Depois de Toledo seguimos para Segóvia, cidade que me impressionou ainda mais. A catedral é linda e dizem que Walt Disney se inspirou no castelo da cidade para poder fazer o castelo da Branca de Neve. Cara, vou te dizer, não duvido, parece demais um castelo de conto de fadas. Se liga na foto. Eu cheguei a ficar uns dez minutos só admirando aquilo.
Mas, de longe, o mais impressionante, e uma das coisas mais fantásticas que eu já vi na vida, foi o aqueduto de Segóvia. Os romanos queriam água fresca e viram que havia um lago há 17 quilômetros dali. Pensaram, porque não trazer a água de lá? Sim, eles fizeram 17 quilômetro de canais desembocando naquela estrutura fantástica que é aquele aqueduto. Importante lembrar que não basta fazer 17 quilômetros de canos, você tem que ir fazendo um leve ângulo descendente para a água poder fluir por todos esses quilômetros. Me lembrou demais os Qnats que eu vi no Irã. Os romanos já sabiam fazer argamassa, mas ninguém sabe porque (não há registros escritos disso) eles preferiram encaixar as pedras sem nenhum tipo de argamassa. A construção ficou ainda mais impressionante. E, o melhor, como as pedras não estão coladas umas as outras, o aqueduto não se destruiu nos diversos terremotos que ocorreram nos últimos dois mil anos. Você tem noção do quanto isso é fantástico.
O aqueduto foi tão bem feito, era tão fantástico que foi utilizado até… 1300? 1500? Não, cara, ele só foi desativado em 1973!!!! Só faz 50 anos que pararam de usar, isso para poder preservar ainda mais o aqueduto, porque se deixasse, ele estaria abastecendo a cidade até hoje.
Imaginei que Toledo seguiria aquele conceito de cidade medieval europeia bonitinha como foram algumas cidades que já visitei, mas vou te falar que Toledo foi uma das cidades mais fascinantes que pude visitar. Parece que as muralhas de proteção da cidade foram construídas ontem. Como em Granada, os principais perigos da cidade são os batentes que podem fazer você ir de cara no chão e os carros que tentam passar por aquelas ruas sinuosas.
Antes de ir embora eu estava doido para ir em um banheiro, mas nenhum bar deixava você usar se não consumisse algo. Acabou que eu me embrenhei no meio das muralhas e resolvi me resolver por lá. O cheiro forte que fazia quando eu entrei nas muralhas me fez crer que a minha ideia era popular entre os turistas. Pô, Espanha, custa por um banheiro químico?
Alargando as minhas margens de segurança decidi não comprar um voo de volta pro Brasil assim que voltasse de Dakar no Senegal. Fiquei preocupado de alguma coisa dar errado então decidi comprar a minha volta só três dias depois que eu já tivesse pousado do voo Dakar – Madrid.
Para isso aluguei um Airbnb por duas noites no centro de Madrid e resolvi, no curto espaço de tempo, conhecer uma cidade nova.
Cara, e vou te dizer, eu não achei que iria gostar tanto de Madrid. Não sei porque, eu não dava nada pela cidade, achei que seguisse só o conceito cidade-bonitinha-rica-europeia que eu havia visto em Zurique, Bruxelas ou Viena, mas me enganei. Madrid é majestosa. A sua história, os seus museus, os seus prédios. E, acima de tudo, os seus arredores. Infelizmente eu não tive tempo para explorar ainda mais. Só consegui andar um pouco pelas ruas e visitar o museu que conta a história de Madrid. Em todos esses anos eu já visitei muitos museus vi muitas obras de arte e sempre achei elas bem bonitinhas, mas nenhuma mexeu comigo quanto Guernica de Pablo Picasso. Sim, ela fica no Museu Reina Sofia de Madrid. Eu simplesmente parei do lado e fiquei analisando cada detalhe, lendo na internet o significado de cada elemento do quadro. Cara, vou te falar. Momento único em toda minha vida. O museu custa 12 euros para entrar, mas se você chega entre 19 e 21h a entrada é de graça. É óbvio que eu fui as 19h.
