Na volta tudo indicava que seria bem mais de boa. Primeiro porque eu já sabia mais ou menos como seria a viagem, segundo que eu sabia que não tinha como me extorquirem já que eu não precisava de visto pro Senegal e por último, bem, meu intestino já tinha dado uma melhorada e o desespero de viajar sem banheiro diminuíra bastante.
Mas tudo só indicava e era óbvio que não ia sair tudo de boa, aparentemente viajar na África subSaariana é assim, você tá sempre no fio da navalha.
A viagem de volta começou a demonstrar que seria de altas aventuras com uma galerinha do barulho na sessão da tarde quando ainda no dia anterior, o taxista que havia me levado e me trazido de Banjul me cobrando 50 reais por isso (uma viagem de 15km e mais 15km de volta) me pediu OITENTA reais para poder estar na porta do hotel no outro dia as seis da manhã e fazer uma viagem de apenas 5 km. “A esse horário da manhã não há táxis na rua e ninguém vai aceitar te levar por menos que isso” – ele me disse. Achei que era papo de taxista então resolvi pagar para ver. Antes de ir dormir conversei com o que parecia ser o gerente do hotel e ele me garantiu que as seis da manhã haveria vários táxis à porta do hotel e bastava eu escolher um para ir à estação de ônibus. Eu não pagaria mais do que 20 reais por isso. Ainda assim, por via das dúvidas ele iria orientar o balconista a chamar um táxi para mim assim que eu acordasse. Já sabe o que aconteceu, né?
No outro dia, por via das dúvidas, preferi acordar as 05:30 da manhã e fui para a recepção do hotel. Cheguei lá, tudo escuro e só um pobre de um fi de uma égua dormindo em um colchão no chão. Por óbvio acordei o cara, falei que precisava de ajuda para conseguir um táxi: – Não ando de táxi – respondeu o fi de uma quenga e voltou a dormir sem nem se dar ao trabalho de olhar na minha cara. Já eram rodados seis da manhã e meu busão saía as sete e meia. Já tinha visto no google maps que do hotel em que eu estava até a estação de busão era uma hora caminhando. Não tive dúvidas, baixei o mapa offline da região no celular (já que eu não tinha 4g), liguei o GPS e vamo embora.
Cara, era seis da manhã, estava um BREU nas ruas. Ainda bem que não havia uma vivalma na rua porque eu estava preocupado de ser atropelado, haja vista que não havia iluminação pública e as poucas luzes vinham das casas. Mochila nas costas e vambora.

Saí caminhando e depois de uns quinze minutos para um carro do meu lado. Abaixa a janela e sai aquela marofa de maconha lá de dentro:
– Para onde você vai?
– Estação de ônibus
– Sobe aí, cabra!
– Tá, mas você vai me cobrar quanto
– Paga o que você quiser
Tinha tudo para ser golpe, mas que escolha eu tinha?
Olhei para um lado, olhei para o outro. Pensei que, bom, no Brasil eu nunca faria isso, mas que, como me haviam garantido que a Gâmbia era um país seguro, subi no carro do cabra. Ele chamava Abraão e era um cara muito simpático. Me foi explicando que dificilmente eu iria conseguir um táxi por aquelas vias àquela hora porque todos estavam esperando as orações matinais para sair de casa (os muçulmanos fazem cinco orações ao dia). Me falou que com muita sorte eu iria conseguir um motorista cristão para me levar ou alguém que estivesse indo ao trabalho, que era o caso dele. No final o pobre do Abraão entendeu que eu estava indo para a estação de polícia e não para a estação de ônibus. Acabou desviando um pouco do caminho mas conseguiu me deixar um pouco mais perto no que parecia ser a principal avenida da cidade. Desci do carro, agradeci efusivamete ao cabra e já comecei a correr temendo perder o busão. Dei três pinotes e parou um táxi do meu lado. Dessa vez mostrei no google maps e o cara me cobrou 15 reais para me levar de lá até a estação de ônibus.
Consegui chegar quase quarenta minutos antes do busão sair e isso foi crucial para eu poder viajar.
O ônibus começou a encher e, de repente, começa um burburinho do lado de fora do busão, um “tua mãe não é homem para um lado”, “teu pai não é mulher pro outro”, poeira voando, cachorro caramelo no meio e populares com ânimos exaltados. Eu sentado no meu banquinho e só observando. De repente vem um cara e pede para ver o meu tíquete de passagem. Ele desce e o cara do lado de fora fica apontando para mim. Depois vem outro cara e checa meu tíquete de novo. E outro. E outro. E toda hora que checavam meu tíquete o cara embaixo soltava as penas para todo lado. Aparentemente venderam a mesma passagem para mim e pro cidadão embaixo. Eu me amarrei no meu assento e não saía de lá de jeito nenhum. Só sei que o busão saiu e deixou o pobre do cara lá fora que a essa hora já xingava pelo menos cinco gerações de todo mundo da empresa. Quase que eu não saio da Gâmbia.
Uma lição que eu aprendi (devido a minha experiência e ouvindo relatos) foi a de, sempre que viajar na África Subsaariana, viaje com prazos alargados porque muita coisa pode dar errada.
Meu dessaranjo intestinal continuava e o busão continuava sem banheiro, então eu teria que tomar cuidado. Uma coisa que eu aprendi foi que quando você está ruim de estomago ou intestino (no meu caso os dois) deve evitar comer frutas e outras comidas frescas (que podem conter bactérias e outros patógenos) e dar preferência a alimentos bem cozidos ou frito ou… ultraprocessados. De preferência com bastante sódio e conservantes e prazos de validades de cinquenta anos. Não tive dúvidas. Antes da viagem comprei duas caixas do mais puro Pringles e estavámos preparados para seguir viagem.
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Rapaz….vc é um cara batuta. Um arrombado de sorte. Kkkkkk
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