apenas 120 km, dá pra fazer em um pouco menos de duas horas.

Ah legal, então vamos…

ÃHN? A ficha caiu: “Êpa, peraí, 120 km EM DUAS HORAS?? O figura tava dirigindo um carro ou era um bicicleta?” . Depois eu fiquei com isso na cabeça, pensando “Ah, mas deve ser porque temos que atravessar várias serras, ou então são várias curvas ou por causa do engarrafamento…”. Naaaadaaaaa!! O cara REALMENTE dirigia a 60 km/h!! Bicho, era MUITO engraçado ver os carros ZUNINDO, zzziiuuummmm, ao ultrapassarmos e ele só dizendo:

– Não sei como essas pessoas podem dirigir tão rápido, será se elas não sabem que o limite máximo de velocidade é 60 km/h?

E lá fomos nós, eu já tava quase era descendo do carro pra empurrar o bicho pra ver se ele ia mais rápido, mas nosso amigo era irredutível. Senti-me como se estivesse no vídeo abaixo:




Gosia demonstrando a posição do cisne manco esclerosado

Cara, MUITO engraçado. Depois de um tempo, acho que com medo dos carros que passavam zunindo no nosso ouvido, ela passou pra faixa dos caminhões que era mais lenta. Não adiantou. E dana caminhão buzinando na traseira do carro do cara. Quando os caminhões o ultrapassavam, os motoristas ainda iam xingando!! Viadovosky!! Filha da putovisk!! E eu querendo cascar o bico, rir que só uma hiena, e não podendo. E pior que ele só ficava comentando em polonês com a Gosia:

– Eu não sei por que essas pessoas estão tão zangadas. Depois não serão elas que pagarão minhas multas por excesso de velocidade…



Posição de Ioga mais conhecida como “maranhense atarracado com uma grande mochila nas costas”



Muito figura…


Chegando a Kazimierz Dolny



Morram piauienses infiéis!!

Como prometido, duas horas e 120 km depois, chegamos a uma cidade que era ao lado de Kazimierz Dolny. Tivemos que pegar um ônibus, já que a cidade só tinha uma via de acesso e seria MUITO difícil achar alguém querendo ir pra lá, pois a cidade tinha menos que 4000 habitantes.

Eu e Gosia dentro da Torre



Ao chegarmos fiquei encantando com a cidade. Cara, mas parecia uma daquelas cidades de conto de fadas, saca? Mais ou menos que nem aquelas cidades do Shrek! Casinhas pequenas, uma praça medieval, um rio cortando a cidade e um sorriso nos rostos das pessoas que caminhavam. Pude perceber também que as pessoas me olhavam com bastante atenção, o que me fez pensar que forasteiros não eram muito comuns por aquelas bandas.

Saímos pela cidade batendo algumas fotos e depois subimos para visitar um castelo medieval que se encontrava no topo de um monte da cidade. O castelo foi construído pelo rei Kazimierz, O Grande (comentário: Hahahah, me lembrou o cabra lá do Havaí) por volta dos anos 1300 e foi destruído em 1712 pelos suecos (eu juro que eu fiquei imaginando aquela cena!! Aquela horda de suecas quentes empunhando chicotes, vestidas de preto, tocando terror pela cidade!! Acho que vou construir um castelo em São Luís só pra ver se elas invadem o Maranhão também!!). Desde esses dias encontra-se em ruínas!

Depois de conhecer um pouco mais sobre o Sr. Kazimierz, caminhamos para a única torre ainda preservada do castelo. Baszta, como era chamada, tem 20 metros de altura e era utilizada também como farol para guiar os barquinhos que passavam por lá.

