VIAJANDO PELO CATAR

Confesso que o Catar meio que habitava o meu imaginário desde a época da Copa do Mundo. Eu meio que tentei de tudo para poder ir assistir a Copa de 2022, mas, cara, estava muito caro e inviável viajar pro Catar, quem dirá comprar ingressos para ver jogos.

Como o Catar é lar de uma das principais companhias aéreas do planeta, eu sabia que seria uma questão de tempo eu ter a oportunidade de conseguir um voo com conexão no Catar e ficar por lá nem que fosse algumas horas.

Então, nessas férias, comprei um voo para Dubai com conexão no Catar e lá vamos nós.

O Voo

Depois que eu comprei a passagem que eu fui ver. O voo tinha uma conexão em São Paulo (esperado) e depois tinha um singelo voo de CATORZE horas até Doha, no Catar. Mano, eu acho que o único voo que eu peguei parecido com isso foi o da Austrália há vinte anos atrás. Catorze horas é quase um Brasília-São Paulo de ônibus.

Fiquei um pouco preocupado porque a viagem de busão pelo menos você vai parando, dá uma volta nas rodoviárias e volta para o busão, mas ainda assim é cansativo. Você dorme em uma poltrona que reclina bem, geralmente com suporte para as pernas e ainda assim é cansativo. Imagina viajar 14 horas de avião com uma poltrona que reclina meio centímetro e sem poder sair do avião? No final, acabou que foi menos cansativo do que eu pensava. Hoje em dia eu levo tablet e celular com horas de vídeos do Youtube e filmes do Netflix e um videogame portátil, então é bem mais de boa porque você tem bastante distração. Até consegui dormir bem no avião. Enfim, o importante foi que eu cheguei.

Chegando em Doha, capital do Catar

A primeira coisa que chama a atenção quando você pisa em Doha é o tanto de gente asiática, tanto de olho puxado quanto indianos. É impressionante o tanto de filipinos e indianos, paquistaneses e bengalis que vão ao Catar para poder trabalhar nos empregos de baixa qualificação como faxineiros, serventes e coisas do tipo. Mas, assim, ainda acho que a maioria são de filipinos. O Brasil chegou até a começar um movimento desses de importar filipinas para ser empregas domésticas, mas não sei se foi para frente. Dá para ver na reportagem abaixo:

https://vejasp.abril.com.br/cidades/babas-empregadas-filipinas

Também tem bastante gente de países africanos, muito deles do Quênia e Somália, mas, apesar de serem países mais próximos, ainda assim os filipinos se destacavam.

Trabalhadores braçais aguardando o ônibus do trabalho. Provavelmente indianos
Esse mascote aqui gerou polêmica na época da Copa do Mundo de 2022. Diziam que eram o pano mortuário pros trabalhadores que morrreram nas obras de construção dos estádios

Eles geralmente enfrentam uma situação muito delicada, direitos trabalhistas mínimos e até mesmo casos de morte por exaustão. Eles chegam no Catar e entregam o seu passaporte para o contratante e só podem voltar pro país quando o contratante autorizar. O negócio é bem tenso. Isso quando não vem e são obrigados a contrair dívidas e mais dívidas ficando escravizados por dívidas sem ter como voltar para casa. Ainda assim, a maioria dos indianos e filipinos que eu pude conversar me disseram que gostavam da vida no Catar, diziam que era bem mais de boa que a vida deles em casa e ganhavam bem mais. Tudo bem que as pessoas que eu conversei falavam inglês e trabalhavam em hotéis ou restaurantes, então tinham empregos melhores, mas ainda assim isso me chamou a atenção. A parte boa deles é que se você precisa pedir informação, é só procurar um não-árabe e sair perguntando, porque ele com certeza vai falar inglês. Então isso ajudava a conseguir informação e ajuda. Os árabes em si, gerentes e donos dos negócios, não sabiam falar inglês muito bem, mas os estrangeiros sim, até porque é difícil aprender árabe, então todo mundo meio que tem que falar inglês em Doha para poder se virar.

Andando pelo mercado eu vi uma comoção ao redor desses rapaz. Provavelmente era um youtuber famoso do Catar

É caro viajar no Catar?

Cara, como eu falei, eu sempre fiquei com um pé atrás para poder viajar no Catar imaginando que era um país muito caro. Porém, entretanto, na verdade, eu achei bem de boa.

Para começar eles têm um metrô que, quando eu fui, custava menos de 10 reais por dia e você podia andar o tanto que quisesse, inclusive pro aeroporto, e vai nos principais parcos pontos turísticos. Então comprei dois tíquetes de um dia e, com menos de 20 reais, andei Doha inteira. Assim, dá para você comprar um outro tíquete que custa cinco vezes mais caro. O metrô vai cinco vezes mais rápido? Não, é o mesmo trem, só que o vagão mais caro você tem umas cadeiras um pouco mais cheia de fuleiragem e não se mistura com a plebe. Dá para acreditar?

