Sobre os astecas e maias – México

Os mexicanos se orgulham muito do seu passado.

A bandeira do México traz no meio uma imagem de uma águia comendo uma serpente em cima de um cacto. Diz a lenda que os astecas vagavam pelo México e havia uma profecia que dizia que os astecas deveriam erguer a sua cidade em um lugar onde fosse visto isso, uma águia comendo uma serpente em cima de um cacto. Diz a lenda que eles acharam esta imagem e ergueram a capital do seu império, Tenochtitlán neste local.

Lenda ou não, Tenochtitlán possuía uma população de 200 a 300 mil pessoas no seu auge e sua, digamos região metropolitana, tinha uma concentração populacional de quase 1,5 milhão, o que a fazia uma das maiores concentrações populacionais de todo o mundo àquela época. Tenochtitlán parecia-se com Veneza, com seus canais e aspecto vibrante da cidade.

Quando os espanhóis chegaram a cidade, os astecas estavam no seu auge. Dominavam toda a região, inclusive os povos indígenas vizinhos de quem cobravam impostos extorsivos mais ou menos como em um regime de servidão. Quando os espanhóis chegaram estava plantada a semente que levaria a destruição do império asteca. Já se tornou meio cliché se perguntar como 300, 500 espanhóis conseguiram derrotar um império com milhões de pessoas (se pudéssemos criar um paralelo, seria mais ou menos como um povoado do Maranhão tomando de assalto a cidade de São Paulo e escravizando todos os seus moradores). Como em dois anos, uma cultura de 3000 anos foi transformada em cinzas.

São várias as razões que defende-se para isso ter ocorrido, no final o motivo acaba sendo um acumulado de todas elas.

Existia uma lenda entre os astecas que um dia o Deus serpente desceria a terra sob a forma de um homem branco e com pelos na cara (índios não tem barba) acompanhado de seus filhos e semelhantes. Defende-se que essa lenda se originou devido a visita dos vikings algumas centenas de anos atrás ao continente americano e ao fato dos índios terem se impressionado com a barba e a brancura da pele dos nórdicos. Quando Montezuma ouviu falar que torres flutuantes chegaram a praia com bestas que cuspiam fogo pela boca (os tiros de mosquetes dos espanhóis), não teve dúvida que esse momento tenha chegado. Para quem acha que isso é baboseira, Montezuma chegou a convidar Cortéz para ser hóspede em Tenochtitlán, onde ele permaneceu por meses. Houve uma rebelião no litoral e levaram a cabeça de um capitão espanhol para tentar fazer Montezuma acreditar que os espanhóis eram humanos e não deuses, ainda assim ele não se convenceu. Só depois de uma rebelião em Tenochtitlán, em que Montezuma foi morto, não se sabe pela população ou pelos espanhóis, que os astecas começaram a reagir contra a dominação espanhola.

A partir daí entraram as principais armas espanholas. Primeiro que os espanhóis eram bem mais desenvolvidos tecnologicamente, tinham conhecimento do aço, pólvora e uma poderosa marinha perfeita para bombardear cidades com bolas de canhão, enquanto os astecas tinham tacapes de madeira com pedras de obsidiana (uma pedra vulcânica extremamente afiada). Além disso, os espanhóis espalharam doenças que hoje são banais, mas que naquela época dizimaram 90% da população indígena como sarampo, gripe, catapora e, principalmente, varíola. Com uma população doente, é mais fácil você atacar. Porém, a principal arma de Cortéz foi a política, que ele sabia manejar muito bem. Os espanhóis passaram centenas de anos para reunificar os seus territórios que estavam sob domínio árabe e a diplomacia foi uma de suas principais armas para isso. Depois foi só usá-la contra os astecas.

Aproveitando-se do ódio que os povos indígenas dominados tinham dos astecas, Cortéz conseguiu montar um exército de mais de 100 mil indígenas para tentar tomar Tenochtitlán. Esses indígenas não eram só números, eles conheciam o terreno, as estratégias utilizadas pelos astecas, suas linhas de suprimento e como eles guerreavam. Isso se tornou uma imensa vantagem para Cortéz. Ainda assim, a cidade resistiu bravamente por sete meses, um dos mais prolongados cercos da história, ainda que estivesse devastada pela peste e pela convulsão social a que foi acometida.

Depois da queda de Tenochtitlán, o inferno na terra foi dado aos astecas. A tripulação de Cortéz não era composta de cientistas ou liberais, mas sim da pior corja possível existente na Espanha e prisões foram esvaziadas para compor a sua tripulação (quem mais iria se arriscar em uma viagem mar adentro que matava a maioria dos seus tripulantes?). Então, o único interesse de tais espanhóis era enriquecer da forma mais rápida e “barata” possível, ou seja, por meio do trabalho exaustivo e até a morte dos indígenas dominados. Quando a Espanha se jogou no mar com as caravelas de Colombo, o que eles pretendiam fazer era achar um caminho até as Índias por meio de volta ao mundo, já que Portugal já dominava o caminho contornando o continente africano. Depois de perceberem que eles não haviam chegados às lendárias índias e de que perceber que ir as índias por meio de volta ao mundo era extremamente caro (Fernão de Magalhães foi um dos poucos que fez isso naquela época sob um custo altíssimo, inclusive de sua vida), os espanhóis se decepcionaram e invejaram os portugueses. Começaram a pensar em outra “utilidade” para o continente americano. Quando ouviram falar de contos de cidades feitas de prata e ouro no continente americano, os seus olhos brilharam e eles viram que era hora de ganhar dinheiro. Irônico q depois de alguns anos a Espanha ficou podre de rica com a exploração da América Central e Portugal teve que ir explorar o Brasil pois viu-se que o comércio com as Índias não era tão rentável assim.

Mas se um pressuposto básico da diplomacia, é que você possa conversar, como os espanhóis se comunicavam com os indígenas? Algum dos componentes da tripulação de Colombo, não regressaram para a Espanha (para que diabos você vai pegar o inferno de outra viagem?) e ficaram em terras indígenas, compondo famílias e se misturando a cultura local aprendendo, lógico, a língua. Eles serviram de guias aos espanhóis. Mas a principal tradutora de Cortéz durante a sua dominação do México foi uma indígena chamada Malinche, que falava duas das principais línguas indígenas da região, depois aprendeu espanhol e se casou com Cortéz. Os mexicanos tem um ódio tão grande dessa mulher que o termo “Malinchista” se tornou sinônimo de traidor, o Judas mexicano (sim, eu vi os caras xingando “malinchistas” enquanto a gente via futebol na TV).

Depois da dominação houve a conversão. Índios que se convertiam ao catolicismo tinham um tratamento menos infernal (não que deixassem de ser explorados até a morte) pelos espanhóis. Dessa forma, hoje o México é um dos principais países católicos do mundo. Isso não quer dizer que a Igreja Católica desempenhou um papel social na América Latina, pelo contrário, também explorou os indígenas baseada no seu próprio interesse. A única exceção ficou por conta de alguns franciscanos que durante anos denunciaram os maus-tratos e a exploração indígena. Como os indígenas eram analfabetos, as igrejas eram decoradas com artes trabalhadas e figuras gigantes de santos católicos para que fosse mais fácil a sua conversão, motivo de toda a decoração das igrejas que pude visitar no México.

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