Viajando pela Palestina. Não, não é tão perigoso como você imagina

(Pessoal, esse post vai vir meio cheio de figuras, mas é interessante por causa do contexto)

Ter a oportunidade de visitar o dueto Israel-Palestina foi uma das mais importantes e enriquecedoras experiências que minha viagem pôde proporcionar. Depois de passar por lá, visitar e poder conversar com palestinos e israelenses pude entender que o conflito entre muçulmanos, cristãos e judeus que ocorre lá há mais de 1000 anos é bem mais complexo e difícil de entender e resolver do que alguns analistas políticos de banheiro querem lhe fazer acreditar.

De início, achei que seria necessário pedir um couch pra poder ficar em Ramallah, mas logo no começo da viagem descobri que uma amiga estava servindo na representação diplomática brasileira na Palestina e ela me convidou pra poder ficar na casa dela. Bom demais.
Procure uma bandeira brasileira nessa foto na Palestina!
Cara, antes de eu efetivamente visitar a Palestina, eu tinha uma visão totalmente diferente de lá. Eu sempre achei que fosse um lugar paupérrimo e com todo mundo se matando pelas ruas. Uma sucursal do inferno mesmo. Mais ou menos como a foto abaixo.

Pô, mais dia menos dia eles estão sobre bombardeio intenso de Israel que vez ou outra corta a eletricidade, a água e as rotas de escoamento do país inteiro. Lá não podia ser tão rico! Mas apesar de tudo, quando cheguei por lá fiquei impressionado como as cidades parecem até bem arrumadinhas, não muito diferentes das cidades que temos aqui no Brasil. A economia de lá ainda parece sobreviver apesar de todos esses problemas. Não lembro de ver em lugar algum aquela pobreza abjeta, miserável, ou algo assim. Ramallah parecia uma grande cidade de classe média.
E não, cara, lá não há violência. Lá é MUITO calmo e as pessoas não estão cortando as gargantas de umas as outras nas ruas. Lá é apenas um lugar normal, com pessoas normais e ruas normais. Lá é inclusive BEM mais seguro que andar pelas ruas do Brasil.

Chegar a Ramallah, capital da Palestina, é muito fácil. Tem ônibus toda hora saindo de Jerusalém. Na verdade, pra ser mais exato, Ramallah fica a mais ou menos uns 30 km de Jerusalém, cidade (parte oriental) que era pra ser a capital do estado Palestino. Pegar esses busões de volta pra Ramallah eram interessantes porque eu sempre podia voltar conversando com os palestinos que todos os dias faziam esse trajeto de ida e volta pra ir trabalhar em Jerusalém e contavam como era a sua rotina de dia após dia ter que passar pela humilhação de serem revistados por recrutas israelenses de 16 anos de idade, isso quando os soldados não encasquetavam e seguravam a van durantes horas na fronteira levando a atrasos no trabalho.

Afim de tomar uma no Stars & Bucks Cafe?
Os palestinos em si eram bem amigáveis. Sempre dispostos a uma boa conversa e a te ajudar caso você precisasse de uma informação ou alguma foto, mais ou menos a experiência que tive quando estive em outros países árabes. Você conversando com eles, dá uma pena, cara! Eles relatando aquela vida de humilhação e indignação que sempre são obrigados a enfrentar. É como outro dia um palestino me falou em um busão na volta pra Ramallah:
– Eles falam em paz com a gente. Mas como você pode ter paz quando um lado em questão tem todas as armas e o poder e o outro é relegado a segundo plano? Tratado como sub-raça sem ao menos poder decidir o seu futuro?
Lá na Palestina “pegar um Mercedes pra ir pra casa” está longe de ser voltar de busão
Além de todos esses problemas, há o infame muro construído por Israel para supostamente protegê-los dos palestinos. O muro contorna toda Palestina e em alguns trechos tem oito metros de altura (bem, só pra vocês terem idéia, o Muro de Berlim tinha entre quatro e cinco metros). Construir um muro na fronteira pra lhe separar do vizinho não é algo, digamos, “novo”. Na verdade, até os EUA tem um muro desses na fronteira do México. Isso sempre ocorreu na história humana quando uma nação se sentiu ameaçada por uma vizinha, a Grande Muralha da China que o diga. Mas cara, o pior mesmo desse muro de Israel é que o bicho é MUITO maligno. Por quê? Bem, digamos que estamos falando de uma região onde as fronteiras não são claramente definidas. Bem pior que isso, a Palestina nem um país em si pode ser considerada. Então, você acha que Israel foi lá, sentou com os Palestinos, conversou com eles e aí construiu o muro? Claro que não! Israel foi lá e começou a subir o muro do jeito que eles bem entenderam, onde ELES imaginam que é a fronteira. Resultado? Os caras cortaram propriedades e oliveiras milenares no meio na Palestina e colocaram dentro de território israelense. Numa tacada dessas já levaram 12% do território da Cisjordânia (Palestina Oriental). Não é a toa que esse muro é conhecido como o Muro do Apartheid. Esse muro, lógico, é um dos maiores ódios que os Palestinos tem de Israel e é quase que todo pichado com palavras pedindo liberdade e justiça, além de várias pinturas e obras de arte.
O mapa da Palestina parece um rim, né?
Bandeira brasileira pintada ao lado de uma bandeira palestina no Muro. Foto da internet