Além do que Madrid tem para oferecer em si, há também os diversos passeios ao redor da cidade. Optei por conhecer Toledo e Segóvia. Paguei um tour que de manhã te leva para conhecer Toledo e de tarde Segóvia. Paguei barato até, 43 euros. Além do ônibus eles também forneciam guias para as duas cidades. A título de comparação, só a visita a Alhambra em Granada com guia me custou isso
No outro dia procurei por um passeio guiado e fomos conhecendo melhor a cidade antiga de Granada. Ela é interessante porque tem um centro que remonta aos seus tempos medievais com ruas apertadas e sinuosas. São umas ruas estreitas e com paredes altas onde fica difícil até você ver a luz do sol. O próprio GPS não funciona muito tempo, me lembrou até a cidade de Varanasi na Índia. O guia nos explicou que isso era de propósito, as paredes eram altas para evitar a incidência da luz do sol durante o verão (que facilmente ultrapassa 40 graus no verão) e para evitar o frio durante o inverno (que, como falei, pode ficar levemente abaixo de zero)
Por conta dessas ruas estreitas, do nada você tá andando e PÁH surge uma catedral imensa que você nunca imaginou que pudesse haver ali. O guia explicou que a catedral e a igreja foram construídas em cima das mesquitas depois da reconquista de Granada e, como queriam preservar as construções das cidades, sobrava pouco espaço onde construir. Por isso que surgem coisas imensas do mais profundo nada.
Outra história que eu achei interessante foi que ele explicou que o mercado de Granada, como continha muitas mercadorias valiosas (principalmente seda e prata) tinha uma preocupação muito forte com ladrões. Quem fosse pego roubando tinha uma orelha cortada e pendurada na porta do Mercado. Assim, qualquer um que você visse sem orelhas, já sabia que andou aprontando no passado. Além disso, o mercado possuía nove grandes portões que eram abertos e fechados em ordem e padrões diferentes para dificultar a previsibilidade dos ladrões. Alguns poucos guardas sabiam qual era o padrão do dia para evitar possíveis fugas.
Fernando e Isabel, os dois monarcas de Aragão e Castela, acabaram sendo enterrados em Granada e não na antiga capital da Espanha, Toledo, como se esperava. Isso ocorreu porque eles se orgulhavam tanto de terem sido conquistado Granada que resolveram serem enterrados por lá
Cara, em Granada se você vai em um bar e pede um chopp eles vem e te servem, sem cobrança adicional, um tira gosto (que em espanhol é chamado de tapa). Isso é MUITO legal. Você não precisa nem pedir a “tapa”, você pede o chopp e de repente chega o tira gosto. E não é batata frita ou amendoim não. É sanduíche, carne… Teve um bar que nos serviram até peixe frito. Na primeira vez eu fiquei sem entender, depois que Elena foi me explicar. O interessante é que você não escolhe, então a tapa é meio “surpresa”, você pede o chopp e não sabe o que vem para comer. Pô, você não paga por ela, né! E o pior é que cada chopp que você pede vem uma tapa nova. Mano, você janta só de tomar chopp!!!
Visitando Alhambra
Para ter acesso ao complexo de Alhambra o preço é bem salgado, porém justo para o que você vai visitar (não é como aquelas atrações de Londres que custam o olho da cara e são sem graça). Você pode optar por fazer um passeio guiado (que foi o que eu fiz) e eu pude ver que existiam grupos com passeio até em português! Infelizmente como não vi isso, acabei indo no passeio de inglês e espanhol ao mesmo tempo.
O forte de Alhambra se destaca ao fundo pela grandiosidade, é possível vê-lo por praticamente toda Granada, existindo vários “miradores” para isso. Isso ocorre porque Alhambra não era só um palácio, era um complexo onde funcionava meio que uma mini cidade onde morava a nobreza e seus empregados. Lá dentro, por óbvio, também existia o palácio do Rei e foi onde gastamos a maior parte do tempo.
Em Alhambra se destacam os mosaicos e azuleijaria com forte apelo simétrico nas pinturas.
Um grande amigo mudou para o Senegal e me convidou para visitá-lo. Separei férias no trabalho e comecei a estudar a melhor rota (leia-se mais barata) para poder chegar em Dakar, capital do Senegal.
