Assim como na Coréia do Norte, em Cuba também esperava encontrar a mesma mescla de mochileiro que encontrei em Pyongyang. Parte dos mochileiros de esquerda, parte de direita e a maioria não dando a mínima para política. Porém, em Cuba foi algo totalmente diferente. Pude perceber que mochileiros como eu, que foram a Cuba apenas para conhecer o país mesmo e saber como as pessoas vivem por lá, são minoria. A maioria da galera que aparece por Cuba efetivamente são pessoas que acreditam na Revolução e em países de economia planificada, ainda que seja difícil acreditar que pessoas desse jeito existam até hoje.

Às vezes eu tava voltando de um dia de caminhada por Havana e quando perguntava a galera do albergue o que eles haviam feito eu só recebia resposta do tipo “nada, só fiquei lendo mesmo”, você olha o livro do cara e é aquele panfleto do partido comunista cubano, títulos como “a supremacia do socialismo sobre o imperialismo” e outras alucinações.

Eu virei para uma francesa que estava no grupo e falei “pô, é interessante a gente ouvir também o que falam a galera pobre de Cuba, né?”. Ela só me mandou um “arf… para mim ele é que nem aquele povo da França, que tem tudo e não para de reclamar da vida”. Tem tudo?!?!?! Meu, o cara tava reclamando que tinha que usar jornal não só para ler e a mina me falou isso!O que é mais triste é que alguns deles efetivamente parecem querer acreditar que o sistema cubano é perfeito, lindo e distributivo, apesar das evidências contrárias. No dia que a gente tava conversando com o cara no bar e ele reclamava para gente o quanto era difícil viver em Cuba, como às vezes até um litro de detergente ou um papel higiênico poderia ser um problema, o grupo inteiro ficava falando para ele “mas que nada, cara, não deve ser tão ruim assim. Você tem saúde, educação e moradia!”. E o bicho só respondia, “posso até ter moradia, mas tenho que morar com meus avós e meus pais para ter um teto”




Sabe aquelas horas que é melhor você ficar calado? Pois é, eu não tenho esse dom. Só emendei um “lógico que ele tem tudo e tão reclamando, inclusive semana que vem ele vai ter a oportunidade de fazer um mochilão na França e no Brasil que nem a gente, né?”. Lógico que ela não falou nada depois disso e na verdade não falou mais nada comigo até eu ir embora de Havana. Nem bom dia me dava.
Mais uma inimizade para coleção…












