Vivendo em Noronha – o dia a dia difícil dos Noronhenses

Morar em Noronha é viver uma batalha diária em uma realidade paralela e surreal.
As diversas regulações e limitações para supostamente proteger a ilha fazem com que a vida dos nativos seja bem difícil. Há preços extorsivos para tudo, pois, como o lugar é um Parque Nacional, nada pode ser produzido por lá e todos as mercadorias tem que vir de fora.
Basta ir ao supermercado. Enquanto há um tempo atrás gente andava reclamando do quilo do tomate, em Noronha ele custava doze reais. A cebola, oito reais o quilo. Maçã, treze! Abacaxi, quinze! A unidade! Um galo inteiro não sai por menos de 80 reais (como não lembro se ainda é permitido criar bichos em Noronha, não sei se esse era o preço pelo bicho vivo ou morto). Pelo menos o quilo do peixe lá é tão barato quanto o quilo do frango.
Agora, ruim mesmo é reformar ou construir sua casa. Você não pode simplesmente bater a laje e depois chamar a galera para fazer um churrasco lá em cima e comemorar. Para qualquer tipo de alteração você necessita de uma autorização do governo. Ah, mas isso é só para reformas grandes, né? Naaadaaa! Essa regra serve até para trocar um vaso sanitário, uma porta, fiação… Você faz uma aplicação no Governo, vai um TÉCNICO na SUA CASA para avaliar se você realmente precisa disso (ou merece) e, caso haja autorização, você pode dar início à obra. Aí você vai à única loja de material de construção da ilha, leva essa papelada (mais ou menos como uma receita médica para comprar um remédio na farmácia) e deixa os olhos da cara para levar um saco de cimento.
Lógico que essa autorização leva meses para sair. Isso quando sai. Onde há burocracia, há malfeitos, assim, os amigos do rei são sempre favorecidos. Conheci um cara que casou e precisou esperar por CINCO ANOS a autorização para construir uma casa na parte de trás do terreno onde sua mãe morava. Sim, porque hoje em Noronha ninguém compra mais lote. A galera vai fazendo puxadinho aqui e ali onde já há um terreno. Acontece de casais se separarem e terem que morar na mesma casa por anos por não terem para onde ir. Se você quer abrir um negócio em Noronha, precisa se associar com um Noronhense (ou fazê-lo de testa de ferro, como preferir). Isso, lógico, depois de enfrentar toda a burocracia mastodôntica já citada para comprar o material de construção e dar uma recauchutada no seu restaurante ou pousada.
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Uma festa na laje animada como essa dificilmente ocorrerá em Noronha!
As coisas são dessa forma, teoricamente, para evitar que comecem a construir adoidado na ilha levando à superpopulação. A gente até brincava lá dizendo que se em Noronha tivesse ladrão, ele entraria na sua casa e roubaria fiação, porta, telha, sanitário. Quando você chegasse iam estar intactos sua televisão, sua geladeira, seu computador, seu tablet… já que isso não precisa de autorização especial para comprar.

Segundo os nativos, esses são contêineres americanos do tempo da Segunda Guerra Mundial e que hoje são usados  como moradia por Noronhenses

Todos esses problemas e regulações acabam dificultando bastante a vida na ilha. Sem acesso a Internet de qualidade, oportunidades de capacitação e altos custos para se manter e investirem em si mesmos, ocorre um círculo vicioso, que se mantém há gerações, onde os melhores empregos da ilha mantém-se nas mãos das pessoas de fora. Para piorar, a um nativo não há quase nada para se fazer por lá.

Poucas opções de lazer, rotinas estressantes de trabalho (“a gente costuma dizer que na ilha é onde o filho chora e a mãe não vê” – me disse um nativo), baixos salários e alto custo de vida levam parte da população a um clima de desalento e desilusão. Noronha tem hoje um dos maiores índices de alcoolismo per capita do Brasil.
Às vezes ficava pensando… Com todos os serviços turísticos sendo caros, MUITO caros, e com os salários de fome pagos aos noronhenses, tem muita gente fazendo um bom dinheiro à custa da vida difícil dos locais.
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4 comentários em “Vivendo em Noronha – o dia a dia difícil dos Noronhenses

  1. moradores nao podem desfrutar da ilha? porque o lazer la é a propria localização… e stress numa ilha calma dessa deve ser dificil…

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  2. Noronha, é que nem aqueles micro-países paradisíacos da Oceania: Um paraíso para os visitantes e um inferno para os locais (pobreza, ditaduras e leis rígidas para os locais). O pior é que é de interesse dos governantes manterem os locais pobres, pois assim garantem a mão de obra barata para a indústria do turismo que é o que para eles importa.

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  3. É muita sacanagem com o povo brasileiro, as ilhas dos outros países são locais desenvolvidos, hoteleiros, paraísos fiscais, mas no Brasil esses políticos fazem uma merda dessas. Devem está guardando a ilha pra ser tomada pelos estrangeiros, só podem.

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