Como chegar a Israel

Brasileiros não necessitam de visto pra poder entrar em Israel. Isso parecia um bom sinal e parecia que eu realmente não enfrentaria problemas pra poder atravessar a fronteira por terra do Egito para Israel. Pra falar a verdade, eu não cheguei a ter muitos problemas pra poder atravessar fronteiras. Apesar de todo terrorismo que sempre fazem quando você fala que vai pra Europa, o mais próximo que eu cheguei de ter algum problema foi a primeira vez que entrei na Europa e ainda assim foi só coisa da minha cabeça.
É, mas eu estava enganado, eu iria enfrentar problemas. Cara, desde a sua fronteira, Israel já começa a te demonstrar o que é viajar para um dos países mais vigiados e tensos do mundo. Pra quem não está muito por dentro do que estou falando, sempre é bom lembrar que poucos países foram atacados tantas vezes no século passado como Israel foi pelos países árabes. Desde a declaração de sua independência, Israel sofre com os diversos vizinhos árabes e/ou muçulmanos que não reconhecem a sua existência. Os bichos já estiveram em guerra contra Síria, Arábia Saudita, Líbano, Iraque, Egito (o mais populoso país árabe e segundo mais populoso da África)… Com alguns deles por mais de uma vez e por algumas vezes com vários deles coligados. Sabendo disso, fica mais fácil entender toda a neurose que Israel possui com a segurança de seus cidadãos no dia-a-dia. Quem desejar se aprofundar ou entender mais como foram as guerras que Israel atravessou durante o século passado, pode ler nesse link aqui.
Bem, já comecei a sentir o que era isso assim que estava saindo da fronteira com o Egito. Cara, já na porta de saída do posto de fronteira do Egito havia uma oficial de Israel que parava todo mundo e começava a fazer aquelas perguntas de “Onde está indo?” “O que vai fazer em Israel” e coisas do tipo. Pensei “Nossa, o posto de fronteira deles é colado no do Egito!”. Pra você que não está entendendo, deixa eu explicar. Geralmente as fronteiras por terra são assim: Você passa o posto de fronteira do primeiro país, percorre mais uns quilômetros e lá na frente há o outro posto de fronteira. Entre os dois postos de fronteiras, nessa “terra de ninguém”, geralmente há casas de câmbio e free shops, geralmente não há nada, mas sempre há mais ou menos um quilômetro distanciando de um pro outro. Por isso achei estranho “Nossa, mas o posto de fronteira é colado mesmo?”. Nada, ledo engano! Depois da entrevista com a mulher, caminhamos mais uns 500 metros de pista e lá tinha uma plaquinha dizendo “Bem-vindo a Israel” e uma outra oficial que começou a nos fazer as mesmas perguntas.

Eu no Monte das Oliveiras
Bem, depois fiquei pensando “Nossa, que coisa idiota, colocar uma mulher a 500 metros uma da outra pra poder fazer as mesmas perguntas”, mas depois me disseram que na verdade esse é um procedimento padrão para se entrar em Israel. Geralmente há uma breve entrevista feita por um oficial israelense no país de origem e quando você chega a Israel, mais uma entrevista antes mesmo de entrar no posto de controle. Pode parecer idiota isso num posto de controle por terra (como falei, uma oficial estava a meros 500 metros da outra), mas em um aeroporto de origem (imagine pegando um vôo no Brasil pra Israel e já sendo entrevistado no Brasil, por exemplo) isso pode fazer toda a diferença. Enfim, fui “aprovado” na segunda entrevista e prossegui pro controle de bagagens.