Acabou que eu vi que a melhor forma seria viajando para Madrid e depois pegar um voo para Dakar com conexão em Lisboa. Não, comprando o voo Lisboa-Senegal não saía mais barato que Madrid-Lisboa-Senegal, de forma que comprei uma passagem Brasília-Madrid e outra Madrid-Senegal. Como já estava viajando para a Espanha mesmo, resolvi fazer uma viagem que fazia alguns anos que estava nos meus planos, visitar a Andaluzia na Espanha, mais precisamente a cidade de Granada. Entre Brasília-Madrid e Madrid-Senegal resolvi deixar um espaço de quatro dias e vamos para Granada.
Por que Granada
Não sei se vocês lembram do tempo de colégio, mas um dos momentos mais importantes para a história de Portugal/Espanha é o período conhecido como a Reconquista. Depois do início do Império Islâmico os muçulmanos tomaram todo o norte da África e adentraram na Península Ibérica (local onde ficam Portugal e Espanha) e quase a conquistaram inteira. Ficaram nela por quase 1000 anos até que a União das coroas de Castela, Leão e Aragão fundaram a Espanha moderna e foram expulsando os árabes. Granada foi a última “província” árabe a cair e por isso mantém até hoje forte herança muçulmana. Então viajar por Granada é como viajar pelo Marrocos ou pela Argélia só que dentro da Espanha. Além de tudo, em Granada fica uma das maiores e mais impressionantes construções humanas, o complexo de Alhambra, um forte/cidadela de porte impressionante só comparáveis aos fortes que eu tinha visto na Índia. Por isso empacotei as minhas coisas e segue para Granada.
Quando comprei a minha passagem para Espanha eu estava super tranquilo porque eu imaginava que, bem, a Espanha seria quase que um paraíso tropical no meio da Europa. 11 em cada 10 aposentados europeus endinheirados (leia, norte da Europa como Alemanha, Noruega, Suécia e correlatos) sonha em se aposentar e viver nos ares “tropicais” da Espanha, pelo menos era o que eu havia lido. Só esqueci que o tropical para quem tá acostumado com inverno de -20 é diferente do tropical de quem cresceu no Maranhão. Mano! Ainda bem que marquei de encontrar uma amiga espanhola que me alertou que em Granada estaria frio! Eu imaginando que era frio de 15, no máximo de 10 graus. Não! No dia em que eu iria chegar, no horário em que eu iria desembarcar do aeroporto 1a temperatura seria de MENOS DOIS graus!!! Pense no desespero!
Sai catando todas as luvas, cachecóis, gorros e o que mais eu pudesse achar pela frente em casa para poder levar já que, bem, eu não tenho casaco de frio para isso. No final passei algum frio, mas foi só por uma calça por cima da outra e várias camisas que deu para se virar.
Graças a minha amiga Elena também descobri um dos mais interessantes e legais costumes de Granada, as tapas com bebidas que irei explicar no próximo post
Depois de passar pelo medo de ser mais um brasileiro barrado na fronteira da Espanha, tudo mais ficou de boa. Segui para o lugar indicado e fui para o couch. Meu host chamava-se Daniel e era um catalão (catalão, não espanhol, como ele gostava de dizer).