Batemos algumas fotos e ficamos caminhando pela cidade. Quando começou a anoitecer compramos umas cervejas e começamos a caminhar para a saída da cidade à procura de alguns matos onde pudéssemos nos enfiar e levantar a barraca (olha a mente poluída, rapaz… “Nos enfiar” e “levantar a barraca” não é nada disso que você está pensando…). Depois de caminhar por mais ou menos meia hora, achei uma entradinha e uma pequena trilha que parecia ser um bom local para colocar a barraca. Pulamos pra dentro dos matos e começamos a caminhar mata adentro. Saindo da cidade e à procura de um local para acampar



Depois de uns cinco minutos caminhando, achei um local que parecia ser bem aprazível e escondido e levei a barraca pra lá. Quando começamos a montar a barraca, veio a pior constatação, estávamos próximo ao rio e portanto MILHARES de mosquitos nos atacavam. Cara, eu nunca tinha visto muriçoca na Europa, mas aquela vez valeu pelo ano inteiro! Os mosquitos começaram a COMER a gente vivo enquanto montávamos a barraca. Cada mordida de muriçoca que eu levava eu só pensava:

– Será se essa barraca vai agüentar o tranco? Será se ela não vai deixar nenhum mosquito entrar?

Local onde acampamos visto de dentro da barraca



O que mais me preocupava é que ela tinha sido 60 reais no Carrefour aqui de Brasília, logo qualidade não deveria ser o forte dela.


Só sei que depois de uns dez minutos e cinco litros de sangue a menos, pulamos dentro da barraca e praticamente a “lacramos”. Quando estávamos lá dentro, o milagre!! A barraca realmente não tinha nenhum furo, nenhuma falha, NADA!! Soltei três vivas ao Carrefour e suas quinquilharias baratas e abri uma cerveja. Ficamos conversando enquanto a noite caía.

Perguntei pra ela se ela não tinha medo de sermos roubados ou algo do tipo (pô, brother, eu sou do Brasil, né?). Ela falou que a Polônia era muito segura, mas caso algo pudesse ocorrer, ela estava preparada para “adversidades”. Pegou a mochila dela e mostrou o brinquedinho que trazia consigo. O que era? Um 38? Uma metralhadora anti-aérea? Não, longe disso, era apenas um singelo gás paralisante. Ainda era numa embalagem rosa e vinha escrito “perfeito para mulheres”. Heheheeh. A mulher era casca-grossa, mlk!

Loiras geladas



Ficamos conversando enquanto a noite caía. O que ocorreu depois? Fica para a imaginação do leitor elaborar, pois não vou entrar em mais detalhes.

A noite caiu, dormirmos e no outro dia pegamos a estrada novamente em direção a Vasórvia onde muitas outras loucuras e perversões estavam por cruzar o destino deste pobre maranhense…

Bom dia Polônia

Brazilian Day

Em um domingo qualquer dos vários que passei em Vasórvia foi marcado um encontro do Couchsurfing numa das suas ruas principais. Chequei no grupo e qual não foi minha surpresa ao perceber que a tal festa de rua, seria uma “festa brasileira”. Claramente me empolguei pacas e caí para o agito.

Galera do Couchsurfing a caminho da festa

A festa realmente era bem produzida e interessante. Uma grande manifestação da cultura brasileira em plena Europa Oriental. Como não sou bobo, coloquei meu agasalho do Brasil e parti para o abraço. Ao chegar fui logo tomado pela surpresa de ver um roda de capoeira rolando no meio da praça principal. Ainda pensei em me meter no meio e chamar um dos polacos pra porrada, mas vi que os caras mandavam muito bem e eu corria o risco de sair de lá seriamente ridicularizado, já que minhas habilidades em capoeira são parcas.

Zum Zum Zum, capoeira mata um

Além de oficinas de capoeira ainda ocorriam oficinas de percussão, onde a polacada mandava ver no bumbo.

Além de todas essas atrações, havia as principais que eram, claro, as polacas vestidas com fantasias semelhantes às que vemos nos desfiles de escola de samba dançando do Rio de Janeiro, com tais fotos já ilustrando outro post que escrevi sobre o meu primeiro dia na Polônia.

Não gente, apesar de eu ter certeza que é fácil vocês confundirem, ela não é baiana não!! Ela é da Polônia!! Só tá fantasiada de baiana!! Se eu não falasse vocês nem iam perceber, né?

