A Ucrânia ainda vive uma guerra com a Rússia. Apesar de ter diminuído a intensidade dos combates, ainda morrem soldados dos dois lados ocasionalmente.
Para entender melhor, narro o que ocorreu com a gente. Estávamos conversando com um amigo ucraniano em um restaurante e ele começou a falar que a Rússia era um país que não tinha muito futuro, afinal cada vez mais se envolvia em conflitos, porém com uma economia cada vez mais claudicante. Foi ele falar “Russia has no future” que um cara que estava comendo na mesa atrás, olhou para a gente, parou de comer, tirou a colher da boca se levantou e veio falar na nossa mesa com uma cara de poucos amigos:
– Com licença, amigo, meu inglês não é muito bom, mas eu ouvi você falando que a Rússia é um país que tem futuro. Eu vim aqui para lhe dizer que isso não é verdade e lhe demonstrar que a Rússia, pelo contrário, é um país sem futuro…”.
Só que, não foi algo, assim, tão de boa. O cara tava visivelmente nervoso. Ainda bem que nosso amigo era ucraniano e explicou para ele, em ucraniano, que estava dizendo exatamente o contrário, que a Rússia NÃO tinha futuro. Aí o cara se acalmou e voltou para a mesa dele e voltou a comer normalmente.
Não, o cara não era um cabeça raspada ou alguém com cara de mal-encarado. Era um cidadão normal, mano, assim como qualquer um que você pode ver na rua.
Como ficamos assustados, nosso amigo pediu que nos puséssemos no lugar dos ucranianos. Você tá ali, vivendo sua vida normal e de repente um dos países mais poderosos do mundo invade seu país. Não satisfeito começa a ir tomando cada vez mais espaço até a hora que você vê que vai chegar à sua cidade. Daí você pensa “Eu tenho uma filha, o que eu faço¿ Eu fujo para outro país¿ Eu fico aqui¿ Eu me alisto no Exército¿”. É realmente uma coisa muito louca e bem distante da nossa realidade no Brasil, mas ninguém sabe o que passa na cabeça do cara que se levantou da mesa para falar com a gente. Será se ele tem parentes lutando agora mesmo contra a Rússia¿ Será se ele LUTOU na guerra¿
Mano, só sei que depois disso, entre nós, os brasileiros, estava proibido sequer citar a palavra Rússia. Até mesmo em português. Quando queríamos falar sobre qualquer assunto em que precisássemos citar o nome da Rússia (sei lá, coisa do tipo “você já viu em que hotel vai ficar quando chegar na Rússia¿”. Tava todo mundo indo para Copa ali, então falávamos muito o nome do país) nós falávamos “Argentina”. Se precisássemos falar Moscou, falávamos “Buenos Aires”. Presidente Putin da Rússia¿ “Kirchner” (ex-presidente argentino). Guerra Ucrânia-Rússia¿ “Guerra das Malvinas”.
Não raro era possível ver a gente conversando, mesmo em português, coisas do tipo “Rapaz, eu ainda tou procurando algum lugar para ficar quando chegar na `Argentina´, o albergue que vi em `Buenos Aires´ parece ser um lixo” ou então “Rapaz, outro dia passei ali e vi um cara vendendo papel higiênico com a cara do `Kirchner´, o povo daqui não gosta mesmo dele por conta da `Guerra das Malvinas´…”. Foto do papel higiênico existe mesmo, até dá para ver abaixo:
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Um comentário em “GUERRA UCRÂNIA – RUSSIA. QUASE APANHAMOS EM UM RESTAURANTE POR CONTA DISSO. SÉRIO.”