Pra quem não entende o porquê de ele tanto enfatizar isso, deixe-me explicar. Há algum tempo atrás, a Catalunha foi um reino independente, mas posteriormente foi unificada (ou tomada, como eles mesmos gostam de dizer) pelo reino de Castela (daí vem o nome “Castelhano” que alguns se referem ao espanhol) formando-se assim a Espanha Contemporânea. Os bascos também entraram nessa e viraram Espanha, só que aí é outra história. Apesar dessa “unificação”, vários catalães sempre tiveram problemas com esse “rebaixamento” de Estado independente para província da Espanha. Esse ressentimento atingiu o seu auge durante a ditadura de Franco (1939-1975) quando a Catalunha perdeu sua autonomia e sofreu pesada repressão cultural e lingüística do regime (falar Catalão chegou inclusive a ser proibido). Hoje a Catalunha é uma comunidade autônoma da Espanha, sendo reconhecida como uma “nacionalidade”, e desfruta de uma maior autonomia, com Constituição própria e, claro, língua oficial. Só como última curiosidade, como a Catalunha não tem seleção oficial, a “seleção” deles é o time do Barcelona que possui como maior rival o Real Madrid, que, como o próprio nome já diz, é o principal time de Madrid e por tabela da Espanha (ou Castela). Não raro é comum você ver em jogos entre o Real Madrid e Barcelona alguns espanhóis vaiando o hino espanhol. Na verdade, não são espanhóis, são catalães =)
Apesar de toda a expectativa que eu vinha nutrindo por Barcelona, acabou que nem foi tão legal quanto eu estava esperando. Sim, Barcelona é uma cidade bem interessante, mas acabou que eu acho que não tive muita sorte. As baladas que eu fui foram um tanto quanto meia-bocas e as pessoas que conheci, tirando o meu host, não foram lá tão interessantes. Foi legal andar pelas ruas medievais de Barcelona, ver as transformações e como foi bom pra cidade ter sediado os jogos olímpicos de 1992.
Barcelona é uma cidade de praia, portanto tava meio chata quando cheguei, no inverno. Uma das paradas engraçadas foi que eu ADORO Burger´s King. Quando saí daqui de Brasília, aqui não tinha, tampouco em São Luís. Como sabia que aquela seria a minha penúltima semana viajando, resolvi que Barcelona seria o lugar que eu comeria Burger´s King “até dizer chega”! Era pra comer até enjoar! Comer o suficiente pra não sentir saudade! Comecei a “jantar” lá todos os dias da semana! Mas comi sanduíche que não agüentava mais! Comia, comia e comia. Quando voltei de Barcelona, eu fui descobrir que tinham aberto um Burger´s King em Brasília e eu tinha entupido minhas veias pra nada.
Outra coisa que rolou e foi bem engraçada foi que andamos a cidade inteira a procura de um prédio que teoricamente mudava de cor quando estava a noite. Andamos, sem brincadeira, umas duas horas (não pegamos um ônibus porque cada esquina achávamos que estávamos pra chegar) e quando chegamos lá descobrimos que tínhamos ido ver o prédio no ÚNICO dia da semana em quem eles não ligavam as luzes. Felicidade extrema.
Fomos também em uma exposição bem interessante. Artistas catalães, cansados de ver pessoas serem tratadas como índices tiveram uma ideia no mínimo inusitada. Resolveram pegar diversas estatísticas e personificá-las. De que maneira? Pra cada ser humano de uma estatística havia um grão de arroz. Logo, 2 milhões de africanos morrem de AIDS por ano? Eles separam 2 milhões de grãos de arroz e fazem uma pilha pra você poder ter uma ideia. Existem 214 milhões de pessoas subnutridas na Índia? 214 milhões de grãos de arroz pra poder exemplificar. Cara e isso é impressionante, viu? Quando falamos de números assim, ao léu, realmente não te transmite o que é esse número em seres humanos. Era realmente IMPRESSIONANTE ver algumas montanhas de grãos de arroz do lado de algumas estatísticas que eu até tinha noção de quanto era numericamente, mas não tinha noção do que era se fosse pra contar…
PARA VARIAR, PROBLEMAS NO AEROPORTO
Inicialmente eu até pensava em ficar mais tempo na Espanha. De Barcelona eu tava planejando viajar para outras cidades na Espanha como Madrid, Bilbao ou Ibiza. Ocorre que, como falei há alguns posts atrás, a crise de 2008 estourou bem no meio da minha viagem e eu vi o meu dinheiro (que estava em reais) praticamente virar pó com as super valorizações do dólar e do euro. Devido a isso, tive que ir adiantando a minha viagem e acabou que eu tive os meus planos de viajar pela Espanha frustrados.
Marquei a minha passagem pra Lisboa, Portugal, mais cedo e fui para o aeroporto pra poder voar. Lá ia rolar o Encontro Europeu do Couchsurfing, o LIU (Lisbon Invites You). Caraca, tava radiante pra poder chegar logo em Lisboa e rever uma galera que havia conhecido em Praga. Cheguei serelepe e saltitante ao aeroporto e quando fui pra passar a minha bagagem, a surpresa! Meu nome não constava na lista de passageiros. Perguntei pra mulher como isso era possível e ela falou que era isso mesmo. Meu nome não tava lá e por isso eu não poderia voar. Mas pombas, eu havia reservado a minha passagem ligando no Brasil! Ela me mandou num guichê e o cara começou a me atender.
