A religião é algo interessante. A Armênia foi o primeiro país oficialmente cristão da história. Sim, da história. No ano 301 depois de Cristo (dãããã), mais uma vez, antes de Roma (sempre bom de lembrar), o reino Armênio virou Cristão sob a influência de Gregório, que hoje é o principal santo da Igreja. Bem, porque eu tou falando isso tudo agora? Para chegar no ponto principal que foi o genocídio armênio.
Durante toda sua história, os armênios se viram comprimidos entre três gigantescos e super poderosos impérios: o Russo, o Turco e o Persa. De uma forma ou de outra, eles iam ali dando seu jeito e vivendo do jeito que dava. Em determinado momento, a Armênia estava dividida entre o Império Russo e o Império Turco. Porém, os turcos nunca confiaram muito nos armênios porque eles tinham muitas relações com os europeus e, principalmente, porque os Armênios são cristãos e os Turcos, Muçulmanos. Na verdade, essa desconfiança turca meio que resvalava para todos os não-muçulmanos, como os Assírios e os Gregos (sim, havia vários gregos no Império Turco, ainda resquícios da época em que os gregos colonizaram aquela região).
No começo do século XX, o outrora poderoso Império Turco-Otomano era o grande homem doente da Europa (na verdade já tinha perdido todos seus territórios por lá, só mantendo as regiões ao redor de Constantinopla) e estava caminhando para o seu esfacelamento. Os Armênios, aí notando uma oportunidade, começaram a se mobilizar pela sua independência, porém ficaram isolados e não conseguiram tanto apoio. Devido a isso, a relação com os turcos, que já não era boa, se tornou terrível.
Com o fortalecimento do movimento dos Jovens Turcos, houve início a política de “Turquificação” do Império Turco-Otomano. Ou seja, bem, tornar turco quem não era. Como os armênios eram uma pedra no sapato dos turcos há algum tempo, a coisa começou a ficar feia pro lado deles. Com o estouro da Primeira Guerra Mundial, os armênios foram acusados de estarem conspirando e colaborando com os inimigos dos turcos. Quando todos os soldados que tivessem origem armênia foram desarmados, ficou claro que algo muito ruim estava a caminho.
De repente foi dado o sinal verde e todos os cristãos do império começaram a ser massacrados, assírios e gregos também. Porém, os armênios como tinham uma população bem maior, chamaram bem mais a atenção. Toda e qualquer pessoa que fosse acusada de ajudar um armênio, poderia ter problemas. O trabalho foi efetivamente de genocídios, com tentativa de destruição da cultura armênia. Igrejas de milhares de anos foram destruídas e os armênios morriam de fome pelas ruas, quando não eram mortos. Mulheres viraram escravas sexuais e eram vendidas como se vende gado. As que eram compradas eram tatuadas no rosto para demonstrar a quem pertenciam. Os curdos, que hoje comem o pão que Istambul amassou, supostamente contribuíram bastante para esse genocídio supostamente sob a promessa de conseguirem mais autonomia dos turcos depois disso. Porém, hoje são os curdos que sofrem bastante na mão dos turcos.
O saldo é difícil de se mensurar, mas fala-se em um milhão e meio de mortos. A Turquia até hoje não reconhece este genocídio e alega que os armênios morreram devido a hostilidades próprias da Primeira Guerra Mundial. Ao contrário do Holocausto Judeu impetrado por Hitler, o genocídio contra os armênios nunca teve o seu Nuremberg. Devido isso, até hoje as fronteiras da Armênia com a Turquia são fechadas.