Cara, não sei se a galera que anda lendo o blog está familiarizada de como eu estou me hospedando e planejando me hospedar pela maioria dos pontos dessa viagem. Pra quem ainda não sabe o que é coucusurfing.com aqui vai o link de uma reportagem que explica bastante como funciona esse sistema de hospedagem pela internet!
Mas então! Eu já tinha falado no post passado que já tinha conseguido hospedagem em Seul e, claro, no Havaí (até ontem também já tinha conseguido Hong Kong e Macau também). Postei a foto do cidadão que ia me hospedar e várias pessoas comentaram comigo por MSN ou até postaram no blog, algo que foi uma das minhas primeiras preocupações que tive relacionado ao primeiro momento em que vi a cara do figura. Pombas, na foto que ele usou no profile do couchsurfing.com, o bicho tinha uma cara de ser MUITO “biba”!
Mas, meu amigo!! Esquece TUDO o que eu escrevi antes! Essa hospedagem foi uma das coisas mais LOUCAS que já vi na minha vida! Mermão, você não tem idéia do arrependimento que bateu quando eu vi a cara do figura pela primeira vez! O cara parecia “o Predador”, doido!! O cidadão tinha, nada mais, nada menos, que TREZE piercings pelo corpo, além de várias daquelas correntes e espinhos de punk!! O cara era maluco DEMAIS!! Na hora que ele foi me buscar no Starbucks do aeroporto, eu tomei foi um susto!
Beleza, coloquei as malas dentro do carro da amiga dele que foi me buscar (carro que por sinal era todo doido, com a espuma dos bancos aparecendo e um bando de loucura dentro) e fui me embora! Só pensei “se não der certo, pelo menos rende MUITA história pro blog”. Quando eu cheguei na casa foi que eu fique chocado! Bicho, foi aquele choque, DOIDO!! Tinha um cara sentado no sofá jogando Playstation 2 mais doido que o Bobby (o coucher)! O cidadão não tinha um ou dois piercings transversais (“brincos” que parecem umas barras finas que vão de uma ponta a outra da orelha, de cima pra baixo), ele tinha CINCO brincos transversais NA MESMA ORELHA!! Ou seja, o bicho basicamente tinha uma GRELHA de churrasco na orelha dele!
Cumpade, nessa hora eu só olhei pra tudo aquilo: Revistas de Death Metal com fotos de demônios e o cacete jogadas pela sala, e me desesperei! Cara, parece nada, né? Falando assim pela internet acho que não transparece o CHOQUE que foi aquela parada ao chegar! Imagina! Eu, chegando num lugar totalmente desconhecido (cara, o Havaí é no meio do nada), sem conhecer ninguém e indo parar dentro de uma casa dessas? Bicho, eu fiquei com um medo do cacete!!! Sério, medo de dormir e acordar com um capeta deitado ao meu lado!
Como precisava absorver um pouco do choque de ter acabado de entrar na casa do cidadão, inventei que precisava de um banho e pedi pra ir ao banheiro. O cara foi todo solícito e me ofereceu até uma toalha (claro que numa situação como aquela eu não ia aceitar nem água pra beber). Quando entrei no banheiro é que foi o melhor! Cara, o banheiro tinha tanto, mas TANTO pêlo pubiano (o famoso pentelho), que, sem brincadeira, dava pra fazer uma peruca! A banheira que tinha lá dentro não era de cor branca, mas sim de um dégradé entre marrom e bege! Com um olhar mais atento, olhei embaixo da saboneteira e vi só aquela parada verde! LODO, LODO POR TODO CANTO! Caaaaaaraaaaa, nessa hora eu pensei em ir embora, mesmo!
