Na Guiana Inglesa, um maranhense bem esperto e eu

Quando estava saindo da Guiana Inglesa, ainda no aeroporto, conheci um brasileiro. Depois de um tempo conversando fui descobrir que o cidadão era maranhense. Chamava-se Raimundo, estava na Guiana fazia seis meses e foi trabalhar no garimpo. Antes trabalhava como barrageiro, que é como chamam a galera que trabalha na construção de barragens. É um serviço interessante e meio itinerante onde ele disse que dava para tirar uma grana legal. Como queria conhecer outros países (bem, a Guiana Inglesa é outro país, não?), aproveitou que tinha uma tia no Oiapoque, cidade no topo do Amapá, e resolveu se aventurar nas guianas. Passou seis meses no garimpo e tinha juntado quase 25.000 reais em seis meses trabalhando lá, já descontando as despesas com alimentação, hospedagem e passagens. Nada mal, não?
Ele começou a me falar como era o garimpo na Guiana Inglesa. Disse que era de boa, que lá quase não morria ninguém assassinado no garimpo (ênfase no “quase ninguém”), era só não ter boca grande e não sair falando quanto o garimpo que você trabalhava tava dando de lucro. Foi outro também que me disse que hoje no garimpo ninguém mais faz nada a mão, é tudo mecanizado!
Cara, ele era tão humilde que nem escrever direito sabia, praticamente desenhava o nome e me pediu diversas vezes para preencher o cartão de imigração dele, já que escrevia muito devagar. Na hora que nos chamaram para fazer a imigração, eu meio que me distanciei dele, pois, bem, ele tava meio enrolado. 
Catedral anglicana de São George. Uma das mais altas igrejas de madeira do mundo.
Interior da Catedral
Senti-me um pouco mal de deixar um brasileiro a própria sorte, mas aeroporto é assim. Não poderia ficar do lado dele o tempo todo pois, afinal, cara, ele não tinha preenchido no formulário de imigração o endereço em que havia ficado em Georgetown, o endereço que iria ficar em Belém, ele só poderia ficar três meses no Suriname e estava há seis, tinha trabalhado mesmo só tendo visto de turismo e para piorar, bem, ele era garimpeiro. Era um cara legal, mas garimpeiro tende a se envolver em enrolada. 
Parlamento Guiano
Interior de uma igreja católica em Georgetown

Trocando em miúdos, ia dar problema. Por mais que quisesse ajudá-lo, se desse algum problema e me vissem do lado dele, até eu explicar que havíamos nos conhecido há algumas horas no aeroporto e que não estávamos juntos… Bem, poderia ser o suficiente para eu perder o voo e ter que pagar pela remarcação de todas escalas seguintes.

Falei para ele ir na frente e fui para o outro guichê. No meu guichê o cara me bombardeou de perguntas, onde eu tinha ficado, o que havia feito na Guiana, o que fazia no Brasil, assim, como se alguém que passa dois dias na Guiana vai para lá para garimpar. Tudo sendo perguntado em inglês e eu pensando “rapaz, se a coisa tá ruim assim para mim que tou com tudo certo, imagina para Raimundo que nem escrever o nome dele sabe direito”. Sei que depois do batalhão de perguntas, quando vejo, tá Raimundo lá frente, todo sorridente, já tinha passado até o Raio-X.
Fui, lógico, perguntar para ele como ele tinha resolvido, já que, beleza, ele podia até ter tido sorte de não arrumarem problema com ele, mas ao menos o visto expirado eles iam fazer alguma pergunta e ele não falava inglês. Ele não se fez de rogado e me respondeu:
– Claudio, foi simples, eu coloquei 1000 dólares guianenses (cerca de 10 reais) dentro do meu passaporte. O cara folheou, folheou, folheou, quando viu a nota, só sorriu e me mandou seguir.
Raimundo não era fluente no inglês, mas sabia a única língua que importava.
Banco Central da Guiana
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