Categoria: Camboja
Royal Palace, Camboja
A caminho de Siem Reap, a caminho do Angkor Wat


Siem Reap

Pol Pot, o açougueiro do Camboja. Porque bater fotos de crânios é “clichê” no país.
Pol Pot e o seu Khmer Rouge, apesar de serem vermelhos, ganharam força com a invasão estadunidense ao Vietnã. Com o a guerra do Vietnã cada dia mais se tornando mais selvagem, mais violenta e cada vez adentrando mais em território vietnamita, não sobraram muitas escolhas aos guerrilheiros vietnamitas do que a de se esconder e estabelecer bases em território de países como o Laos e o Camboja e assim atacar com mais segurança os estadunidenses. Na América do Sul tínhamos a Farc fazendo o mesmo em território sul-americano para atacar o governo democraticamente eleito da Colômbia.
E foi assim, cada vez mais Pol Pot foi aumentando o seu poder. O governo do Camboja, com o país e suas fronteiras em instabilidade, não agüentou muito tempo. Em 17 de Abril 1975 (checar) Pol Pot entra na capital do país Phnom Penh. Com a alegação de que os estadunidenses estavam a um passo de chegar em Phnom Penh e bombardear a cidade, o Khmer Rouge evacuou do dia para noite uma cidade de milhoes de habitantes. Em menos de uma semana Phnom Penh contava apenas com 20.000 pessoas.
É lógico que nenhum bombardeio americano estava por vir, afinal, era de interesse estadunidense bombardear apenas as fronteiras onde eles julgavam haver vietnamitas. O que Pol Pot fez foi apenas dar mais um passo no seu plano maligno. Depois da tomada de Phnom Penh e conseqüentemente do poder, Pol Pot estabeleceu o “ano-zero”. Uma nova era estava a nascer para o Camboja, portanto o nome “ano-zero”. Assim, Pol Pot aboliu a economia de mercado, a propriedade privada, moedas, destruiu escolas, hospitais e monumentos religiosos. Todas e quaisquer pessoas que pudessem carregar os vícios da era anterior ao ano-zero foram assassinadas impiedosamente. Médicos, professores, intelectuais e quaisquer pessoas que parecessem ser intelectuais (em vários locais vi que o fato de você possuir um par de óculos poderia lhe classificar como um intelectual) foram passados no fio da espada.
A população civil foi transferida para cooperativas onde todos deveriam viver juntos, comer juntos, trabalhar juntos e compartilhar os seus bens. Isso pode parecer bonitinho quando a gente escreve no papel, mas na prática significou a separação de famílias, cerceamento do direito de ir e vir das pessoas e, claro, fome e miséria. Mais uma vez, transformar todos em iguais pode parecer bonitinho na teoria, mas na prática Pol Pot criou dois tipos de classes, a classe das “pessoas de base” e a das “novas pessoas”.

As pessoas de base (em inglês base people) eram as provenientes das zonas rurais e que não portavam os “vícios” da sociedade urbana. Por serem pessoas com menos vícios que os da cidade, esta classe possuía certos benefícios tal qual a possibilidade de se tornar chefe de uma cooperativa. A classe das “novas pessoas” compreendia os civis transferidos das cidades, embora muitos deles fossem de zonas rurais e tenham se estabelecido nas cidades para fugir de bombardeios. Tais pessoas eram consideradas parasitas e não possuíam qualquer tipo de direito. De classe ou não, o desprezo do Khmer Rouge ficava bem claro em um de seus slogans: “Mantê-lo não há ganhos, perdê-lo não há perdas” (sim, gente, o sistema era bruto). Por várias vezes Pol Pot deixou bem claro que o novo Camboja precisaria apenas de um milhão de pessoas, ao contrário das sete milhões que ainda restavam. O regime de Pol Pot é classificado como o maior genocídio já realizado ao seu próprio povo.
Outro fator que despertava mais ódio ainda do Khmer Rouge, era que os civis provenientes das cidades pareciam não perder os vícios que carregavam. Apesar das doutrinações diárias, esses parasitas insistiam em tentar plantar algo a mais para eles (algo que não fosse arroz) e a praticar escambo.

