Perambulando pelo Egito

Apesar de em Cairo haver pouquíssimas pessoas que podiam falar inglês, trafegar por lá era relativamente fácil. Como falei no post passado, a cidade tem um metrô (e caso você se perca nas estações nele, basta ler o post passado pra poder saber o que acontece) e, além disso, os taxistas (que por sinal cobram muito barato devido ao baixo preço do petróleo) entendem um pouco de inglês, pelo menos os números (o que dá pra você combinar o preço antes de entrar no táxi) e o lugar pra onde você está indo. Bem, isso era no geral, mas caso você pegasse um busão errado ou começasse a caminhar e não conseguisse voltar ao metrô, aí amigo, aí você tava era enrascado. Porque até você achar alguém que realmente falava inglês naquele mundaréu de árabe era complicado.

Aconteceu isso comigo uma vez, saí de casa e fui procurar a estação de metrô pra poder ir até as pirâmides. No meio das ruelas acabei me perdendo e no final não sabia pra que lado ir. Rapaz, e como deu trabalho pra poder achar essa estação de metrô. Como falei, as pessoas não entendiam nada de inglês e placas eram praticamente inexistentes. Acabou que eu saí de um lado pro outro tentando gesticular pras pessoas o que seria um metrô e nada de conseguir. No final eu olhei uma mulher loira na porta de um açougue conversando com o pessoal lá dentro. Bem, loira não podia ser outra, ou era gringa ou era parente de gringo, o que aumentava a possibilidade de poder falar inglês. Quando entrei no açougue, me deu até medo. Moscas voavam por todos os cantos, aquela sujeira, SUJEIRA! Um fedor… As paredes descascadas e o chão que, bem, mais parecia um chão de oficina! Como não fosse o bastante, um gordo, de bigode e, apesar de careca, todo peludo, com pelo saindo até do buraco da orelha e do nariz, cortando a carne que vendia e assobiando na maior normalidade. Às vezes eu costumo entender porque a expectativa de vida no Egito é tão baixa. Saudades do açougue T-Bone naquela hora…

Fui conversar com a mulher e acabei descobrindo que ela era francesa e morava no Egito há algum tempo por causa do marido que era engenheiro e mexia com petróleo. Ela falava um inglês meio ruim (franceses ODEIAM falar inglês), mas ainda assim me deu uma carona (de Pajero!) até a estação mais próxima e assim pude pegar o meu metrô em direção às pirâmides de Gizé.
No metrô ocorreu aquela cena que descrevi no post passado quando dezenas de egípcios me cercaram pra tentar me ajudar.

TAXISTAS SEMPRE SÃO FILHAS DA PUTA

Desci na estação do metrô e, segundo orientação do meu livro, eu deveria pegar um táxi e pedir pra ele me levar às pirâmides. Saí da estação e o primeiro táxi que eu achei eu fui entrando e gesticulando que queria ir até as pirâmides. Do nada entrou um outro cara dentro do carro, falando um inglês perfeito e com uma idade semelhante a minha. Ele falou que morava em Alexandria e também estava indo pras pirâmides, perguntou se eu não queria rachar um táxi com ele. Como ele falava um inglês legal, era árabe e, by the way, já tava lá dentro do táxi mesmo, pensei que seria uma boa idéia que ele me acompanhasse. No caminho o taxista começou a falar com ele e ele foi me traduzindo:
– Então, Claudio, o taxista tá me falando uma parada massa que a gente poderia fazer.
– Sério, cara? O que?
– Ele falou que sabe de outro caminho que a gente pode ir pras pirâmides e talz. Disse que é um caminho menos turístico que o que estamos indo, que só os locais sabem onde fica. Lá a gente pode ainda pegar uns cavalos, uns camelos e fazer um passeio bem legal no deserto que no final termina nas pirâmides.


– Er… Obrigado, cara, mas eu não quero ir.- Mas ele falou que era bem da hora.