CONHECENDO A MINHA FUTURA COMPANHEIRA DE CARONAS – GOSIA

Eu na verdade nem iria escrever sobre essa festa nas ruas de Vasórvia, apenas estou escrevendo devido a um fato deveras engraçado e interessante que ocorreu comigo enquanto estava nesta festa.

Eu e Ewa, uma grande amiga que conheci em Vasórvia

Assim que cheguei, fui me apresentando pra galera do couchsurfing que estava por lá. Galera gente boa demais e fui logo ficando amigo de geral. De repente, uma loirinha angelical sentou do meu lado e veio conversar comigo:

Brasileirada que conheci em Vasórvia. O cara que estava sentado atrás de mim e não saiu direito é de Fernando de Noronha!! ACREDITA?? Alguém aí já conheceu um noronhense na vida, brother? Pois eu fui conhecer um em Vasórvia, tem lógica?

 – Oi, seu nome é Claudio, né? Você é aquele brasileiro que fica agitando na comunidade de Vasórvia no Couchsurfing chamando a galera pra sair, né?

– Uai, sou eu sim! Posso saber seu nome?

– Meu nome é Gosia!

Gosia

– Massa, Gosia, prazer!

– Então, Claudio, o que é que você tá pensando em fazer amanhã? Segunda-feira?

– Gosia, eu tou pensando em ir ao museu do “Levante de Vasórvia”, o museu acerca daquela luta que Vasórvia teve contra os alemães durante a ocupação nazista na Polônia. A galera falou que é um museu muito completo, com várias informações, vídeos, fotos, ilustrações, peças etc. Como escrevo um blog, por cada país que passo eu sempre procuro escrever sobre a história do mesmo, entender um pouco sobre sua cultura e algo assim. Os museus geralmente são grandes aliados em relação a isso… blá blá blá…

– Ah tá…

– Por quê?

– Vamos viajar de carona amanhã?

– Er… Carona?? Como assim?? Pra onde, menina??

– Ah, sei lá! Pra qualquer lugar…

– Ãhn?? Como assim? Como você pretender fazer isso?

– Bem… A gente faz desse jeito… Amanhã de manhã nos encontramos na estação principal de trem daqui de Vasórvia e pegamos um metrô até a última estação. Chegando à tal estação andamos até a rodovia que leva à saída da cidade e começamos a pedir carona. O primeiro carro que parar e perguntar pra onde estamos indo nós diremos “qualquer lugar” e nem perguntaremos onde eles estão indo. Depois de mais ou menos duas horas viajando com eles, descemos na próxima cidade e assim vamos indo até chegarmos em outro país. Dormimos por lá e voltamos no outro dia. Topas? Ou tu vais pro museu mesmo???

– Mu… o que menina??? Que museu o que!! Museu de … é …!! Dane-se o museu!!! Vamo pra pista!!!

“…ele tá de olho é na butique dela… ele tá de olho é na butique dela…”
“… ela tá dançando e o pimpolho tá de olho… cuidado com a cabeça do pimpolho…”

Cara, tem cabimento isso? Imagina a situação!! Tou eu lá, sentando, conversando e, DO NADA, aparece uma polaquinha parecendo um anjinho, loira dos cabelos encaracolados e de olhos azuis, me chamando pra pegar a estrada depois de me conhecer por uns dez minutos!! Desculpa, eu não sei vocês, mas no Maranhão a gente não é treinado pra suportar uma tentação dessas não, amigo!

AAAAAHHHHHH

Isso é Couchsurfing, cara! Deus o livre!!

