Seguimos para Yazd que, conforme falei, é a cidade principal para os Zoroastras. Primeiro iríamos dar uma volta nela e depois acompanhar a celebração da Ashura, que vou explicar em outro post. Ciro tinha, de alguma forma, conseguido reservar um apartamento para gente. Quando chegamos o lugar era super agradável, só que não era só para gente. Iríamos ter que dividir. COM POMBOS! Rapaz, aquilo não era um apartamento, aquilo era um viveiro de pombo! Eu nunca tinha visto aquilo! Era pombo para todo lado. Pombo na janela. Pombo na sala. Pombo na varanda. Pombo na cama. Pombo na cozinha. Pombo em cima de pombo… Lugar sujo, sério, troço ruim mesmo.
Não tínhamos muita escolha. A cidade tava apinhada de gente, hotéis lotados e eu realmente comecei a considerar ficar por lá. Até a hora que o Ciro foi na sacada e viu um CADÁVER de um POMBO se decompondo e começou a surtar. É, aí já era um pouco demais. Cemitério de Pombo também não! Pegamos nossas coisas e acabamos indo embora.
Na volta que demos por Yazd, visitamos o Templo do Fogo Zoroastra, um local sagrado para todos os Zoroastras do mundo que peregrinam a Yazd para ver o fogo que está queimando desde o ano 470 d.C.Além disso, visitamos também um museu aos qanats, um engenhoso sistema de escoamento de água onde os caras fazem túneis subterrâneos com inclinação milimétrica por QUILÔMETROS para levar água de lugares mais altos para lugares mais baixos, e as Torres do Silêncio de Yazd (os Zoroastras acreditam que o corpo humano é uma extensão da natureza e assim deve ser quando a alma se for. Por isso, não enterravam seus mortos. Os levavam para as torres do silêncio no alto de montanhas onde poderiam ser devorados por urubus acreditando, assim, estarem se conectando novamente com a natureza).
Dormindo em um Caravansarai
Na nossa primeira noite no Irã, ficamos em um Caravansarai tipo de hospedaria que se encontra sobretudo no Oriente Médio e Ásia Central e servia basicamente para mercadores da Rota da Seda em direção a China ou Europa. Eles geralmente se situavam à beira de estradas e tinham uma função importante no apoio aos fluxos comerciais, proporcionando um local seguro aos comerciantes em viagem. Lá eles podiam descansar tendo as suas mercadorias e camelos em segurança, sendo uma peça fundamental da extensa rede de rotas comerciais. A construção que ficamos tinha quase 500 anos, parecia um forte, era quase que no meio do deserto e foi restaurada para acomodar viajantes.
Conversamos bastante com o responsável pelo lugar e ele nos explicava como era difícil a vida de quem trabalhava com turismo no Irã, apesar do potencial absurdo do lugar. Ele havia conseguido a licença do governo para usar o lugar há 15 anos. Disse que, quando chegou, o lugar tava só o bagaço, ele que restaurou junto com os funcionários. Mas aí, veio o 11 de setembro em 2011. Depois Guerra do Afeganistão. Depois, quando as coisas começaram a melhorar, Guerra do Iraque, Programa Nuclear do Irã e por aí vai. E ele vivia entre ciclos de euforia e queda. O lugar era fino, famoso, dizia ele que já havia recebido diversos embaixadores, até o do Brasil. Porém, estava há 15 anos trabalhando, sem folga e nem fim de semana e agora estava cansado. Aquele momento em que a política e a ambição de poucos atrapalham quem só quer trabalhar e viver a sua vida em paz.
Por uma noite, me senti um Marco Polo na Rota da Seda.
No centro do Caravansaria, no elevado, os comerciantes podiam deixar as suas mercadorias. Os camelos eram deixados do lado de fora, em uma hospedaria própria. Coisas do Irã.
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