O Khmer Rouge teve fim no ano de 1979, quando Pol Pot resolveu atacar o Vietnã. O Vietnã sempre foi visto com maus olhos por Pol Pot, já que o seu regime comunista era Maoísta, ou seja, mais próximo do regime chinês e o vietnamita era mais próximo ao comunismo soviético. No final ele acabou apanhando que nem menino. Derrota esta que custou o seu regime.
S-21 – A ESCOLA DA MORTE
Mas o que seria de um sistema comunista se não fossem as prisões para implementar o terror? O que seria de Castro sem o “paredón” ou de Stálin sem os seus “gulags”? Pois é gente, Pol Pot também era comunista, logo, Pol Pot precisava de algo para propagar o terror. Aproveitando que ninguém no novo Camboja precisava estudar mesmo, eles adaptaram várias escolas em prisões (que eles preferiam chamar de “centros de segurança”). Tive o “prazer” de visitar um dos mais famosos, o S-21.Cara, o ambiente é apavorante, bicho. Já na entrada, você dá de cara com vários caixões onde estão enterrados os corpos das últimas vítimas de Pol Pot no S-21.
Pude ver alguns documentários sobre esta prisão enquanto estive pelo Camboja. Cara, é algo terrível. Teve um documentário que vi em que eles entrevistavam antigos guardas que serviram nesta prisão. Pra começar, dos quatro ou cinco que foram entrevistados no documentário, três começaram a trabalhar por lá quando tinham apenas 14 anos. A escolha de guardas quase que na infância era feita de propósito. Quanto mais novo e mais infantil fosse o menino, mais maleável ele poderia ser e mais cruel, frio, impiedoso e leal ele poderia se tornar. Como diria uma das placas informativas na parede do museu S-21, Pol Pot transformou “os adolescentes que tinham corações puros e gentis em executores cheio de ódio capazes de matar os seus próprios parentes, amigos ou pais”.

Essa parada do “matar os seus próprios pais, parentes e amigos” não é algo só retórico não, cara. Realmente era desta maneira. Um dos momentos mais chocantes do documentário ocorre quando o produtor (ex-detento da S-21) descrevendo como era diariamente torturado, pergunta aos ex-guardas como eles poderiam ser tão cruéis com pessoas que eles nem conheciam e que podiam ser seus pais ou parentes. Eles respondiam que, antes de trabalhar por lá, foram doutrinados e havia algo que deixavam bem claro para eles:
– “O estado é seu pai, o estado lhe fornece comida, amor e abrigo. Logo, você deve amar ao estado e odiar às pessoas que lutam contra o mesmo, pois quem luta contra o estado, luta contra você”.
O produtor insistia: “- Mas várias dessas pessoas eram inocentes, como vocês poderiam não sentir pena delas?”
– Desde menino eles nos ensinaram que o Estado em si nunca realiza uma prisão por engano. Se uma pessoa está aqui foi porque ela comentou algum erro e merece pagar. Ainda que um dia algum inocente fosse preso, eles nos diziam que era melhor prender dez pessoas inocentes do que deixar uma culpada solta”.