A QUESTÃO ARAFAT

Uma coisa que você aprende quando viaja pela Cisjordânia é que lá há uma unanimidade e ela se chama Yasser Arafat. Cara, não há uma esquina, uma rua, um prédio, qualquer lugar em que você não vire e olhe ao menos uma foto ou um cartaz do famoso engenheiro egípcio, parecia até a África do Sul. Apesar de extremamente fragmentada e muitas vezes lutando entre si, a resistência palestina respeita bastante Arafat. Em Ramallah, há o túmulo onde se encontra embalsamado o corpo de Arafat onde, lógico, eu fui visitar.

Não é só Arafat que é ídolo por lá não. Também há esse figura aí de cima. Sempre bom lembrar que Saddam Hussein foi um grande apoiador da causa palestina
Mas o que ocorreu de mais interessante e mais legal comigo enquanto estive na Palestina foi que tive a EXTREMA sorte de estar em Ramallah em um dia superimportante. Eu só não sabia qual. Aconteceu assim, estava eu, de boa, no meio da rua, caminhando e dando uma volta em Ramallah e DO NADA uma MULTIDÃO começou a passar do meu lado carregando algumas bandeiras e gritando palavras de ordem. Eu realmente não entendi o que estava havendo. Cara, imagina, se aqui no Brasil, quando você tá no meio na rua e um protesto passa do seu lado, já dá um pouco de medo de sair do controle e vir a polícia com o caminhão de Cream-Cracker e distribuir bolacha pra todo lado, imagina isso NA PALESTINA! Pois é, era melhor não gritar truco e pagar pra ver porque tinha grande probabilidade de ser um protesto contra Israel e eles virem descendo o cacete ou duas facções diferentes da resistência palestina resolverem se desentender e a porrada comer solta.

Olha o tamanhozinho do rifle dos policiais
Fiquei meio de lado, mas continuei batendo algumas fotos, meio que brincando de “correspondente internacional”. Tava de boa até que teve uma hora que, bem, teve uma hora que uma bandeirinha bem, digamos, “polêmica” começou a surgir no meio do protesto. Era uma bandeira meio amarelada… Cara, era a bandeira do Hizbollah! E bicho, aí eu já meio que comecei a entrar em pânico. Pra quem não sabe o que é o Hizbollah, é um dos partidos árabes mais radicais e reconhecido como uma organização terrorista por diversos países ocidentais. Uma de suas principais bandeiras é a de gentilmente empurrar todos os israelenses no mar. Protesto de organização terrorista? Hum, isso não podia acabar bem…

Mermão, nessa hora fiquei em pânico! Protesto do Hizbollah NUNCA termina bem! Os caras são tão malucos e fundamentalistas que se vissem o Bolsonaro falariam que ele é muito contido em suas palavras. Até em sair correndo eu pensei, mas depois fiquei imaginando os caras olhando um estrangeiro, com uma máquina digital na mão, saindo correndo no meio da multidão, com uma cara de filho da puta… Aí já viu, né? Iam achar que eu era espião e eu iria virar maranhense ao sugo. Saí de mansinho e fui pra longe da multidão.
Esqueça a ONU, o futebol ainda vai salvar o mundo
Depois de uns dias que eu fui descobrir que todo esse medo e precaução não serviram de nada. Depois que eu fui descobrir que aquilo não era um protesto coisíssima nenhuma, aquilo era apenas os palestinos saindo às ruas pra poder lembrar o aniversário de Arafat e demonstrar o orgulho de terem nascido naquele lugar. Por último, as bandeiras amarelas que eles estavam carregando não eram do Hizbollah, mas sim do Fatah, o partido de Arafat. Mas pombas, olha só a semelhança das bandeiras:

Agora parece engraçado, mas queria ver os machões que tão rindo aí no meio de uma parada dessas como é que iriam se comportar.

