Em Teerã, dei uma checada no Couchsurfing para ver se havia algum evento bacana por lá. Qual não foi a minha surpresa em perceber que havia um cara marcando de caminharmos pela maior rua do Oriente Médio! Sim, era uma rua que conectava o Norte ao Sul de Teerã e tinha mais de 20 kms. Era o famoso passeio da rua Valsiar, caminhada que diversos iranianos tem que fazer pelo menos uma vez na vida! Quase uma peregrinação a Meca!
A rua era bacana porque passava por diversos parques e lugares turísticos de Teerã! Um convite como esse nunca se diz não ainda mais porque iria ser uma ótima oportunidade para eu conhecer e conversar com iranianos. Muitas das informações que coloquei aqui sobre a vida no Irã foram tiradas de conversas nesse dia. Até porque, bem, 20 kms de caminhada é um passeio bem longo. Começamos as nove da manhã e só fomos terminar por volta das cinco da tarde.
Para começar, Valsiar é uma figura religiosa parecida com Dom Sebastião de Portugal (para ler mais sobre Dom Sebastião clique aqui e saiba como a história do Marrocos e do Maranhão se cruzam). Assim como dom Sebastião, ele sumiu em batalha há centenas de anos e, assim como Dom Sebastião, vários acreditam que ainda está vivo e que irá voltar para ajudar os crentes à salvação!
Quando nos encontramos as nove, fomos sair para tomar café. Eu já tinha comido, mas os acompanhei. O Mashoud, rapaz que tava organizando o tour, me fez comer uma coisa lá que, segundo ele, era tradição no Irã. Era tranquilo. Eles basicamente pegavam trigo, canela, açúcar e CARNE. E BATIAM NO LIQUIDIFICADOR! Sim, parece gororoba que galera em gincana para ver quem engole mais rápido. Mas não, os caras realmente comiam aquilo. No café da manhã. E o pior é que, além de comer, ele comprou um pote grande para dividir comigo. E não teve como recusar, afinal, aquilo era quase um presente! Coisas do Irã!
Como é o gosto? Rapaz, pensa em uma carne com açúcar batida no liquidificador e imagina você engolindo aquela gosma. Pensou?
É ainda pior quando você come de verdade!
Todos do grupo eram iranianos e, de alguma forma ou de outra, trabalhavam com língua inglesa. Alguns professores de inglês, outros estudavam literatura inglesa, outros estudavam turismo!
DESCOBRINDO TEERÃ – CONVERSANDO COM IRANIANOS
A primeira coisa que pude perceber é que os iranianos de Teerã são MUITO diferentes dos de outras cidades. Eles são mais urbanos, classe média e parecem com a gente: pouco se importam com sua religião e adoram falar mal do governo. Mesmo em lugares públicos, eles ficavam falando comigo de assuntos sensíveis, descendo o pau no governo. Sei que era em inglês, que quase ninguém no Irã entende, mas mesmo assim, eu ficava meio gelado e nem dava muito assunto. Minha preocupação não era nem problema comigo, era mais com eles mesmo! Além disso, um couchsurfer que eu conversara dias antes me disse que havia suspeições que agentes do governo faziam perfis no site para fiscalizar o que estrangeiros faziam pelo Irã. Bem, eu não duvido de nada! Qualquer pessoa pode fazer um perfil lá. Só ficava era preocupado de algum deles ser um desses e arrumar problema para os outros que conversavam comigo.
Mas cara, foi uma experiência maravilhosa, sabe? Iranianos são muito simpáticos e gente boa. O Mashoud, organizador do evento, a todo momento ficava querendo me agradar, me explicando as coisas. Até me disse que uma vez viajava na Turquia e conheceu uma brasileira no albergue. Disse que ficou impressionado da forma como ela ia dormir, que ela só colocava um shortinho e um top. Uma iraniana nunca faria isso – ele dizia. Eles ficaram super amigos e quando ela foi embora, deu um abraço nele. Rapaz, diz que ele ficou impressionado! Uma mulher estranha, que ele não estava se relacionando e nem era da família, NUNCA tinha dado um abraço nele! Disse que ficou impressionado com isso. Engraçado, né? Para gente é tão normal. Ele falava impressionado, mais com uma inocência mesmo. Depois ele disse que uma costa riquenha que ele também ficou amigo, também deu um abraço para se despedir, mas o da brasileira foi especial por ter sido o primeiro!
No outro dia Mashoud ainda marcou um passeio porque queria porque queria me apresentar a cidade. Agradeci, mas falei que estava cansado e não queria me comprometer com ninguém. Ele marcou mesmo sabendo que eu não ia.
Quando foi no outro dia, eu tava passeando pelo centro de Teerã e quem eu encontro? O Mashoud e parte do grupo que eu havia conhecido um dia antes. Depois que o Mashoud terminou o tour, ele ainda me levou a um lugar que eu estava DOIDO pra visitar no Irã, a Embaixada Americana que foi invadida por estudantes iranianos em 1979, que fizeram centenas de reféns, e gerou uma crise absurda para o governo Carter (quem quiser entender mais sobre a crise da invasão da Embaixada Americana, clique aqui https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_dos_ref%C3%A9ns_americanos_no_Ir%C3%A3).
Os grafites que fizeram na parede contra os Estados Unidos são mundialmente famosos. Porém, o livro guia sugeria bater fotos com discrição, que poderia dar problemas, pois hoje era uma base dos Basij (não lembra o que são os Basij? Clique aqui https://omundonumamochila.com.br/2016/11/18/ira-pos-revolucao-islamica-o-pais-de-khomeini/) e também um centro de contra espionagem. Adotei um pouco de cautela quando cheguei porque, bem, tudo o que eu não queria era ir preso na minha última noite no Irã! Mas preso o que, rapaz? Eu tava com Mashoud! O bicho me pegou pelo braço, me levou lá. Quando chegou, ele fez foi entrar lá para perguntar se os caras deixavam eu passear lá dentro! Óbvio que não deixaram, mas falaram que bater fotos era de boa! Se fosse eu sozinho, só ia bater foto de um jeito bem discreto. Com Mashoud, bati com flash, sem flash, eu nas fotos e tudo! Cara gente boa demais! Coisas do Irã!
Se eu vou postar aqui no blog? NUNCA! Se essas fotos caem na internet eu nunca mais entro nem no Paraguai!












