Uzupio

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Caminhei por aquele lugar, que mais parecia saído de uma guerra, por mais ou menos uma hora sem ter noção que tinha acabado de entrar em outro país. As casas eram todas mal-conservadas e pessoas alcolizadas caminhavam mal-vestidas pelas ruas sinuosas. Qualquer cidadão normal ficaria intimidado em andar por aquelas ruas naquela hora da noite, mas como tenho um blog pra escrever e havia vários barzinhos pelo caminho com pessoas bebendo e farreando, fiquei mais tranqüilo.

Observando um pouco mais, pude perceber que algumas obras-de-arte pareciam estar espalhadas pelas ruas. Painéis pintados em paredes de casas, esculturas aparentemente sem sentido e um ar de “arte ao ar livre” indescritível. Uzupio parecia ser mais um bar boêmio, tal qual a Lapa no Rio de Janeiro, o Reviver em São Luís ou o… o… enfim, não tem bairro boêmio em Brasília.

Como já estava começando a ficar tarde, resolvi ir logo me encontrar com minha host e ir pra casa dela pra largar minha mochila por lá, afinal, apesar de ter deixado metade das minhas coisas na Polônia, caminhar um dia inteiro com metade de uma mochila nas costas deixa qualquer um cansado.Ao chegar à casa de Aiste (era como se chamava a minha host) ela me explicou o que era Uzupio. O país que nasceu meio que de zoeira fundado por um bando de bêbados, meio como uma manifestação de arte contra o status quo.
Essa pra mim é uma das preferidas. Uma ponte que liga nenhum lugar a lugar nenhum. Reparem que a ponte não serve de nada! Impossível utilizá-la para atravessar o rio!
Uzupio hoje faz parte do seleto grupo de cidades Patrimônio da Humanidade reconhecido pela UNESCO (assim como São Luís) e é um dos melhores lugares pra sair e se divertir em Vilnius, ou perto de Vilnius, como achar melhor, já que Uzupio declarou independência da Lituânia em 1997.
Galera fazendo o que há de mais importante em Uzupio: Encher a cara e se divertir…
Bandeira de Uzupio
A história de Uzupio começa por volta do século XVI quando judeus começaram a mudar para lá e se estabelecer. Durante o Holocausto, os nazistas dizimaram os judeus de Uzupio deixando o distrito praticamente deserto. As suas casas abandonadas foram dando abrigos para elementos marginais da sociedade lituana, tais quais bêbados, prostitutas e mendigos.
Faço-lhe uma pergunta: Faltamente, qual parece ser sempre o destino de bairros que acabam assim? Com prostitutas e bêbados por todos os lados? Eu sei que você já tem a resposta. Dessas zonas de depreciação humana total costumam sempre emergir contracultura e manifestações artísticas. Foi assim com a Lapa e foi assim com o Reviver no Maranhão.Até a declaração da independência da Lituânia em 1991, Uzupio costumava ser o refúgio de boêmios, guerreiros partisans, local de manifestação e propagação do nacionalismo lituano, já que, devido a seu estado abandonado, pouco chamava a atenção da KGB. Uzupio era o bairro em que, por mais que sofressem uma tirania diária, os lituanos podiam sentir o prazer e orgulho de serem lituanos.Hoje, como já disse anteriormente, Uzupio é um patrimônio Lituano, ou um país independente, como achar melhor, e detém a sua própria polícia, o seu próprio exército (composto de 12 homens, em sua maioria velhos e bêbados), bandeira, unidade monetária e etc.
E claro, como toda nação independente, Uzupio também possui a sua Constituição que se encontra estampada em algumas das paredes de suas ruas.
Pra galera que manja o inglês, vale a pena dar um zoom nessa foto e ler um por os caputs da Constituição de Uzupio. Vale muito a pena
Dentre os vários caputs da Constituição de Uzupio, alguns são os meus preferidos tais quais:
3 – Todo mundo tem o direito de morrer, mas isso não é uma obrigação.
4 – Todo mundo tem o direito de cometer enganos.
5 – Todo mundo tem o direito de ser único.
6 – Todo mundo tem o direito de amar.
10 – Todo mundo tem o direito de amar e cuidar do seu gato.
12 – Um cachorro tem o direito de ser um cachorro (ou em outras palavras, você tem o direito de ser o que você quiser)
14 – Por alguns momentos, as pessoas podem se livrar das suas obrigações
16 – Todo mundo tem o direito de ser feliz
17 – Todo mundo tem o direito de ser infeliz (Esses dois artigos em contradição definem o direito que o homem possui de fazer ou deixar de fazer algo de acordo com o seus desejos)
21 – Todos tem o direito de apreciar a sua falta de importância.
26 – Todos tem direito de celebrar ou não celebrar o seu aniversário (mesmo tipo de artigo do caput 16 e 17).
27 – Todos DEVEM lembrar o seu nome.
28 – As pessoas podem dividir os seus pertences.
29 – Ninguém pode compartilhar o que não é seu.
37 – Todo mundo tem o direito de não ter direitos.
40 – Não retaliem

41 – Nunca desistam.



Constituição de Uzupio em três línguas

Uzupio é isso: uma cidade que ao mesmo tempo em que é uma grande exposição de arte e cultura a céu aberto é totalmente grátis para quem quiser apreciar. Uma grande manifestação para que os homens nunca parem de lutar e nunca se dobrem para nenhum tipo de tirania.

Teve algo que ocorreu com a gente quando voltamos para Uzupio em outra noite que eu nunca esqueci. Estávamos andando pelo meio das ruas bebendo algumas cervejas quando um carro caindo aos pedaços e com uma sirene de polícia em cima apareceu. Ele parou do nosso lado e lá de dentro um tiozão com um bigode IMENSO virou pra gente e perguntou se estava tudo bem, tudo na mais santa paz. Respondemos que sim e após isso ele nos perguntou se já estávamos bêbados. Quando respondemos que estávamos caminhando para isso, ele nos reprimiu e falou que em Uzupio ele costuma colocar nas grades pessoas que andam sóbrias pelas ruas. Apesar de não haver isso na sua Constituição, ele dizia que isso era algo como uma lei local e caso ele voltasse e ainda não estivéssemos bêbados a casa ia cair pra gente. Depois que ele foi embora, o meu host me explicou que aquele tiozão era o xerife de Uzupio, uma figura muito querida na cidade de Vilnius. Ele é um senhor aposentado e passa as suas noites andando com a sua velha viatura e conversando com as pessoas e os turistas. Apenas mais uma das várias figuras que nos reservava aquela estonteante manifestação artística que era Uzupio.
Se ele estava falando sério ou não, resolvemos não nos arriscar. Enchemos a cara e voltamos cambaleando pra casa. É sempre bom seguir os conselhos das autoridades locais…
Abraços maranhenses
Cadeado com o nome e a data de casamento de um casal
P.s: Acabou que eu esqueci de explicar qual era a dos cadeados nas pontes. A galera me explicou que isso é uma tradição na Lituânia. Assim que as pessoas casam, elas vão e colocam cadeados na ponte de Uzupio com os nomes do casal escritos neles. Tá certo que sempre tem uns sem-noção que exageram no tamanho do cadeado, mas fica uma ambientação interessante…