Eu, Gosia e Magda na Street Party

– E também teve aquele dia que eu peguei um lambari desse tamanho quando pescava no Rio Mearim lá no Maranhão!! – eu querendo impressionar algumas meninas…

VAMOS FUGIR DESTE LUGAR, BABY. VAMOS FUGIR. ESTOU CANSADO DE ESPERAR QUE VOCÊ ME CARREGUE

No outro dia de manhã, nos encontramos na estação de trem como havíamos combinado. Quando chegamos à estação de trem ela se espantou com o tamanho da minha mala pra uma viagem de apenas um dia. De molecagem veio e até me perguntou se eu tinha era um secador de cabelos dentro da mala. Falei que não e expliquei para ela o porquê:

– Aí, você acha que só você que pode ser louca nessa história? Pois eu também tenho a minha parte de loucura nessa parada!! Vocês acham que polaco são malandro, mas maranhenses são muito mais!! Olha só o Sarney, já foi até presidente da república! Na universidade que você tá aprendendo eu já sou reitor! É o seguinte, como não sabíamos onde iremos dormir eu resolvi dar o meu par de prosa nessa loucura… Peguei a barraca que eu trago comigo quando viajo, dois colchonetes que havia lá em casa e trouxe. Agora é só no caminho a gente procurar um camping e dormir na cidade que ficarmos.

– Camping o que, rapaz! Eu tenho uma ideia melhor!! A gente vai viajando, para em uma cidade e quando começar a escurecer a gente compra umas cervejas. Colocamos na mochila e caminhamos até sair da cidade. Assim que sairmos da cidade, caminhamos um pouco pela rodovia e assim que encontrarmos um lugar tranqüilo, pulamos dentro do mato e acampamos lá dentro. Ninguém vai nos achar!

– Mas isso é permitido?

– A gente vai descobrir quando chegar lá…

Rapaz, a mulher era doida de pedra mesmo!

Descemos do trem e ficamos com os dedos em riste pedindo carona. Depois de mais ou menos uns trinta minutos sem conseguir carona, tentamos uma maneira de chamar mais a atenção. Não, a polonesa não fez topless, brother! Nem eu fiquei de cueca! Ela pegou o celular dela, botou pra tocar um samba e eu comecei a mandar a sambar no meio da rua! Ah, meu amigo! Mas foi dez minutos, parou um carro e perguntou que diabos estávamos fazendo. Falamos que estávamos precisando de carona e eles perguntaram pra onde:

– Pra qualquer lugar – dissemos a ele no melhor estilo “Vamos fugir deste lugar baby. Vamos fugir estou cansado de esperar que você me carregue…”

Alguém indo pra São Luís, por favor? Se não for pra lá, serve qualquer outro lugar!

Os caras falaram de boa e nos enfiamos dentro do carro em direção a um lugar onde nenhum maranhense jamais esteve…

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Cracóvia

Assim que chegamos a Vasórvia, como já dito no post passado, Karol me levou a um passeio que ela me prometia desde que nos conhecemos na Austrália, uma ida a Cracóvia para visita de Auschwitz, o campo de concentração mais famoso da Alemanha Nazista.

Pegamos o carro numa sexta e ficamos hospedados na casa de um outro amigo polonês que conhecemos enquanto viajamos pela Austrália. Gente boa o cara e tinha morado com a Karol.

Família que nos hospedou em Cracóvia. Karol e seu namorado estão logo a minha direita

 

Chegamos, demos uma volta na cidade e saímos pra bater algumas fotos. Cracóvia é uma cidade legal, mas não aconteceu muita coisa digna de eu postar no blog não.. O máximo que posso escrever sobre a cidade é que Cracóvia é uma cidade medieval, muito bonita e blá blá blá. De interessante mesmo foi só a visita a Auschwitz, ex-campo de concentração.

CAMINHANDO PARA O INFERNO

Assim que se chega a Auschwitz já dá pra sentir o peso ruim do lugar. Apesar do grande número de pessoas caminhando por lá, o local detém um silêncio ensurdecedor. Impressionante como é pesado o clima. Logo na entrada, há a epígrafe que já ficou famosa, a sínica: “Arbeit macht frei” que significa “O trabalho liberta” em alemão.

Engraçado como eu fico estranho em fotos em que não posso sorrir, né? Não fico nada a vontade

 

Antes da construção dos campos de concentração os “elementos indesejáveis” tais quais judeus e também homossexuais, ciganos e prisioneiros de guerras (notadamente soviéticos) eram geralmente abatidos a bala e enterrados em valas comuns. Porém tal “técnica” demandava um “desperdício” absurdo de balas e energia, já que ao verem que seu destino estava selado, as pessoas costumavam se debater, correr, gritar dando um trabalho danado para os soldados alemães. Além disso, pesa-se o fato de que a moral dos soldados costumava ficar abalada com tamanho banho de sangue. Devido a isso, adotou-se uma solução “inteligente”, construir-se os campos de concentração.