Você começa a entender que está em um país muçulmano quando abre a gaveta e vem um Alcorão. Por aqui quando a gente abre a gaveta tem uma bíblia, né? Geralmente o Novo Testamento
Interessante como as placas de lá representam as pessoas andando com a roupa tradicional do Catar

Outra coisa que é interessante é que você tem vagões “padrão” onde os homens desacompanhados vão e vagões “família” para mulheres e crianças. Sinceramente, vi só as mulheres que pareciam ser árabes usando os vagões de  família, as filipinas e indianas andavam no vagão padrão mesmo.

Metrô só para mulheres e família
Eu só andava no metrô de pobre…

Falar nisso, véu na cabeça só nas mulheres árabes, as filipinas e indianas andavam sem nada na cabeça e andavam mesmo de calça jeans que nem no Brasil. Na verdade, cheguei a ver uns filipinos só de bermuda e chinelo, o que é meio raro em países árabes mais tradicionais.

Filipino de bermuda dentro do metrô

Uma garrafa d´água você comprava no mercado por um real e pouco, metade do preço do Brasil. A comida podia ser cara (o café no hotel custava módicos 65 reais), mas, cara, em frente ao hotel onde eu trabalhava tinha um restaurante indiano que parecia ser o point da galera que era trabalhadora braçal. Resolvi dá um pulo lá e pedi um arroz indiano com galinha. Mano, veio uma salada de entrada, um pedaço de frango do tamanho de um braço, dois molhos e uma bacia de arroz indiano. E, era assim, você acabava o arroz, o cara vinha e despejava ainda mais arroz no seu prato. No parco inglês que o garçom falava ele realmente me falou que o arroz era à vontade e, bem, eu gosto é do arroz indiano, galinha eu tenho em casa. Comi mais que uma manada de elefantes famintos e levantei da mesa quase que rolando. A conta, QUINZE. Dólares? Não, mano, QUINZE REAIS. Cara, sério, desde a Tailândia eu não comia tão barato assim. Dei o dinheiro pro cara imaginando que eu tinha entendido errado esperando ele reclamar e ele só guardou e foi atender outro. Mano, não teve jeito, comi todas as refeições em Doha lá, já que era praticamente de graça e em frente ao meu hotel.

Sim, eu só comia isso aqui

Perabulando por Doha no Catar

Quando cheguei a Doha imaginei que todo mundo andava de Ferrari ou ficando doce que nem caramelo andando de Camaro amarelo, aquela visão que a gente tem dos sheiks cheio de ouro, né? Mas não, eu vi poucos carros de luxo pela rua.

Agora fiquei doce, igual caramelo…

Outra coisa é que eu imaginava que ia chegar e ia ser quente como o próprio inferno, mas não, o clima era bem fresco, eu chegava até a usar casaco a noite. Tudo bem que eu fui no auge do “inverno” deles, fui em janeiro, mas ainda assim esperava um calorzinho. Mas sim, em julho é o próprio inferno na terra, com temperaturas acima de 45º os comércios costumavam abrir de cedo na manhã até meio dia e depois só reabrem 17h porque ninguém mais aguenta ficar no meio da rua devido ao calor.

Desci no aeroporto no sábado a noite e segui direto para dar uma volta na zona mais moderna de Doha. Engraçado que todo mundo que eu ia pedir informação me perguntava se eu tinha vindo para poder assistir aos jogos. Me perguntavam se eu era iraniano, indiano, até do Uzbequistão me perguntaram. Depois que eu fui ver e era porque estava acontecendo a Copa da Ásia em Doha.

Bandeiras das seleções que estavam participando da Copa da Ásia 2023
Ainda me deparei com uma torcida da Indonésia pra lá de animada

Como o Catar não tem essas frescuras de necessidade de transparência dos gastos, investimentos mínimos em saúde e educação, população indignada nas ruas por conta de desperdício de gastos em estádios que depois viram elefantes brancos e outras besteiras que a gente tem no Brasil, eles gastaram na Copa do Mundo em 2022 como se não houvesse amanhã. Eles construíram sete estádios, que mais pareciam palácios, em um país com metade do tamanho de Sergipe e com a população da cidade de Belo Horizonte. Enquanto o Brasil gastou 15 bilhões de dólares para se preparar para a Copa  (e deu aquele bafafá todo), o Catar gastou 229 BILHÕES de dólares. E dane-se. Você anda por Doha e vai vendo um estádio atrás do outro. Cara, eu sou capaz de apostar que o Catar é o país com mais estádios per capita do mundo.

Então, assim, com estádio para todo lado, eles podem hospedar a Copa que quiserem, desde a Copa do Mundo à Campeonato Infantil Interclasses de Mossoró.

Cara, pior que eu desci em um dos centros mais modernos de Doha, em um sábado a noite e não tinha ninguém nas ruas. Parecia cena de apocalipse zumbi, espaços amplos e imensos, prédios super iluminados e aquele vento frio passando. Mas, isso é de se esperar, como provavelmente não deve ter vida noturna alguma em Doha, um sábado à noite é como uma terça à noite para gente. Muito diferente de outra capital árabe, Beirute, que ferve no fim de semana a noite (leia mais sobre minha viagem a Beirute aqui https://omundonumamochila.com.br/2010/03/17/perambulando-por-beirute/)

Enfim, passei pouco tempo em Doha, mas acho que foi o suficiente para ver a maioria das poucas coisas interessantes que haviam por lá. Depois de Doha, segui para o meu próximo destino, Oman.

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