Comecei a pensar no que eu poderia fazer. Depois de algum tempo raciocinando, acabei chegando a conclusão que não me restava muito! Já eram rodados 10 horas da noite e eu não tinha pra onde ir! O que eu ia falar pra ele? “Obrigado, cara, obrigado por oferecer sua casa, mas eu vou pra um albergue!”. Duas coisas que eu não sou: Primeiro é mal agradecido e segundo é besta! Cinco dias de albergue iam me sair 150 dólares! Logo não teve jeito, o negócio foi encarar a parada e ficar por lá mesmo! Tomei meu banho de chinelo e saí do banheiro!
Quando saí do banheiro e fui pra sala, eu já tava tão atordoado que eu nem me espantei quando vi um punk vestido com meia-calças nas pernas e NOS BRAÇOS e várias correntes pelo corpo. Do jeito que a coisa ia, se aparecesse alguém com um chifre de unicórnio na testa eu já tava era achando normal! Comecei a trocar uma idéia com os bichos e eles eram o tempo todo solícitos, o tempo todos querendo me agradar! Fiquei meio que desconfiado dos caras, achando que aquilo tava parecendo “camaradagem do peru” (“come mais peruzinho, come mais, olha aqui tem mais comida”. Quando o peru fica gordo suficiente, perde o pescoço, daí a expressão). Mas a melhor de tudo não foi essa, o melhor de tudo com certeza foi quando chegou o terceiro morador da casa (o punk e a mina eram apenas brothers).
Adivinha o que o cara era? Satanista? Anti-cristo? Praticante de voodoo? Edir Macedo?? Não, todas as respostas estão erradas! O terceiro morador da casa era… era… era PhD EM MATEMÁTICA (doutorado). Mermão!! Eu esperava encontrar de tudo naquela casa, menos um cara com PhD, ainda mais em matemática (poxa, se fosse em antropologia ou ciências sociais até dava pra entender!). O pior de tudo que ele nem era malucão não! Ele era todo certinho, cara! Não tinha tatuagem, não tinha piercing e ainda por cima andava com a camisa pra dentro da calça! Parecia um mauricinho!!
Brother, percebe que nada nessa história faz sentido? O cara coloca uma foto no couchsurfing.com onde ele parece um fresco e na hora ele parece o predador, um outro tem uma grelha na orelha e o outro é um PhD de matemática com cara de menino vestido pela mamãe! Eu juro que eu fiquei esperando um anão vestido de palhaço chegando pra visitar a gente naquela noite! Mas, como é bom sempre reiterar, todos gente boa pacas. O PhD me emprestou até um guia que mostrava todos os picos irados do Havaí! Eles me ofereciam tudo, prancha, óculos de mergulho, snorkeling, nadadeiras e por aí vai… Fui aceitando, mas como sempre, com receio.
A primeira noite dormi que nem vigia, um olho aberto outro fechado!
No dia seguinte, na hora de sair, o coucher falou que era de boa, que eu poderia sair que eles deixariam a porta aberta caso precisassem sair de casa e não tivesse ninguém quando eu chegasse. Confesso que temi por minhas coisas, afinal, essa parecia a jogada perfeita pra “goelar” tudo que eu tinha e levar minhas coisas embora. Fiquei pensando uma maneira de dar menos mole e não deixar minhas coisas, assim, “de bandeja”. Pensei em pegar tudo que eu tinha de valor, meu PSP, meu laptop, meu celular e minha grana e ir pra praia, mas pensei que seria mais imbecil eu levar isso tudo e ficar na areia esperando alguém me roubar. Gravei bem direitinho onde ficava o apartamento, anotei o endereço de onde ficava a parada numa carta que estava em cima da mesa (que por sinal tinha o nome de um dos moradores, logo pelo menos um dos caras pagava aluguel), coloquei meu celular, meu dinheiro e meu passaporte na mochila e fui embora! Se fosse pra sumir algo, seria meu laptop, mas devido ao tamanho do bicho, se quando eu chegasse e não encontrasse, logicamente alguém teria pego. Um passaporte pode cair embaixo da mesa ou atrás do sofá e assim se alguém goelar pode ficar a dúvida se eu perdi ou não. Ainda assim, se eles trancassem tudo e levassem embora, eu podia ir na polícia e tinha meus documentos pra demonstrar que estava legal no país, logo não ia em cana e ainda fazia queixa.