Cara, sério, parecia cena de filme. O bicho tinha uma cara de ser meio maluco e falou que ia resolver o meu problema. Fiii, quando vi a cara do sujeito me deu foi medo do que ele ia fazer. E o cabra falava que não tinha como resolver e que tava difícil. E soltava gargalhada. Ele virava e falava: – Ih, cara, vai dar pra eu resolver não!!! HAHAHAHAHA – e começava a rir descontroladamente! Eu comecei foi a achar que ele tava era de brincadeira com minha cara! Nada! Ele era meio pirado mesmo. No final acabou que ele conseguiu mesmo resolver meu problema e entrei no avião em direção a Lisboa!
Bem, alguns posts atrás já escrevi contando como foram minhas experiências entrando na Europa. Cara, pode parecer besteira, mas toda vez que você vai entrar na Europa, é sempre aquela tensão. Vem sempre aquela história mal-explicada dos pesquisadores brasileiros que foram barrados na Espanha e deu maior chabu e crise diplomática. Você sempre fica naquela, “pô, os caras, pesquisadores, iam fazer uma viagem curtíssima pra Portugal, tinham convite do evento no bolso. Brasileiros são os mais barrados na Espanha…” e coisas assim. Não adianta querer falar que não, sempre dá aquele gela quando você está pra atravessar a fronteira.
Tranquilo, todas as outras vezes que eu havia passado tinham sido de boa, sempre tava com todos os documentos, sempre tinha a passagem de saída com a data marcada no bolso, enfim, não havia como eles encresparem comigo, afinal, tava com toda documentação certa comigo. Era só ficar de boa e responder as perguntas. E assim foi, aquele tranqüilidade pra passar a fronteira na Áustria (link do post aqui), mais de boa ainda pra passar na Eslovênia(link do post aqui), Suíça tiveram algumas perguntas (link do post aqui). Tudo certo. Não havia com que preocupar.
Só quando estava no avião voando de Zurique para Barcelona, na maior tranqüilidade, que eu fui lembrar. “Êpa! Mas peraí! A Suíça… A Suíça não FAZ PARTE da União Européia. A Suíça não faz parte do acordo de livre tráfego de pessoas na Europa. Isso quer dizer que… que… CARACA, eu vou passar por UMA FRONTEIRA EUROPÉIA e não me preparei em NADA! E pior, vou passar pela mais famosa moedora de carne imigrante brasileira, a temida ESPANHA! EMBRIÃO da crise dos imigrantes!”. Calma! Não era preciso pânico! Era só lembrar o que eu tinha comigo na minha bagagem de mão!
Vamos lá! “Don´t be Panic”, já dizia o Guia do Mochileiro das Galáxias! Era só lembrar o que eu tinha e apresentar lá na hora. Nem ia dar nada, pô! Era só uma semana e meia na Europa mesmo! Vamos lá! Passagem de volta pro Brasil? Er… Não tinha. Seguro saúde? Vencido! Comprovante de renda? O que? Dinheiro no bolso? Uns 20 euros! Carta convite? Servia o endereço do meu couch impresso? Tava arrumado? Não parecia um imigrante ilegal? Bem, eu tava de cabelo grande, barba, bermuda e camisa. Se você olhasse pra mim jurava que o Manu Chao tinha se inspirado em minha pessoa pra poder compor a música “Clandestino”!
Cara, eu tava realmente ferrado! Eu não tinha PORRA NENHUMA que pudesse me ajudar caso o cara do posto de imigração quisesse encrespar comigo! Mas NADA mesmo! Sequer a passagem de volta comigo! E tava atravessando o posto de fronteira que TODO MUNDO falava que era pra ter o maior cuidado possível, PIOR, por Barcelona, que junto com Madrid são os dois piores pesadelos de brasileiros! Cara, eu tava realmente encrencado. Enfim, agora não tinha mais jeito. As poucas coisas que eu poderia demonstrar que só ia a turismo a Barcelona estavam na minha mala dentro do avião e eu não teria acesso. O negócio agora era, no melhor estilo Marta Suplicy, relaxar e gozar.