Cara, deu pra sentir como era a parada? Bicho, é como eu falei, é de assustar mesmo.
O mais triste é que, se você observar o local de um outro ângulo sem olhar para as cercas de arame farpado, o local parece um lugar aprazível, como toda escola deve ser.
Além dos guardas havia alguns “médicos” na prisão. Mas aonde achar médicos numa cidade em que todos os médicos ou foram executados ou fugiram? Pol Pot sempre arranja uma solução. Meninas eram “treinadas” num espaço de três a cinco meses e assim poderiam exercer o seu ofício de “médicas”. Por não haver remédios, tudo o que elas sabiam fazer eram alguns curativos e uns remédios caseiros a base de açúcar e água. Ainda assim, as “médicas” só eram chamadas quando alguém ficava inconsciente depois de tanto ser torturado. O serviço das “médicas” era cuidar para que eles não morressem e assim pudessem continuar a ser torturados até o momento de confessarem.
Estas cercas de arames farpados ficavam no terceiro andar da escola. Elas serviam para prevenir que detentos desesperados tentassem se matar atirando-se do terceiro andar e assim morressem sem “confessar”.Por último eu vi a entrevista de um cara que foi torturado em S-21 também. Esse cara foi um dos que mais me marcou. Mexendo pelos arquivos que sobraram de S-21, os produtores conseguiram achar a transcrição do depoimento dele. O produtor vai e pergunta como o cidadão pode ter entregado mais de quarenta pessoas. O cara com lágrimas nos olhos, responde que no momento em que estava sendo torturado, no desespero para que tudo cessasse, decidiu “cooperar” e saiu falando o nome de todas as pessoas que vinham a sua cabeça, fossem seus vizinhos, fossem seus amigos. O produtor fica indignado e pergunta se todas as pessoas que fossem torturadas fizessem o mesmo, quantas pessoas iriam restar no Camboja. O cara simplesmente baixa a cabeça, começa a chorar e fala algo que seria muito, mas MUITO engraçado se não fosse trágico. Antes do interrogatório, na sessão inicial de torturas, eles tinham que escolher dentre quatro opções pra qual daquelas eles haviam trabalhado. Eu não lembro as quatro, mas duas eram CIA, “serviço secreto vietnamita” e uma outra, se não me engano, KGB. Agora o detalhe é que ele não sabia que diabos era nenhum dos quatros e o torturador provavelmente também nem fazia idéia (lembrar que o torturador era um adolescente). Mas depois de tanto levar porrada, ele resolveu falar que era da CIA pra ver se tudo acabava logo. Dá pra acreditar nisso?

Cara, escrevo na Polônia agora. Acabei de chegar de Auschwitz. Fiquei impressionado com a semelhança de tratamento e barbaridade entre Auschwitz e S-21. Se tem algo que os comunistas podem se orgulhar é que o comunismo criou uma zona de detenção tão cruel quanto ao da Alemanha.
Regras de conduta da S-21. Achei uma traducao pela internet: 1) Você deve responder de acordo com minhas perguntas – Não se vire/2) Não tente esconder os fatos criando pretextos para isso ou aquilo. Você está estritamente proibido em me contestar./3) Não seja tolo ou você será um capítulo que se atreve a contrariar a revolução/4) Você deve responder imediatamente minhas perguntas sem desperdiçar tempo em reflexão/5) Não me diga nada sobre suas imoralidades ou a essência da revolução/6) Se você receber chicotadas ou choques elétricos você não deve chorar/7) Não faça nada, sente-se e aguarde pelas minhas ordens. Se não existirem ordens, mantenha-se quieto. Quando eu perguntar alguma coisa para você, você deve responder imediatamente sem protestar/8 ) Não arrume pretextos sobre a ordem do Kromin Kampuchea para esconder seu segredo ou traidor/9) Se você não seguir as regras acima, você irá receber vários choques elétricos/10) Se você desobedecer qualquer ponto deste regulamento você irá receber dez chicotadas ou cinco choques elétricos.
Killing Fields
Além do S-21, pude visitar também um Killing Field (Campo da morte) próximo à cidade de Phnom Penh. Cara, teve algo de engraçado nessa história toda. Eu, saindo chocado de dentro do S-21, com todas aquelas histórias, todas aquelas caveiras, todo aquele sofrimento, tava andando e do nada vieram uma pancada de motoristas de Tuk Tuk gritando contigo: – “Ow amigo, amigo! Vamos agora ao Killing Fields? Vamo? Vamo?”

E eles vinham gritando e sorrindo. Falavam como quem fala: – “Vamos pra um restaurante agora?”. Hehehehe. Acabei indo com um deles e paguei muito barato, seis dólares, pra ir e voltar quinze quilômetros.
Lá não tinha muita informação acerca do Khmer Rouge, havia mais era covas que as pessoas estão escavando à procura de vítimas. Valeu mais pelas fotos. A única informação relevante, era a de que o campo era utilizado como local para execução dos detentos de S-21 após o momento em que eles “confessavam”. Importante citar também que as execuções eram realizadas em suas maiorias por enforcamento, afogamento ou inanição, já que, segundo os mesmos, “balas não deveriam ser desperdiçadas”