BELÉM, ESSA SIM, A CIDADE QUE JESUS NASCEU

Além de Ramallah, na Palestina fui também a Belém, cidade que, ok todo mundo sabe, foi onde Jesus nasceu (apesar de ter crescido em Nazaré). A cidade em si tem o mesmo “problema” que Jerusalém. Há muita preocupação em criar vários lugares sagrados (lugar onde Maria amamentou Jesus, lugar onde Jesus rezou…) e pouca preocupação com os fatos históricos. Entendo que é muito importante um lugar como esse para quem é cristão praticante, mas eu sou mais interessado na História do lugar mesmo.

Mas apesar disso, vale o passeio por lá. Belém é uma cidade com mais de quatro mil anos e tem aquele charme de cidade sendo que medieval com suas casas de pedras e suas ruas minúsculas.
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6 comentários em “Viajando pela Palestina. Não, não é tão perigoso como você imagina

  1. Cláudio, em algum momento (nem que seja num comentários comentados) por favor faça uma consideração pessoal sua, com base no que vc vivenciou acerca desses povos, israelenses, palestinos e árabes.

    Eu sou muito curiosa a respeito desse pessoal, os únicos que tive contato foram israelenses e achei engraçado que muitos dos esteriótipos que lhes atribuem (pão-duros, desconfiados, reservados, etc) eu tive a oportunidade de comprovar ser verdade hahahaha Cara, o pior rolê que fiz no meu último mochilão envolveu sair a noite pra curtir com um brother israelense, o cara contava moedinhas demaisss! hahahah

    Bjs Claudio, seu blog tá muito legal!

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  2. Pretendo ir a Ramallah em breve, e com seu post fico até mais tranquila, porque putz, sou mulher, né. Rola um pouco do medo. Sei que lá eles gostam muito dos brasileiros, mas ser mulher estrangeira, ocidental e se meter na parte de jerusalem oriental, rola uma insegurança. Valeu claudio, achei ótimo o post, a parte do Hizbollah deu muita risada, fico me imaginando na situação…. sairia de fininho tb, e morrendo de medo. rsrsrsrsrrs abraços

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  3. Nobre Claúdio, parabenizo-o pelos relatos e experiência vivida com os palestinos, todavia, respeitosamente venho humildimente solicitar que dentro do possível, o nobre obtenha informações mais precisas sobre o Hezbollah, o qual é reconhecido pela própia O.N.U. como exercito de resistência e que tiveram e teem prestado uma contribuição aoLíbano em especial ao sul do Líbano, impedindo que Israel tome posse destas terras que possuem inumeras nascentes de água. O hezbollah realmente tem uma base religiosa e nunca escondeu isso, mas, mantem um conjunto de instituições que visam a tentativa de melhorar a vida e/ou minimizar o sofrimento tanto dos libaneses como também dos refugiados palestinos que vivem naquela região. Hoje o Hezbollah também é umpartido politico com cadeiras ativas no parlamento libanes… Saudações!

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  4. Nobre Claúdio, parabenizo-o pelos relatos e experiência vivida com os palestinos, todavia, respeitosamente venho humildimente solicitar que dentro do possível, o nobre obtenha informações mais precisas sobre o Hezbollah, o qual é reconhecido pela própia O.N.U. como exercito de resistência e que tiveram e teem prestado uma contribuição aoLíbano em especial ao sul do Líbano, impedindo que Israel tome posse destas terras que possuem inumeras nascentes de água. O hezbollah realmente tem uma base religiosa e nunca escondeu isso, mas, mantem um conjunto de instituições que visam a tentativa de melhorar a vida e/ou minimizar o sofrimento tanto dos libaneses como também dos refugiados palestinos que vivem naquela região. Hoje o Hezbollah também é umpartido politico com cadeiras ativas no parlamento libanes… Saudações!

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