– Valeu, mas eu não quero ir.
– Mas pô, pelo lugar que a gente tá indo só tem turista. Vai ser mó turístico.
– Não, obrigado, eu adoro lugares turísticos
– Ah, cara, vamo lá, ele já tá levando a gente pro lugar.
– Cara, não, o-bri-ga-do, eu NÃO quero ir.
– Ah, mas já fechei o preço com ele, nós estamos indo lá.
– Amigo, NÃO OBRIGADO, eu não quero ir!
– Mas ele já tá indo pra lá!
– Amigo, EU NÃO QUERO IR! Fala pra ele parar esse carro AGORA porque senão eu vou começar a gritar quando eu ver o primeiro guarda de trânsito.
– Tá, ok, eu vou falar com ele.
Passou uns dois minutos que eles ficaram conversando em árabe e ele veio falar comigo:
– Sabe, Claudio, ele acabou de receber uma mensagem no celular que a mulher dele tá passando mal. Não vai dar mais pra ele te levar lá na pirâmide. Ele pede desculpas, mas vai ter que deixar por aqui mesmo. Pega um táxi naquela direção…
E me largou num meio de uma avenida de Cairo.

Não era o primeiro e nem seria o último taxista a me roubar. Sendo árabe ou franciscano, aprendam, taxista vai ser SEMPRE FILHO DA PUTA. Pena que dessa vez não teve nenhum cara armado de rifle pra poder me “ajudar” a pegar um táxi (acompanhe essa história que aconteceu na Síria clicando aqui). Graças a Deus aprendi a não confiar nesses miseráveis desde que passei pela Tailândia. Podia ter um fim como esse aqui
Só mesmo um Alcorão para poder me defender desses taxistas

CHEGANDO ÀS PIRÂMIDES

Desci do táxi e fiquei esperando outro passar. Quando ele passou deixei bem claro através de mímica que eu REALMENTE queria ir até as pirâmides. Ele entendeu e me deixou por lá. Chegando por lá, já tinha lido no meu livro mais um golpe que eles costumavam aplicar. Parece que egípcios não precisam pagar pra poder entrar nas pirâmides, ou pagavam muito barato, portanto o guia falava pra NUNCA dar o seu ingresso pra ninguém que viesse com uma desculpa de checar se você tinha pago a não ser para quem estivesse devidamente uniformizado. Mas foi dito e feito, paguei a entrada, entrei no cercado das pirâmides e foi só eu começar a pisar lá que um cara veio me perguntar onde tava o meu ingresso. Pra poder testar o que ele ia fazer, mostrei pra ele, ele pegou e começou a me explicar e guiar pelo parque. Era um guia. Ele esperava que só depois de um tempo eu percebesse que ele não era guarda, que ele não trabalhava lá checando ingresso de ninguém e depois de uns trinta minutos me explicando tudo, esperava que eu ficasse sem graça e desse uma grana pra ele. Já tinha passado por um golpe desses em Kajuharo (acompanhe a história que aconteceu na Índia clicando aqui) se ele se achava esperto, eu era mais esperto que ele. Pedi o meu ingresso de volta e nada de ele me devolver, eu só gritei que ou ele me devolvia o MEU ingresso ou o bicho ia pegar pro lado dele. Como ele não queria confusão, resolveu me devolver . Meu espírito de Varanasi (acompanhe a história clicando aqui) ainda vivia dentro de mim…
Comecei a dar algumas voltas e resolvi entrar em uma das pirâmides. Cara, eu tenho certeza que se eu perguntar aqui pra 90% das pessoas como elas imaginam como seria uma pirâmide por dentro, elas vão me dizer que seria mais ou menos como um negócio assim:

Aquele negócio gigantesco, com vários cômodos por dentro, aquele verdadeiro palácio dentro da pirâmide. Era o que eu achava e é o que eu acho que todo mundo imagina quando pensa no interior de dela, devido principalmente aos desenhos animados. Cara, depois que eu entrei lá, confesso que fiquei até um pouco desanimado com o que vi por lá. Essa é a pirâmide do lado de fora:

Isso é TUDO o que há em uma pirâmide pelo lado de dentro:

Ãhn? Isso mesmo, foi exatamente isso que eu pensei quando entrei. “Mas é só isso?”. Cara, depois que eu parei pra pensar. Os caras fazem uma estrutura GIGANTESCA pra depois deixar só uma kitinete lá dentro? Sei não, esse caras parecem japonês, gostam de fazer tudo grande. Deve ser pra compensar algo…
Bicho e você estava esperando mais o que? Elas foram construídas a mais de seis mil anos atrás SEM ARGAMASSA. Como você acha que seria possível aguentar toda uma estrutura como aquela na parte de dentro? Realmente, não dava pra segurar muita coisa. Mas custava pelo menos deixar umas coisinhas a mais por lá que não só uma cova de um faraó?

Engraçado que quando você vê fotos das pirâmides as imagina no meio de um deserto, mais ou menos como essas duas fotos.

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8 comentários em “Perambulando pelo Egito

  1. hahahahahhaa… Valeu, Claudiomar… Acabou de tirar das minhas costas um grande peso que eu tinha de conhecer as piramides do Egito… Esse drama até eu chegar lá eu já estaria puta da vida e iria querer só voltar pra casa!haha…

    E sim, taxista é filho da puta sim, nao importa se no Egito, na Índia ou no Brasil. Aqui em Dubai uma das empresas é regulamentada pelo governo e é a única que eu confio mais (e mesmo assim não 100%, talvez uns 50%?). Você sabe que nos países árabes (ao menos por aqui) se você chamar polícia para um sacana desses ele está encrencado, né? O problema é achar um policial que fale inglês. Daí eles abusam!

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  2. A quantidade de gente burra local nesses lugares turísticos é assustadora, e incluo o Brasil. Já fiz muita propaganda negativa de cidades por aí, exatamente por terem se aproveitado da minha condição de turista.

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  3. Ei, Claudiomar! Long time no see ya!

    Estive viajando também por esses dias, estava na Patagônia chilena, em Torres del Paine e outras cidades do Chile. Num albergue em Valparaíso conheci um canadense que morou em Jerusalém por 1 ano e claro, passou pelo Egito. Ri muito com uma dica dele sobre Cairo. Ele disse que no meio da rua, perto das pirâmides (locais turísticos) sempre que ele pedia uma informação, algo, perguntavam da onde ele era e quando respondia “Canadá” vinha sempre a resposta padrão:
    “Oh, Canadá, grande país, boas pessoas! Meu amigo, vc não gostaria de blablabla (oferta de algum serviço pago)”
    Daí ele teve a idéia de responder diferente uma vez e assim se sucedeu o diálogo:
    – Meu amigo, da onde você vem?
    – Belize.
    – Oh, boas pessoas! Boa sorte amigo.

    Simplesassim hauahuahauah Ele usou também “Paraguai” e o efeito foi o mesmo 😉

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  4. Ah, também tive probleminhas com taxista desonesto que roubou meu dinheiro (era pouco, mas fiquei puta) e arrancou com o carro quase passando em cima da minha mochila. Mas peguei a placa do cabra pra levar na polícia e também fui no ponto dele ameaçar gritar em inglês pros possíveis passageiros dele que ele era perigoso, que roubava as pessoas e tudo mais. Aí ele devolveu meu dinheiro sem nem discutir o caso 🙂

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  5. Era pra ter sido um relato de experiência interessante, se não tivesse tantos estereótipos como “taxistas sempre serão fdp” e você no final falando da visão das saias das mulheres que subiam à sua frente nas pirâmides. Você não tem vergonha de publicar isso não? Machista!

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