Fui pra Waikiki. Quando voltei, confesso que meu coração pulava pela boca quando eu tava no elevador indo pra casa. Cheguei em casa, a porta tava aberta e, surpresa, tava tudo lá! Do jeitinho que eu tinha deixado! Só tava o Max (o cara dos brincos transversais) sentado no sofá. Olhei, meio que disfarçando, chequei tudo e tava tudo certo, não tinha nada de errado. Fiquei tranqüilo, tomei meu banho e quando voltei pra sala, fiquei assistindo um pouco o que o Max tava vendo na TV. Era um DVD com o desenho preferido dele. Um desenho sobre uma banda de Death Metal satânica, com várias pessoas sendo mutiladas e sangue por todo lado. Eu não sabia se eu ficava mais chocado com o desenho ou com o fato de que o Max riiiaaaa que se mijava (e eu que achava que tinha humor negro porque gosto de South Park)! Mas era impressionante como ele gargalhava vendo aquilo, brother! Parecia um menino! Velho, era o que eu falava, eu já estava imaginando eu chegar em casa e encontrar alguém estuprando uma ovelha degolada.
Se liga numa cena desse desenho animado que ele tava assistindo
Depois das 24 primeiras horas, acabei me acostumando com aquela “casa maluca”. Nos
outros dias foi acontecendo uma bizarrice atrás da outra, mas eu nem me espantava mais. Teve um dia que eu acordei e tinha uma mulher jogada, dormindo no carpete do quarto do Max, fui conversar com o Bobby e pude ver as cruzes de ponta cabeça no quarto dele (satanismo), além de que ele guardava uma balestra dentro do armário, apareceu um gótico com umas tatuagens feitas de queimaduras, um cara desmaiou de bêbado e teve que ir tomar glicose, o PhD tentou cortar os pulsos (foi impedido pelo Max) quando soube que a namorada dele tava grávida e por aí vai… Tudo isso em menos de uma semana! E ah sim, todos eles, eu disse TODOS eles, viam aquele mesmo DVD e gargalhavam o dia inteiro!! Eu já tava tão anestesiado que neeeemm me espantava mais, só dava risada! Pra mim tudo era festa, brother! Pelo menos eu não tava pagando albergue e nem tendo que alugar equipamento pra surfar e mergulhar! Além de que, minhas coisas, apesar de estarem na sala, SEQUER eram tocadas. Os bichos me respeitavam tanto que chegavam ao ponto de pedir autorização toda vez que queriam usar meu laptop (pombas, eu tou ficando na casa deles de graça e os bichos ainda me pedem autorização pra usar minhas coisas?).
No final, não poderia ser diferente. Nada ocorreu de errado e minha hospedagem no Havaí acabou sendo MUITO melhor que minha hospedagem na Coréia do Sul (que escrevo no próximo post!). Essa experiência serviu pra me mostrar o quanto a gente perde oportunidade de conhecer pessoas interessantíssimas baseadas apenas num preconceito imbecil. Em menos de dois dias, o Bobby parecia um amigo de infância, cara! Chegou um momento em que eu já me sentia era bem de ficar ao lado dele e dos caras que moravam na casa dele, além de todos os malucos que chegavam por lá! Tá certo que os bichos pareciam um bando de louco, mas sério, gente boa demais, todos eles! Confesso que são pessoas que me farão sentir saudade.
Essa é a parada do couchsurfing.com, brother! Não só lugar pra ficar de graça ou algo do tipo, mas também a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas e trocar experiências e aprender como a gente consegue ser imbecil em vários momentos de nossas vidas.
Doido demais!