Passei na esteira e depois fui direto praquelas cabininhas de controle de fronteira, onde eles checam teu passaporte e visto. Antes de passar por lá foi até engraçado. Tinha uma CARRADA de senhoras em fila, todas falando português e falando pelos cotovelos. Elas faziam parte das milhares de caravanas de brasileiros que vão todos os anos para excursões na “Terra Santa” (bom lembrar que Jesus nasceu em Nazaré, que fica no norte de Israel). O guia levou um lero com a oficial da cabine (sim, amigo, só tinha mulher e GATA nos postos de controle israelenses. O que era aquilo?!?!) e ela foi liberando uma senhora atrás da outra. Quando chegou na minha vez:
– Bom dia, senhor. Passaporte
– O senhor fala inglês, Sr. Claudiomar? – perguntou enquanto folheava meu passaporte.
– Sim, senhora.
– O senhor vai fazer o que em Israel?
– Estou viajando pelo mundo, senhora.
– É, posso ver que o senhor viajou bastan… – ela interrompeu a frase no meio e esbugalhou os olhos.
– O que o senhor fez no Líbano e na Síria, Sr.? – tom de voz mudado, ela ficou BEM mais assertiva.
– Er… Eu estou viajando, sabe?
– Quais outros países muçulmanos o senhor viajou?
– Turquia, Malásia, Egito e Indonésia.
– O que o senhor foi fazer em todos esses países?
– Uai, tou viajando pelo mundo, senhora!
– Segue pra aquela salinha ali.
Salinha? Pronto – pensei – é agora que eles me descem o cacete. Fiquei imaginando os bichos me chamando de lagartixa e me jogando na parede. Brincando de Guantánamo comigo…
Entrei na salinha e um oficial grande e gordo começou a me interrogar e fazer as mesmas perguntas. Pra onde vai, por que, onde vai ficar, vai pra algum território ocupado (Palestina) e eu só respondendo. Depois ele meio que começou a fazer um cadastro comigo e perguntou o nome do meu pai, da minha mãe, dos meus avós… e a entrevista foi indo. Depois de me perguntar até minha décima geração começou a parte mais impressionante da entrevista. Não, eu não fui estuprado. Ele perguntou onde eu morava no Brasil. Resolvi dar o meu endereço do Maranhão, já que parecia mais crível. Ele anotou o nome da rua e:
– O senhor pode me dizer um nome de uma rua paralela?
– Er… Rua X
– Ok, e uma rua paralela a rua X senhor?
– Rua Y.
– Pode escrever nesse papel aqui?
– Claro
– E uma rua perpendicular…
Bem, não sei se você notou o que ele estava fazendo. Sim, é isso mesmo que você está pensando. Ele tava conferindo no GOOGLE MAPS onde eu MORAVA!! Depois de uns quinze minutos do bicho praticamente desenhando São Luís inteira no mapa, eles me mandaram sentar num banquinho no corredor e aguardar. Depois de alguns minutos me chamaram em outra sala e começaram a me fazer exatamente as MESMAS perguntas. E eu lá, que nem um paspalho respondendo, mas morrendo de preocupação com o horário.
Sentei em uma cadeira e de repente apareceu uma TURBA de tias brasileiras que estavam viajando para a Terra Santa. Visivelmente empolgadas, elas faziam um barulho danado, felizes, por estar chegando em um lugar tão sonhado. Como não tinha nada para fazer, fiquei puxando papo com elas enquanto aguardava ser liberado.
Rapaz, para que? O oficial me olhou com uma cara de desconfiado e me perguntou:
– Você não disse que tava viajando sozinho?
– Mas estou
– E por que você está falando com essas senhoras?
– Pô, elas são brasileiras, faz tempo que não vejo brasileiros. A gente tava só batendo um papo. No Brasil é ass…
– Salinha
– Pô, cara, eu gosto de falar com pessoas que estão viajando
– Salinha
– Meu, não tem nada demais
– SALINHA!!!
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Ai, caralha, que raiva!! E lá vou eu responder as mesmas perguntas.
Respondi, me deram mais um chá de cadeira e DUAS HORAS depois lá estava eu fora da fronteira de Israel. “Ah, mas de boa, apesar da demora você conseguiu ficar de boa, né?”. Err… Não!

Meninada do serviço militar obrigatório de Israel. Olha a cara de moleque dos meninos. TODO mundo em Israel, apto fisicamente e mentalmente deve servir ao exército. Meninos por três anos e meninas por dois anos. É cumpade, lá o negócio é meio sério…

Cara, nesse dia eu aprendi da pior maneira possível o que significava a palavra “Shabat”. Pra quem não sabe do que estou falando, Shabat é como se fosse o domingo dos judeus. Não é um domingo propriamente dito que nem um nosso, já que o nosso domingo (que teoricamente deveria ser o dia de Deus para os católicos, mas hoje ninguém se lembra mais disso) começa a meia-noite e termina na meia-noite do dia seguinte, que é quando se começa a segunda. Lá não, o Shabat começa no pôr-do-sol da sexta feira e termina no pôr-do-sol do sábado. Entre esse período, amigo, ESQUECE, Israel PARA e pouquíssimo serviços públicos são prestados, na sua maioria por árabes. Trocando em miúdos, eu que achava que ia atravessar a fronteira e pegar um busão direto pra Jerusalém descobri que o último busão pra lá saía um pouco antes do pôr-do-sol e depois só no sábado, ainda assim só um pela tarde (o normal era uns cinco ou seis por dia), ou seja, teria que perder um dia em Eilat, a cidade israelense da fronteira. Tudo isso porque tinha ficado duas horas na fronteira respondendo àquelas perguntas idiotas. Bem, como não me restava o que fazer, o negócio era ficar em Eilat mesmo e aproveitar pra poder curtir o que fosse possível da cidade.

Restaurante de comida etíope em Israel. Eu não sabia, mas a Etiópia tem uma população gigantesca de judeus…
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3 comentários em “Como chegar a Israel

  1. Cara, beleza?

    Bom, sou leitor do seu blog desde que você começou a viagem. Então, de uma certa forma, sei de alguns casos da sua vida, mas enfim… hahaha.

    Queria muito algum contato seu, pois sou repórter da Rádio Bandeirantes, da TV Band, e estou fazendo uma matéria sobre o Couchsurfing. Sei que você viajou o mundo inteiro usando este site, então seria uma ótima fonte. Teria como você me passar seu telefone para que possamos falar?

    Espero sua resposta, se possível por email

    Agradecido
    Vinícius Mendes
    viniciusmendes90@gmail.com
    11 9229 4921
    Twitter: @donviini

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