O avião pousou! Tensão! Me senti como um boi entrando no lugar do abate! Passou o primeiro, passou o segundo, passou o terceiro. Minha vez. Comecei a já imaginar eles me levando pra salinha, me descendo o cacete e depois me mandando de volta pra casa. Eles quebrando meus ossos só por diversão. Cheguei, olhei para o guardinha ele pra mim e começou a falar:
– Buenas tardes, amigo! O que quieres aka en Barcelona? (ou qualquer coisa parecida em Espanhol, que eu não sei falar!)
Olhei pra ele. Pombas! Não sei falar espanhol! NUNCA que eu conseguiria levar uma entrevista em outra língua que não fosse inglês ou português. Entrevista de fronteira é coisa séria! Imagina o cara te pergunta uma coisa, tu respondes achando que estais falando algo e estais dizendo outra coisa totalmente diferente? Não tive dúvida, comecei a falar em inglês!
– Então, amigo, eu sou brasileiro, como podes ver no meu passaporte. Consigo até entender espanhol e tenho certeza que se eu falasse em português claro e devagar, você compreenderia também. Mas sabe o que é? Eu prefiro falar em inglês, pois tenho medo de eu entender algo errado ou você entender algo de errado comigo e isso dar problema. Portanto, se possível, gostaria que a entrevista fosse em Português.
E ele? O que respondeu? Sabe aquela carinha de “não tou entendendo porra nenhuma”? Mas foi essa mesma que ele fez pra mim! Ficou me olhando pra mim com aquela cara de sonso e tentando me entender. Ele olhou pro cara do lado, falou em espanhol com ele. Falou algo em espanhol pra mim, carimbou meu passaporte e me mandou seguir. Nada mais! Sim, isso mesmo que você entendeu! O cara NÃO FALAVA INGLÊS! Sim, o guarda do posto de imigração não falava inglês e, portanto, não fez entrevista nenhuma comigo! Só me mandou seguir! Eu juro que não entendi nada quando isso ocorreu! Achei que ele tinha mandando eu seguir, que eu seria dirigido a uma salinha, lá ia ter alguém que falava inglês e aí sim eu seria entrevistado! Nada! Quando eu menos me espanto, já tava no meio do saguão do aeroporto caminhando livre como um passarinho! Até saí de dentro do saguão e fui pra área pra pegar táxi, só pra confirmar que não tava na área internacional! Cara, você consegue compreender o grau disso? Bicho, em todo minha viagem não teve aeroporto ALGUM que o responsável não falava inglês, fosse o Nepal, fosse a Turquia. Agora na Espanha, no Aeroporto Internacional de Barcelona, um dos mais movimentados da Europa, o cabra não sabia falar inglês! Imagina se eu fosse fazer besteira? Ele não ia neeemmm desconfiar! Os únicos lugares que me deparei com guardinhas que só falavam a língua local foram em países árabes e ainda assim quando atravessava por terra, NUNCA em aeroportos!
Sim, mas era isso mesmo! Eu tava na Espanha, atravessando a fronteira sem passagem, sem dinheiro, sem reserva de hotel, sem seguro-saúde, sem PORRA nenhuma, demonstrando que todo esse terrorismo que a imprensa sempre fez com passagem de fronteira na Europa é uma grande babaquice!
Antes de ir pegar meu busão para o meu couch, ainda tive que discutir com a menininha do câmbio do aeroporto que não queria trocar minhas cédulas de moeda da Eslováquia. A menina teimava porque teimava que a Eslováquia era Euro e, portanto, ela não podia aceitar e tentando explicar pra topeira que na Eslováquia ainda não era Euro, ela tava confundindo era com Eslovênia! Hahahah… Acabou que a única dor-de-cabeça que tive no aeroporto de Barcelona foi só aturar essas duas topeiras de guichê: a mina do câmbio e o imbecil do posto de controle.