As pessoas eram transportadas de diversas partes da Europa Central. Só para vocês terem um ideia, 10% de todos os mortos no campo eram húngaros que antes de ser expulsos da Hungria venderam tudo o que tinham e compraram vários “títulos de terras” falsos nas regiões que acreditavam estar sendo transportados. Por que isso? É muito mais fácil você fazer milhões de pessoas entrarem em um trem pacificamente do que enfiá-las a força, correto? Pois era assim que os nazistas faziam, chegavam às cidades anunciando que os bombardeios soviéticos estavam a caminho e que as pessoas seriam transportadas de lá para outros locais. Sem ter outra opção, as mesmas vendiam suas casas e suas propriedades e compravam na mão dos oficiais “títulos de terra” nas novas regiões e assim os alemães lucravam ainda mais.

Quando chegavam ao campo eram selecionados por oficiais alemães. Os mais fortes e aptos eram poupados, destino melhor do que os das mulheres, crianças, velhos e fracos, que seguiam direto para galpões sobre o pressuposto de que iriam tomar uma ducha. Os doentes eram transportados em macas com símbolos da cruz vermelha para aparentar normalidade. Antes de entrar despiam-se e deixavam suas roupas numa sala anterior. Por que os alemães inventavam essa história da ducha? Mais uma vez, para evitar pânico. Os “não-aptos” eram conduzidos diretamente dos trens para os galpões da ducha, sem a possibilidade de obter contato com outros prisioneiros e descobrir o que realmente iria acontecer. Dessa maneira os oficiais alemães conseguiam pacificamente e sem muito esforço conduzir milhares de pessoas à morte. Sem desperdício de balas, sem afetar a moral. Simples assim. O resto vocês já sabem, né? Pelas duchas que teoricamente deveriam jorrar água, era liberado um gás venenoso (o mais “eficiente” de todos os utilizados foi o Zyklon B) e as pessoas eram mortas em questão de minutos.

Sempre bom salientar que as cercas eram eletrificadas
Após a execução, eram retiradas dos corpos quaisquer coisas que pudessem ter algum valor (alianças, dentes de ouro…). Dentre outras atrocidades, a que mais me surpreendeu foi a utilização dos seus cabelos para a confecção de travesseiros, vassouras e outros utensílios domésticos utilizados nas casas alemãs. Ainda é possível ver os restos de cabelos que foram encontrados pelos soviéticos em uma sala pelo complexo.

Sempre bom lembrar que cada par de sapatos desses abaixo já foram calçados por hum ser humano.

Além dos aptos a trabalhar também eram poupados algumas outras pessoas, basicamente anões e gêmeos, estes para motivos bem menos nobres. Os seus pobres destinos seriam serem utilizados em programas de “arianização” tais quais tentativas de injeção de tintas azuis para clareamento dos olhos. O infame doutor Josef Mengele, mais conhecido pela epígrafe “O Anjo da Morte”, ficou conhecido como o maior entusiasta de tais experimentos.Há pelo campo diversos locais de execução, tal qual esta forca aqui.

Ou este paredão de fuzilamento.

Entre as fissuras do paredão, fotos de vítimas, orações, flores…

Gente, eu poderia ficar o dia inteiro aqui falando sobre Auschwitz, mas boto fé que não seria muito a cara do blog e devido a isso prefiro não me alongar mais nisso. Pra quem quiser mais informações sobre as histórias macabras deste lugar, procure pela internet que lá há material farto :o)

Vou ficando por aqui porque escrever sobre isso não é nada agradável.

Fiquem tranqüilos que eu tenho fé que o próximo post vocês vão gostar. O próximo tópico versará sobre uma das coisas mais LOUCAS que ocorreram comigo nessa bela Polônia… É esperar e ver…

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