Primeiro, antes de tudo, Cuba foi um grande aprendizado. Sugiro que qualquer pessoa tente ao menos uma vez na vida viajar a Cuba para conhecer o que é uma realidade totalmente diferente.
Há meio que um consenso, mesmo entre os pró-Fidel e os contra que a Revolução Cubana teve um papel importante na história de Cuba e que ela foi melhor do que viver sobre os auspícios de Fulgêncio Baptista (que no início também se revelou um cara promissor, inclusive promulgando a Constituição mais livre que Cuba já conheceu).
A Revolução Cubana zerou o analfabetismo de Cuba e simplesmente catapultou os índices sociais do país para os de um país de primeiro mundo. Para servir de ilustração, Cuba possui índices de mortalidade infantil e expectativa de vida melhor do que os Estados Unidos que possui um gasto por pessoa em saúde dez vezes maior que o cubano. Conheci um argentino no albergue da Magnólia que um dos motivos dele viajar a Cuba era o de comprar uma medicação de vitiligo para a cunhada dele e que só era vendida em Cuba. Isso é Cuba!
Educação é também outra coisa muito forte no país. Em Cuba, parece que virtualmente qualquer pessoa tem um diploma de curso superior e as pessoas que não tem, me disseram que foi porque não quiseram mais estudar, ou por achar que iam ganhar pouco, ou por preguiça mesmo. Se você é de outra cidade e não tem o curso que você quer, nas universidades há dormitórios para todos, assim você não tem que pagar albergue.
Apesar de ser uma ditadura comunista, há em muitos setores da sociedade muito mais liberdade do que temos no Brasil e até mesmo em alguns países desenvolvidos. A mulher na sociedade cubana é efetivamente incluída no mercado de trabalho e não possuem as disparidades de renda que possuímos no Brasil, onde mulheres recebem quase a metade para fazer o mesmo tipo de trabalho que um homem.
E, claro, o mais visível, não existe a diferença entre as cores como em toda a América. Assistindo um pouco de TV cubana, vi um programa falando sobre uma conferência de médicos cirurgiões que houve em Havana. Você olhava na plateia e via brancos, mas também uns negros, mas negões mesmo, cara, entre os médicos sentados e participando das discussões. Apesar de ser do segundo estado mais negro do país, nunca fui atendido por médico negro no Maranhão e em lugar algum no Brasil. Isso era alguma coisa que eu via e dizia “Cuba é foda!”. Os caras que moravam naquela puta casa que descrevi e nos levaram para uma festa eram todos bem negros e puta inteligentes, eu fiquei impressionado com o nível das discussões que eu levava com um em particular que depois até pedi para bater uma foto com ele. O cara gente boa demais.
O bicho me deu uma aula sobre a importância da liberdade de expressão, liberdade de escolha, viver sobre tirania e coisas assim. Lembrava-me dos debates que travávamos quando eu ainda estava na UnB. Ele dizia “O sistema cubano não é sustentável, em toda nossa história vivemos de parasitar outros países, quando deixou de ser a União Soviética (o que foi um inferno para Cuba quando a União Soviética parou de subsidiar a economia cubana. Ele me contou que um cigarro que hoje custa 7 pesos, naquela época chegou a custar 50), começou a ser Venezuela. Agora com a morte de Chávez quem vamos parasitar? Podemos ter várias coisas, mas você não pode vir aqui e querer me dizer o que é viver em Cuba, eu vivo aqui e sei da dificuldade que às vezes passamos de conseguir sabonete ou papel higiênico. Cuba não é esse paraíso que vocês querem que ela seja.” Isso de um cidadão que trabalhava vendendo cerveja em um bar estatal e recebendo 35 reais por mês de salário. Se fosse no Brasil, o máximo que um figura desses ia conseguir conversar comigo era sobre como o Corinthians fez uma grande besteira contratando o Alexandre Pato que não tá jogando mais nada. Se muito…
E sim, o que mais me deixava impressionado era o nível educacional da população em si. Você ia discutir com um cara sobre a Revolução, quando ele te dava argumentos contra não era aquele besta que você imagina (ah, eu não posso ter um carro, ah eu não posso comprar isso ou aquilo), mas argumentações inteligentes.