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Camboja
Monumento à independência no centro de Phnom Penh. As suas curvas são inspiradas nos monumentos em Angkor que depois vou explicar melhor o que é.
É triste você perceber, mas Pol Pot deu uma aula de como detonar o futuro de um país e de um povo em apenas cinco anos de terror. Cara, o Camboja até hoje não se recuperou dos males deixados por esse comunista facínora (“comunista facínora” é pleonasmo, é redundância). O país hoje tem uma população de 14 milhoes e, apesar de ter sido colônia francesa por algum tempo, hoje conservou a sua língua e sua cultura. Tem como capital, a cidade de Phonm Penh, cidade onde fiquei a maior parte do tempo.
Cara, é engraçado ver esses monges andando pelas ruas na capital. É muito interessante ver o contraste das cores das suas roupas com o cinza da cidade.
Perambulando por Phnom Penh
Outro fator engraçado é que a cidade parecia não ter nenhum transporte público. Se tem eu não consegui ver. Assim como o Vietnã, as avenidas são caóticas de tantas motocicletas andando de cima pra baixo e zunindo no seu ouvido. Sinal de trânsito eu devo ter visto um ou dois, mas assim como o Vietnã, o sinal parece te “sugerir” a parar já que ninguém respeita. Não cheguei a ver tantos táxis andando pela cidade também, já que devido ao grande número de motocicletas, se você quiser ir pra algum lugar é só estender a mão que uma pára do seu lado e te leva pra qualquer lugar da cidade por apenas um ou dois reais.
Pra que busão, se você pode ter essas charretes motorizadas pela cidade inteira? A gente as chama carinhosamente de “Tuk Tuks”. Mermão, é MUITO chato quando você resolve dar uma volta pela cidade. De cinco em cinco minutos pára um carrinho desses ao seu lado e fica gritando “Tuk Tuk” “Tuk Tuk” no seu ouvido pra tentar te colocar dentro! A cada dois passos que você dá vem um diferente. Heheeh
Por todos os cantos que você anda pela cidade você vê gente praticando esse esporte. O nome oficial é badminton, mas no Brasil é mais conhecido como peteca. Cara, os bichos REALMENTE curtem esse jogo no Sudeste Asiático. Uma das meninas que me hospedaram na Indonésia me falaram que antes do badminton virar esporte olímpico a Indonésia nunca tinha ganhado uma medalha em Olimpíadas (a Indonésia tem uma população maior que a do Brasil, como já disse), só pra vocês terem uma idéia de como isso é popular por lá.
Sim, essa árvore com algumas pessoas sentadas no melhor estilo “fim de tarde no interior” fica na parte central de Phnom Penh.
Sim, meu amigo, em Phnom Penh também tem shopping, rapaz!
Consegue ver essa mulher de azul? Sim, ela é uma das seguranças do shopping, mas a função principal dela é ensinar as pessoas a ANDAR DE ESCADA ROLANTE!!! Sim, brother, o nível de desenvolvimento lá é tão baixo que as pessoas precisam de ajuda pra poder usar uma escada rolante. Cê acredita nisso, meu amigo?? Hahahah. Eu quase que fui pedir informação a ela só de sacanagem e pra ver se isso é verdade mesmo!!Couch em Phnom Pehn
Cara, meu couch Phnom Pehn foi deveras engraçado. Peguei o endereço da menina e fui pra casa dela. Cheguei lá e quando fui entrando no quarto dela, a surpresa. Eu só escuto algo familiar: “Como um girassol, girassol, girassol amarelooooo…”. Cara, a mina tava escutando O Rappa! Fiquei de cara demais!
Phnom Penh tem um complexo de palácios parecido com o Royal Palace no Camboja. Eles são legaizinhos, mas os de Bangkok são muito mais loucos!!
Inicialmente pedi pra ficar na casa dela só umas três noites, mas acabei ficando mais de uma semana. Era engraçado porque ela dividia o apartamento com mais uma penca de franceses. Na verdade com mais quatro franceses, todos gente boa demais. Curti bastante essa mina, cara! Bicho era MUITO fofo ela falando português com aquele sotaquezinho francês dela. Hehehe.
Problemas no Camboja
Siem Reap







