El Salvador hoje: seguro, polêmico e cheio de contrastes

Então, respondendo a sua pergunta. A sensação de segurança no país é absurda, você vê meninas andando sozinha nas ruas, pessoas deitadas em banco de praça a noite usando celulares despreocupadas e coisas assim. Ainda tem um ou outro segurança privado na rua andando de escopeta, mas me disseram que isso é mais por conta de costume do que realmente necessário.

Eu perguntava pros seguranças porque eles andavam de escopeta e eles me falavam pq era a arma que eles tinham. Não muito porque precisavam
Cara lendo celular no meio de uma praça no centro da capital de El Salvador. Cena rara em outros países da América Latina

Confesso que a única capital na América Latina que eu senti esse nível de tranquilidade foi em Havana, Cuba. O que eu vejo é que El Salvador é hoje a Cuba da direita. El Salvador e Cuba tem problemas de abuso de direitos humanos? Sim. Tem problemas com instituições democráticas? Sem sombra de dúvidas. Principalmente Cuba.

O que eu acho disso? Cara, eu só acho que eu fico muito feliz de andar na rua sem medo de alguém me passar na bala para roubar meu celular. Essa também foi a impressão que eu tive quando eu perguntava sobre Bukele aos salvadorenhos. Todo mundo dizia “Eu sei que ele faz algumas coisas meio diferentes, mas esse país era um inferno de violência antes dele”. Os motoristas de Uber faziam questão de passar dentro das favelas salvadorenhas e me dizer “Há uns anos atrás ninguém podia passar por aqui sem permissão e você não via crianças brincando na rua como vê agora.”

Mas sim, o país continua bem pobre. Na verdade, é um dos mais pobres das Américas. Mais pobre até que o Paraguai. Como eles não tem moeda e usam o dólar para tudo, acaba que as coisas são bem caras. O que eu via o pessoal falando é que depois de Bukele o turismo em El Salvador explodiu (principalmente de americanos que agora tem um país da América Latina para viajar sem medo de segurança), mas as coisas acabaram por ficar bem mais caras. “Tudo me cobram preço de turista” – me dizia um motorista de Uber. Outro motorista de Uber me falou “Temos um ditado em El Salvador que se diz, se eu não trabalho, eu não como. Agora ao menos com a segurança nas ruas eu posso trabalhar e ao menos tentar comer, mas sim, está tudo muito caro”. Queixas de América Latina.

TURISMO EM EL SALVADOR

Sobre a parte de turismo, assim, não é ruim, mas a questão é que a Guatemala e a Costa Rica foram bem mais legais. Em El Salvador tem vulcão, tem parte histórica, tem praia, mas não se compara a Costa Rica e a Guatemala.

Mas ainda assim vale a visita a El Salvador.

O centro histórico de lá é bacana. Visitei o antigo palácio presidencial. É impressionante como lá tem uns relógios que eles ganharam da Espanha que custam a bagatela de milhões de dólares.

Relógio que custou algumas dezenas de milhões de dólares para ser feito. Ouro maciço

Mas o que mais me impressionou é que há um palácio inteiro que simplesmente não serve mais para nada. Sim, o presidente não trabalha nem viver mais lá “Aqui não é seguro, o presidente pode ser atingido por uma bala de um sniper” – me dizia o guia. Então fica aquela estrutura imensa só para a gente ficar fazendo passeio guiado pagando cinco dólares de tíquete. Não deve dá nem para pagar a conta de luz daquele elefante branco.

A Igreja do Rosário é provavelmente o lugar mais inesperado de San Salvador. Por fora, parece um galpão mal acabado, quase feio, e muita gente passa reto sem saber o que tem ali dentro. Mas é só entrar pra levar um choque. O interior é uma explosão de luz colorida passando por vitrais em arcos de concreto, criando um efeito quase psicodélico. A arquitetura é moderna, brutalista mesmo, mas com um toque espiritual que surpreende. Ela foi projetada por Rubén Martínez, um escultor que ignorou completamente os padrões de igreja colonial. E ainda tem o detalhe histórico: foi ali que soldados abriram fogo contra manifestantes durante a guerra civil.

Saindo um pouco da capital, visitei o Lago Ilopango. Ele é uma daquelas paisagens que misturam beleza e história geológica pesada. Ele é, na verdade, uma cratera vulcânica gigante que explodiu com força apocalíptica há mais de mil anos, afetando até civilizações maias na região. Hoje, a cratera virou um lago calmo e bonito, cercado de pequenos restaurantes, vilarejos e pontos de mergulho. O que mais me chamou atenção foi o contraste: você tá ali, tomando uma água de coco, e embaixo daquele espelho d’água tranquilo tá um vulcão adormecido que já causou destruição em escala continental. É fácil chegar até lá saindo de San Salvador, e apesar de algumas áreas serem meio largadas, ainda vale a visita pela vista, pelo banho e pelo contexto todo.

Lago Ilopango

Depois fui ao Puerta del Diablo, um mirante com nome de filme de terror e visual de cartão-postal. Fica nos arredores da capital e dizem que o nome veio de uma lenda local envolvendo pactos demoníacos — mas na prática o que se vê são duas formações rochosas que parecem uma “porta” aberta para o abismo. O lugar já foi cenário de execuções durante a guerra civil, o que dá uma camada a mais de peso à paisagem. Hoje, o clima é bem mais tranquilo: tem trilha, barraca de comida e aquele ventinho constante que dá uma paz danada. Dali de cima dá para ver todo o vale e, se o tempo estiver limpo, até o oceano lá no fundo.

Puerta del Diablo

Joya de Cerén e San Andrés são dois sítios arqueológicos que mostram o passado maia de El Salvador — mas com histórias bem diferentes. Joya de Cerén é conhecido como a “Pompéia das Américas”, porque foi soterrado por uma erupção e preservado quase intacto. É um vilarejo simples, com casas de barro e utensílios ainda no lugar, dando uma ideia real de como vivia o povão maia.

Joya de Céren

Já San Andrés é mais monumental, com estruturas maiores, incluindo pirâmides. O problema é que, em algum momento, alguém teve a brilhante ideia de cobrir as ruínas com concreto pra “proteger” — o que, além de descaracterizar tudo, fez o sítio perder o status de Patrimônio da Humanidade da UNESCO. É o tipo de gambiarra oficial que dói na alma de quem gosta de história. Mesmo assim, vale a visita pra entender como esse passado ainda resiste, mesmo depois de tanta burrada.

San Andres

Mas sim, adorei a minha visita a El Salvador. Foi um dos meus países preferidos na América Central

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